12 de fevereiro de 2016

Novidades Assírio & Alvim

País Possível


País Possível é um livro de Ruy Belo de 1973 com uma indubitável unidade temática: «a do mal-estar de um homem que, ao longo da vida, tem pagado caro o preço por ter nascido em Portugal», tal como afirma o autor na sua nota introdutória. Neste livro, que a Assírio & Alvim publica a 28 de janeiro Com um prefácio de Nuno Júdice, Ruy Belo aborda Portugal como um país real, não mítico ou mitificado, ou então como um país ainda irreal, mas que depois de tornado real, tende a tornar-se impossível. Nas suas próprias palavras: «Portugal, país que só existe em pensamento».

DAS COISAS QUE COMPETEM AOS POETAS

Nas terras onde os sinos andam pelas ruas
há horas surdas sós e sem cuidados
há mar condicionado ao possível verão
e vendem- se
manhãs e mães por três ideias
Nas terras onde a música é o fogo de artifício
a camioneta curva a carga sob os plátanos
e à sombra dos lacrimejantes carros
o gato dorme a trepadeira sobe
o soba grita nunca ninguém sabe
a erva cresce e as crianças morrem
O mar aceita chão a mão do sol
Que plural deplorável o da magna agência mogno
E nas tílias há riscos dos vestidos de retintas raparigas
e o dente resistente número quarenta cheira a pepsodent

O Outro Ulisses Regressa a Casa


«Viajar é tão-só aprender / a mais devagar saber morrer.» pode ler-se neste novo livro de poesia de Luís Filipe Castro Mendes, que a Assírio & Alvim publica a 4 de fevereiro. Muito mais do que uma evocação de sentimentos, pessoas ou lugares, trata-se aqui da própria vida, daquilo que é viagem e caminho, do que nos transforma e define, do ato criador, da escrita, da poesia. Como nos diz o autor, ao longo deste livro o «leitor encontrará muitas alusões, referências e citações encapotadas, às quais não deve ligar demasiado.»
Outro Ulisses Regressa a Casa será apresentado na 17.a edição do Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, e em Lisboa, na Casa Fernando Pessoa, a 1 de março.

AO LUAR
                                  (Manet, Luar no porto de Boulogne)

Movemo-nos entre as noites e as dunas que nos cercam,
espectros de outro tempo e de outra vida;
mas aquelas mulheres juntaram-se a um canto, silenciosas,
pois esperam de nós alguma coisa
que não sabemos o que é:
uma palavra, um grito, um deslizar manso
sobre as águas, ou o mero esplendor do nosso fim
iluminado pelo mais solene dos luares?
As nuvens, sim, as indiferentes nuvens
anunciam um cruel fulgor,
que nós a tempo não saberemos ver

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