4 de maio de 2016

Opinião – “Viver à Margem” de Orem Moverman


Sinopse
George (Richard Gere) é um homem cada vez mais desesperado.
A vida parece ter passado por ele. Com ninguém a quem recorrer, ele encontra-se à deriva nas implacáveis ruas de Nova York. Depois de esgotar todas as hipóteses de habitação, George procura refúgio no Bellevue Hospital, o maior centro de acolhimento de Manhattan para homens sem-abrigo. Trata-se de uma verdadeira prova num ambiente hostil e desconcertante, repleto de almas marginalizadas. Mas quando se torna amigo de um experiente morador do abrigo (BEN Vereen), George recupera a esperança de reparar a relação com a sua distante filha (Jena Malone).

VIVER À MARGEM é um tour de force para Gere, um actor conhecido por interpretar personagens urbanas, auto confiantes. Aqui, ele encontra-se à deriva, quase irreconhecível, em circunstâncias em que ninguém quer cair, em que quase tudo está perdido.

Opinião por Artur Neves
A maior solidão do homem é a solidão dele próprio.
Poderia ser este um subtítulo para este filme que nos mostra o abandono a que chega a vida humana quando se extinguem os objectivos, as esperanças e os fundamentos de suporte da vida, restando somente um ser animado mas vazio, absorto nas suas próprias deambulações mentais, último resquício da sua existência mas penalizadora quando confrontada com a actual situação de despojamento, abandono e completa solidão.
Orem Movermen, realizador e autor do argumento tem-nos proporcionado recentemente (2009; 2011 e 2014) histórias fortes de sofrimento humano onde esta se insere, embora de cariz diverso, porque focada num personagem que por inépcia, perdeu o emprego e por decisão própria abandonou a única filha de um casamento desfeito que não conseguiu manter. O que sobra da sua angústia é um ser devastado pela solidão, a quem a memória prega “partidas” de uma vida que não existiu, para compensar o falhanço da realidade com que se confronta.
Segue-se o devaneio pelas ruas de Nova Iorque, nos bancos de jardins, vãos de escada, caves abandonadas e finalmente o albergue Bellevue Hospital com toda a evidência da burocracia e desumanidade que campeia nesses locais, regidos por regras que nos parecem utópicas quando aplicadas a uma população que apenas quer dormir como meio de esquecimento de si e repouso dos ossos do seu corpo. Todos os dias são iguais, como iguais são as suas necessidades sempre adiadas, tal como iguais são os artifícios desenvolvidos para as ultrapassar mas que não chegam nem para começar a pensar em melhores dias.
Richard Gere está bem no papel, e apresenta-nos um mendigo nostálgico da vida perdida, absorto da realidade que o cerca, surdo para todos, até que a insistência de um amigo de ocasião (é curioso ver neste papel Ben Vereen que nos maravilhou noutros tempos com a sua espectacular capacidade de dançar e memoráveis performances do showbiz) lhe instila a vontade de procurar a redenção para a sua falta mais grave e da qual é o único responsável. Esse pensamento aponta-lhe um sentido na errância dos seus dias, que ele procura agarrar. Vale a pena ver, não diverte mas faz pensar e isso é positivo.
Classificação: 5 numa escala de 10

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