14 de dezembro de 2016

Opinião – “Acerto de Contas” de Gavin O’Connor


Sinopse

Christian Wolff (Affleck) é um génio matemático com mais jeito para lidar com números do que pessoas. Por detrás da sua faceta como revisor de contas numa pequena cidade, ele trabalha como contabilista freelancer para algumas das mais perigosas organizações criminosas. Assim que a Divisão Criminal do Departamento do Tesouro, dirigida por Ray King (J.K Simmons), o começa a investigar, Christian decide aceitar um cliente legítimo: uma empresa de robótica onde uma contabilista, Clerk (Anna Kendrick), descobriu uma discrepância de valores envolvendo milhões de dólares. Mas à medida que Christian encontra novas pistas nos livros e chega mais perto da verdade, o número de mortes começa a aumentar.

Opinião por Artur Neves

Mais uma vez, a somar a centenas de outras vezes, a nomeação em Portugal dos filmes estrangeiros com um nome diferente do original, provoca um desvio do foco da acção nem sempre benéfico para a história que o filme pretende contar. Este é um desses casos em que no original tem o nome de; “The Accountant” (O Contabilista) e pelo nosso mercado de exibição se chama; “Ajuste de Contas”.
No desenrolar da acção ocorre de facto um “ajuste de contas” no sentido mais lato que esta expressão possa ter, todavia a história centra-se na vida e no comportamento social de num homem, com deficiências de cognição compatíveis com sintomas de autismo, grandes perturbações emocionais e hipersensibilidade ao ruído desde a infância, agravadas pela vivencia no seio duma família desestruturada em que a mãe sai de casa e o pai, militar traumatizado com dramas sofridos na guerra do Vietname, assume a educação dos dois filhos, com particular atenção ao desenvolvimento deste, do qual o filme vai-nos mostrar o agravamento das suas tensões internas através de flashbacks que nos apresentam episódios significativos da sua inadequada educação.
É pois a história deste homem, cujo equilíbrio da sua relação social depende de sessões de autoflagelação e de diverso sofrimento autoinfligido na solidão da sua existência diária, que presta o serviço de contabilidade na qualidade de revisor de contas, utilizando a elevada capacidade da sua mente para os números, para a sua fácil memorização e operação nas mais diversas condições e contextos que o conduzem, por vezes sem intenção deliberada, a descobertas imprevistas e surpreendentes.
As coisas complicam-se quando lhe são indicadas à priori, suspeitas, cujas provas ele deve procurar. Estes elementos são-lhe fornecidos por uma mulher que tem o condão de lhe alterar a rotina e de lhe provocar em si mesmo, uma sensibilidade diferente, totalmente desconhecida até então que ele não sabe como manipular. Por outro lado a sua vida dupla, programada, meticulosa, para fazer face às suas alterações incontroladas de humor em caso de contrariedade, são postas em causa de uma maneira que ele não pode permitir e isso vai precipitar toda a acção.
Deste modo Gavin O’Connor realizador americano nascido em 1964, oferece-nos aqui um thriller bem articulado, tocando os géneros de crime e drama em que Christian Wolff (Ben Affleck) desenvolve um personagem psicótico, multifacetado, justiceiro impoluto e executor por conta própria, num argumento bem contado e muito interessante que vale a pena ver.


Classificação: 7,5 numa escala de 10

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