Oculta é a visão íntima e transgressora de uma sociedade pujante e
tradicionalista que confirma Héctor Abad Faciolince como um dos
maiores escritores latino-americanos dos nossos dias.
«Emergi muito devagar à superfície do lago, tentando não fazer barulho. A
minha boca aberta começou a engolir ar uma e outra vez, a toda a velocidade.
Duas, três, cinco, sete vezes. O coração ribombava-me no peito como o bombo
mais imponente de uma banda de aldeia. Ouvi vozes e insultos provenientes
da casa. Vários feixes de luz perscrutavam o lago. Voltei a mergulhar. [...] Não
via nada debaixo de água, nem que abrisse os olhos: era uma barreira viscosa,
negra, fria, que com a pressa de fugir parecia uma sopa de óleo que me untava
os braços e as pernas e me obrigava a avançar devagar, por mais que os
agitasse com todas as minhas forças.»
Assim começa um dos episódios mais dramáticos deste romance que gira em
torno de La Oculta, uma propriedade escondida nas montanhas da Colômbia.
Pilar, Eva e Antonio são os últimos herdeiros desta terra, que passou por várias
gerações da família. Aí viveram os momentos mais felizes das suas vidas, mas
também tiveram de enfrentar a violência e o terror, o desassossego e a fuga.
A partir das vozes dos três irmãos, do relato que fazem dos seus amores,
medos, desejos e esperanças, com uma paisagem deslumbrante como pano
de fundo, Héctor Abad Faciolince mostra as vicissitudes de uma família e de
uma povoação, assim como o momento em que o paraíso está a ponto de se
perder.
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