7 de julho de 2016

Opinião – “Victoria” de Sebastian Schipper


Sinopse


Victoria uma jovem espanhola, diverte-se na noite berlinense. Encontra quatro rapazes numa discoteca: Sonne, Boxer, Blinker e Fub. Começam a falar, Sonne e Victoria sentem-se atraídos um pelo outro, mas o flirt é interrompido pelos outros amigos. Por causa de uma dívida, acabam por arrastar Victoria para conduzir um carro roubado. O que começa como um jogo acaba por se tornar algo mais perigoso. Uma noite, um filme filmado num só plano, de cortar a respiração.

Opinião por Artur Neves

Victoria diverte-se sozinha numa discoteca em Berlim, está sem companhia, sem amigos, apenas ela e a música. Convida o barman para beber um shot com ela e este recusa por se encontrara trabalhar, bebe o shot mas a música já não a anima e abandona o local. À saída encontra Sonne que mete conversa com ela, embora sem a concordância dos outros três amigos. Eles vagueiam na rua, pelas suas atitudes e comportamentos começamos a identifica-los como marginais. Victoria adere ao convite e promove a sua própria inclusão no grupo e na deambulação sem rumo pelas ruas de Berlim. Boxer revela-se o mais agressivo, dos outros dois, um está bêbado e o outro é passivo.
É com esta “equipa” que Sebastian Schipper nos mostra de um só fôlego, o que somos, ou no que nos tornamos quando perdemos o rumo dos nossos dias e da nossa vida. Não é necessário que seja um rumo de sucesso, o que esta história brilhantemente nos prova é que todos precisamos de objectivos e que a sua ausência ou a incapacidade de os estabelecer é fatal para a nossa sobrevivência como seres úteis à sociedade que nos envolve.
Durante cerca de 130 minutos é-nos mostrada a vida de um só lado da “barricada”, os seus sonhos irrealizáveis, os seus desejos por vezes poereis, os seus planos sem sentido e sem estrutura e também a sua necessidade de pertença a algo mais para além de si próprios. Este grupo disfuncional apresenta contudo algumas regras, tais como; interdependência, apoio mútuo, companheirismo e respeito pela “química” que se vem consolidando entre Sonne e Victoria, principalmente porque esta vem-se assumindo como a consciência limpa deste grupo improvável, não descriminando e apoiando todas as necessidades e fraquezas que o abandono e a solidão provocam.
Sonne é apenas o mais lúcido do grupo, Victoria é uma pianista falhada, em função da qual, emergem todas as frustrações que justificam a sua aliança com o grupo. Boxer tem obrigações a cumprir, códigos de sobrevivência a respeitar e precisa da colaboração de todo o grupo mesmo que isso os arraste para o derradeiro final que se começa a adivinhar, após os procedimentos inconsequentes que tomam, depois de um pequeno “sucesso” circunstancial e fugaz.
Este filme é feito de câmara na mão, com planos próximos e acidentados. Planos constantemente mutáveis que podem provocar algum cansaço no seu visionamento, mas vale bem a pena, pois a história que conta e a intensidade dos personagens que mostra, valem bem este efeito “Blair Witch” atenuado. Bom espectáculo, boa história, boa representação da vivência das franjas sociais, recomendo vivamente.
Classificação: 9 numa escala de 10

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