14 de abril de 2016

Opinião – “Axilas” de José Fonseca e Costa


Sinopse


Lázaro de Jesus é o filho adoptado de uma senhora rica de Lisboa, a quem chama Avó. É ela que o apresenta ao padrinho, um grande empresário que o toma como seu protegido, e a Angelina, a mulher com quem a Avó pretende que ele se case. Mas Lázaro tem outros interesses ocultos, o mais importante dos quais é uma fixação obsessiva pelas axilas femininas. Quando vê a violinista feminina Maria Pia a tocar, Lázaro apaixona-se de imediato e passa a viver em função dela, o que irá precipitar um final absolutamente imprevisível.

Opinião por Artur Neves

José Fonseca e Costa tem boas comédias no seu curriculum, tais como; “Viúva Rica Solteira não Fica”, “A mulher do Próximo” ou ainda; “Kilas o Mau da Fita” de uma época anterior aos primeiros, deixa-nos agora “Axilas” um filme póstumo, incompleto, que foi terminado por Paulo Milhomens.
Trata-se de uma comédia de costumes passada num tempo indistinto, por um lado manifestando princípios conservadores e austeros de uma Lisboa episodicamente existente em círculos muito fechados e por outro, nas tabernas ainda existentes nos bairros mais pobres da capital, em que os seus fregueses exibem o Xico-espertismo nacional, de modo pontual e inconsequente.
É neste ambiente que o nosso “herói” passa a vida, desde que diariamente sai de casa, pois os fartos rendimentos da Avó assim o permitem e ele utiliza a seu belo prazer sem todavia se vislumbrar um objectivo definido naquela vida errante, excepto no dia em que encontra Maria Pia e fica preso pelas suas… axilas, como elemento supremo da sua sexualidade.
A caracterização deste modo de vida e os comportamentos da personagem de Lázaro provocam-nos riso franco e frequente, tal como a figura do padre confessor da Avó, que exibe preceitos e moral, atávicos, próprios de um tempo difícil de encontrar na Lisboa actual, Todavia, a manifestação dos seus interesses mesquinhos e os artifícios utilizados para os conseguir, constituem elementos declarados de crítica para uma certa igreja estática, bafienta e imutável que o Papa Francisco veio agitar.
Neste contexto a nossa história afirma-se como uma comédia singular, cujo desfecho vem conferir uma parcela de dramatismo ao nível da tragicomédia, confirmando o seu o seu contorno circular em que até a morte nos faz rir, conferindo a Lázaro a categoria de um viajante entre mundos desconhecidos, tais como, um copo de tinto, a música erudita, e o conservadorismo religioso de uma certa nobreza quase extinta.
Classificação: 4,5 numa escala de 10

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