3 de fevereiro de 2016

Opinião: “TRUMBO” de Jay Roach


Sinopse
Nos anos 40, a carreira de sucesso do argumentista Dalton Trumbo (Bryan Cranston) chega ao fim quando ele e outras figuras de Hollywood entram na lista negra pelas suas convicções políticas. TRUMBO, (realizado por Jay Roach) conta a história da sua luta contra o governo americano e os patrões dos Estúdios, numa guerra pelas palavras e pela liberdade, que envolveu muita gente em Hollywood, tais como; Hedda Hopper (Helen Mirren), John Wayne, Kirk Douglas e o realizador Otto Preminger.

Este é um filme com um fantástico elenco onde, para além de Bryan Granston e Helen Mirren, encontramos também Diane Lane e John Goodman.

Opinião por Artur Neves
A vida de Trumbo, (Dalton Trumbo interpretado por Bryan Cranston) argumentista de Hollywood nos tempos da guerra fria entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética, é de novo motivo para nos ilustrar o que foi essa página negra da história dos USA e do “Macartismo” personificada pelo senador Joseph MacCarthy e a sua famosa “Black List” que coleccionava nomes de pessoas apelidadas genericamente de “comunistas” e como tal acusadas de inimigas do estado e do seu “way of life” tão querido a uma certa América tacanha, conservadora e retrograda, que apenas pretendia um bode expiatório que fizesse dissimular as suas práticas fraudulentas em benefício próprio como o filme reporta embora de modo breve e ligeiro.
O realizador Jay Roach pretende dar-nos uma visão desse período da história mas o que consegue é oferecer-nos um filme maniqueísta com os bons (os comunistas) de uma lado e os maus do outro, num confronto entre o “bem” e o “mal” no qual as qualidades e virtudes estão todas do lado dos primeiros e os outros corporizam o mal absoluto, representado na figura de um John Wayne como sendo pouco mais do que um rufia débil mental.
De certa maneira este filme ilustra a esquizofrenia de Hollywood em relação à época da “caça às bruxas” e procura através da desvalorização do comunismo de Trumbo uma expiação para os desmandos cometidos em nome da salvação da América e talvez por isso, remete para o fim do filme, mesmo depois dos créditos finais o discurso de Dalton Trumbo numa entrevista para a televisão, onde este declara que a história futura não encontrará naqueles tempos vilões ou heróis, santos ou demónios, mas apenas e somente, vítimas de um poder discricionário e déspota que foi muito injusto e fez sofrer muitas pessoas sem respeito pelas evidencias e condenando inocentes sem provas concretas das acusações formuladas.
A visão complacente que o realizador pretende transmitir ao público daquela época negra, é semelhante à parábola utilizada por Trumbo para explicar à filha de dez anos a essência de comunismo, como se a partilha de bens fosse apanágio da esquerda e qualquer outra tendência política, ou qualquer outra pessoa sem ideologia ou filiação partidária não pudesse ter o mesmo sentimento de equidade com os menos afortunados da vida.
Para lá destas fraquezas de narrativa o filme está bem feito, a interpretação de Bryan Cranston é convincente, o ambiente dos USA de 1947 transparece por todo o filme, Diane Lane, no papel de esposa de Trumbo corporiza bem o eixo que mantém aquela família unida em torno de um homem inteligente embora truculento, bom profissional e amante da sua profissão, tenaz, resiliente, aglutinador de outras vontades e motivador de uma luta sub-reptícia que conseguiu expor a incongruência e a injustiça contidas na “Black List”. É um filme que deve ser visto mesmo até ao fim para que não se perca o revelador discurso na entrevista do verdadeiro Dalton Trumbo.
Classificação: 6 numa escala de 10

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