8 de janeiro de 2016

Opinião – “Mustang” de Deniz Ganze Erguven


Sinopse
Estamos no início do verão. Numa aldeia no norte da Turquia, Lale e as suas quatro irmãs terminam as aulas e divertem-se numa praia com uns colegas de escola. O seu comportamento, apesar de inocente, provoca um escândalo de consequências inesperadas.
Órfãs de pai e mãe, as cinco irmãs à guarda da avó conservadora e à mercê dos caprichos de um tio retrógrado, a casa de família transforma-se lentamente numa prisão, a escola é substituída por aulas de tarefas domésticas e de culinária e os seus casamentos começam a ser arranjados.
Movidas pelo mesmo desejo de liberdade, as cinco irmãs procuram por todos os meios contornar as regras que lhe são impostas.

“Mustang”, como os cavalos selvagens, retrata assim a adolescência bela e indomável destas cinco heroínas.

Opinião por Artur Neves
Numa aldeia da Turquia rural, a muitos quilómetros da Istambul moderna e da civilização tal como a conhecemos a natureza sobrepõe-se à tradição e irrompe no corpo de cinco adolescentes jovens que despertam, cada uma a seu tempo, para a sua sexualidade e para os seus anseios naturais de mulheres.
A mácula daquele impulso só existe na mente tradicional, retrograda e impura dos familiares, a avó e um tio, que as mantêm retidas e reféns do convencionalismo atávico que os subjuga e que eles pretendem fazer prevalecer sobre a indomável liberdade dos espíritos livres em desenvolvimento.
Lale, Nur, Ece, Selma e Sonay, por ordem crescente de idades, são apenas jovens que não têm quem as conduza segundo a justeza dos seus impulsos emergentes e as guiem até à moderação e controlo dos seus comportamentos. Ao seu redor apenas existe sujeição, censura, prisão e conformismo a procedimentos instituídos através dos tempos e que actualmente só fazem sentido para quem os aceita sem questionar as suas razões perdidas no tempo e na cultura ancestral.
O realizador Deniz Erguven, consegue recriar o ambiente denso, vivido num lar rural tradicional, fazendo-nos sentir o peso dessa tradição em cenas de violência moral, violência por palavras e actos que incomodam só de serem vistos e nos fazem extrapolar para os sentimentos de repulsa e recusa íntima de quem os sofre na pele.
É na forma de proceder dos eventos marcantes da vida que reside o absurdo, tal como, no pedido de namoro pelos pais do pretendente absolutamente desconhecido, do fingimento de “reserva” que a futura noiva tem de exibir apesar de o namoro ter sido arranjado contra a sua vontade e da noite de núpcias, em que o acto da consumação do desfloramento tem de ser demonstrado com provas efectivas.
Apenas a existência submissa e contemplativa e a subsistência essencial do corpo humano são permitidos sem censura e isso é contrário ao despertar de uma jovem, que tal como um cavalo selvagem, um “Mustang”, precisa de espaço e de liberdade para se afirmar saudavelmente.
Um filme extraordinário, bem concebido, bem realizado e interpretado, transmitindo uma mensagem de resistência e de confiança em si, para todos aqueles que duvidem das suas capacidades para atingir os seus justos objectivos e uma caricatura de um país que se quer afirmar ao mundo como evoluído. A ver sem reservas.
Classificação; 8 numa escala de 10

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