Sinopse
George (Richard Gere) é um homem cada vez mais desesperado.
A vida parece ter passado por ele. Com ninguém a quem recorrer, ele
encontra-se à deriva nas implacáveis ruas de Nova York. Depois de esgotar todas
as hipóteses de habitação, George procura refúgio no Bellevue Hospital, o maior
centro de acolhimento de Manhattan para homens sem-abrigo. Trata-se de uma
verdadeira prova num ambiente hostil e desconcertante, repleto de almas marginalizadas.
Mas quando se torna amigo de um experiente morador do abrigo (BEN Vereen),
George recupera a esperança de reparar a relação com a sua distante filha (Jena
Malone).
VIVER À MARGEM é um tour de force para Gere, um actor conhecido por
interpretar personagens urbanas, auto confiantes. Aqui, ele encontra-se à
deriva, quase irreconhecível, em circunstâncias em que ninguém quer cair, em
que quase tudo está perdido.
Opinião por Artur Neves
A
maior solidão do homem é a solidão dele próprio.
Poderia
ser este um subtítulo para este filme que nos mostra o abandono a que chega a
vida humana quando se extinguem os objectivos, as esperanças e os fundamentos de
suporte da vida, restando somente um ser animado mas vazio, absorto nas suas
próprias deambulações mentais, último resquício da sua existência mas
penalizadora quando confrontada com a actual situação de despojamento, abandono
e completa solidão.
Orem
Movermen, realizador e autor do argumento tem-nos proporcionado recentemente (2009;
2011 e 2014) histórias fortes de sofrimento humano onde esta se insere, embora
de cariz diverso, porque focada num personagem que por inépcia, perdeu o
emprego e por decisão própria abandonou a única filha de um casamento desfeito
que não conseguiu manter. O que sobra da sua angústia é um ser devastado pela
solidão, a quem a memória prega “partidas” de uma vida que não existiu, para
compensar o falhanço da realidade com que se confronta.
Segue-se
o devaneio pelas ruas de Nova Iorque, nos bancos de jardins, vãos de escada,
caves abandonadas e finalmente o albergue Bellevue Hospital com toda a evidência
da burocracia e desumanidade que campeia nesses locais, regidos por regras que
nos parecem utópicas quando aplicadas a uma população que apenas quer dormir
como meio de esquecimento de si e repouso dos ossos do seu corpo. Todos os dias
são iguais, como iguais são as suas necessidades sempre adiadas, tal como
iguais são os artifícios desenvolvidos para as ultrapassar mas que não chegam
nem para começar a pensar em melhores dias.
Richard
Gere está bem no papel, e apresenta-nos um mendigo nostálgico da vida perdida,
absorto da realidade que o cerca, surdo para todos, até que a insistência de um
amigo de ocasião (é curioso ver neste papel Ben Vereen que nos maravilhou
noutros tempos com a sua espectacular capacidade de dançar e memoráveis
performances do showbiz) lhe instila
a vontade de procurar a redenção para a sua falta mais grave e da qual é o
único responsável. Esse pensamento aponta-lhe um sentido na errância dos seus
dias, que ele procura agarrar. Vale a pena ver, não diverte mas faz pensar e
isso é positivo.
Classificação:
5 numa escala de 10
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