6 de junho de 2016

Opinião – “Ensurdecedor” de Joachim Trier


Sinopse
Três anos após a sua morte inesperada, a preparação de uma exposição em homenagem á famosa fotógrafa de guerra Laura Freed reúne o marido e os filhos, pela primeira vez em anos.
Mas quando um segredo perturbador ressurge, os três homens são forçadas a olhar uns para os outros e para si mesmos sob uma nova luz.

Um retrato de sonhos, decepções e segredos familiares desenvolvido através de fragmentos não-lineares de memórias partilhadas, desafios diários e tentativas forçadas de coexistir.
Opinião por Artur Neves
Ensurdecedor (“Louder then Bombs” no original, ou; “Mais Ruidoso que Explosões de Bombas” em tradução livre) é um filme de silêncios instalados no seio de uma família de quatro pessoas. Silêncio conformado do pai, silêncio angustiado da mãe, silêncio evasivo e indeciso do filho mais velho e silêncio revoltado do filho mais novo.
Este silêncio construído durante os anos de convívio próximo, continuado durante as ausências da mãe em trabalho no exterior, bem como, nos intervalos de presença desta, com as suas dúvidas relativamente à sua justificação naquela casa e à perturbação introduzida nas rotinas diárias, nas quais ela não interfere com a sua presença naqueles períodos. Foi este caldo familiar que os separou, que os acantonou nas suas premissas e que os tornou individualmente frágeis e duvidosos quanto aos seus próprios projectos e sentido de vida.
A solução que surge para tentar amenizar a angústia dos dias, são os silêncios e com eles os segredos das frustrações sufocadas, dos temores reprimidos, da fuga para a frente, da procura obstinada do trabalho, de mais trabalho sempre, para justificar a ausência sentida nos momentos em que ela não deveria existir, até ao fim definitivo que surge no acidente de automóvel da mãe da família.
Acidente ou suicídio?... é a dúvida… ou a confirmação da suspeita intuída pela vida anterior em que todos viveram de costas voltadas para tentar esconder o vazio experienciado por cada um à sua maneira. É neste “pântano” que Joachim Trier mergulha o espectador nesta história de que também é autor, para além de condutor de actores que defendem muito bem os seus personagens.
Este é o 3º filme deste realizador Norueguês que tem subido significativamente de nível desde “Reprise” em 2006 e “Oslo – 31 de Agosto” de 2011, ambos constituídos por histórias intimistas de espíritos perturbados. Na presente história a fasquia está mais alta pois nem os motivos nem os factos estão completamente determinados deixando para o espectador o trabalho de compilar os indícios que nos são apresentados ao longo de uma narrativa feita de sombras, reflexos, meias palavras e revelações que não esperaríamos, criando o ambiente perfeito da família falhada, confrontada de supetão com os motivos da morte inesperada.
“Filho e neto de peixe” (pai sonoplasta e avô realizador de cinema) Joachim Trier é um realizador que merece a nossa atenção em futuros trabalhos considerando que neste consegue uma história plena de surpresa e tensão num ambiente deprimido e desconexo entre os seus intervenientes. Recomendo o seu visionamento, como sendo um tempo de análise de uma situação que embora fictícia, poderá existir,
Classificação: 7 numa escala de 10

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