Sinopse
“O Heroi de
Hacksaw Ridge” conta a extraordinária história verídica de Desmond Doss (Andrew
Garfield) que em Okinawa, numa das batalhas mais sangrentas da 2ª Guerra
Mundial, salva 75 pessoas sem disparar uma única arma. Ele foi o único soldado
americano que, durante a 2ª Guerra Mundial, luta na frente de batalha sem estar
armado, acreditando que apesar de a guerra ser justificada, matar continuava a
ser errado. Como médico do exército, consegue evacuar, por si só, os feridos
que tinham ficado em território inimigo, arriscando a ser abatido enquanto
tratava dos soldados caídos, sendo ferido pela explosão de uma granada e
atingido pelos tiros de snipers. Devido à sua bravura, Doss torna-se no
primeiro objector de consciência a ser condecorado com a Medalha de Honra do
Congresso Americano.
Opinião por Artur Neves
Dez anos depois da
realização de outro filme baseado em factos verídicos; “Apocalypto” em 2010,
eis que Mel Gibson nos apresenta este novo trabalho contendo o relato
autobiográfico de um herói improvável na batalha mais sangrenta da segunda guerra
mundial com o Japão entre Abril e Junho de 1945, não sendo todavia a batalha
definitiva desta guerra. O Japão viria posteriormente a capitular na sequência da
explosão das duas bombas nucleares em Hiroxima e Nagasaki, assumindo uma rendição
sem condições.
Os factos são conhecidos da
história, pelo que o valor deste filme centra-se no realismo e capacidade técnica
com que são encenados, mostrando-nos em inteligentes e bem concebidas
simulações a violência e a desumanidade de um combate sem quartel entre o poderoso
exército norte-americano e a obediência fanática de um povo que se constituiu
todo como um exército em nome de um império que só existiu na mente megalómana
do imperador que o concebeu e desejava a sua concretização a qualquer custo.
A representação da batalha
está soberba, a morte é abundante, indiscriminada e extremamente violenta como
previsivelmente terá acontecido. Todos os pormenores são considerados com
cuidado, particularmente o dos ratos que pululam por entre os cadáveres
indiferentes à paixão que move os homens naquele diferendo. A realização constrói
um ambiente de morte fétida e de desolação absolutamente credíveis, pedaços de
corpos saltam em pedaços de onde menos se espera, toda a paisagem “cheira” a
morte (ainda bem que a industria cinematográfica ainda não recriou estímulos
para o olfato pois seria impensável assistir) e caos onde um homem, modesto de
ambições, se agiganta na fidelidade das suas convicções e na loucura que as
mesmas lhe conferem e assume-se como o salvador que ele mesmo venera, embora
noutro contexto.
Desmond Doss (Andrew
Garfield) está perfeito no seu papel de objetor de consciência, mostrando na
primeira parte do filme as razões inabaláveis das suas convicções e na segunda
o altruísmo e a loucura que o movem para “salvar só mais um…” de cada vez que
volta ao campo de batalha.
Este é pois um filme de
guerra com toda a carga realista que o realizador lhe confere e que já nos habituou,
pelo que não será para todos os públicos. É todavia uma boa obra e um documento
humano da história recente que merecia esta homenagem. Bom filme, bem feito,
que recomendo.
Classificação: 8 numa escala
de 10