Sinopse
Estamos
no início do verão. Numa aldeia no norte da Turquia, Lale e as suas quatro
irmãs terminam as aulas e divertem-se numa praia com uns colegas de escola. O
seu comportamento, apesar de inocente, provoca um escândalo de consequências inesperadas.
Órfãs
de pai e mãe, as cinco irmãs à guarda da avó conservadora e à mercê dos
caprichos de um tio retrógrado, a casa de família transforma-se lentamente numa
prisão, a escola é substituída por aulas de tarefas domésticas e de culinária e
os seus casamentos começam a ser arranjados.
Movidas
pelo mesmo desejo de liberdade, as cinco irmãs procuram por todos os meios
contornar as regras que lhe são impostas.
“Mustang”,
como os cavalos selvagens, retrata assim a adolescência bela e indomável destas
cinco heroínas.
Opinião por Artur Neves
Numa
aldeia da Turquia rural, a muitos quilómetros da Istambul moderna e da
civilização tal como a conhecemos a natureza sobrepõe-se à tradição e irrompe
no corpo de cinco adolescentes jovens que despertam, cada uma a seu tempo, para
a sua sexualidade e para os seus anseios naturais de mulheres.
A
mácula daquele impulso só existe na mente tradicional, retrograda e impura dos
familiares, a avó e um tio, que as mantêm retidas e reféns do convencionalismo
atávico que os subjuga e que eles pretendem fazer prevalecer sobre a indomável
liberdade dos espíritos livres em desenvolvimento.
Lale,
Nur, Ece, Selma e Sonay, por ordem crescente de idades, são apenas jovens que
não têm quem as conduza segundo a justeza dos seus impulsos emergentes e as
guiem até à moderação e controlo dos seus comportamentos. Ao seu redor apenas
existe sujeição, censura, prisão e conformismo a procedimentos instituídos
através dos tempos e que actualmente só fazem sentido para quem os aceita sem
questionar as suas razões perdidas no tempo e na cultura ancestral.
O
realizador Deniz Erguven, consegue recriar o ambiente denso, vivido num lar
rural tradicional, fazendo-nos sentir o peso dessa tradição em cenas de
violência moral, violência por palavras e actos que incomodam só de serem vistos
e nos fazem extrapolar para os sentimentos de repulsa e recusa íntima de quem
os sofre na pele.
É
na forma de proceder dos eventos marcantes da vida que reside o absurdo, tal como,
no pedido de namoro pelos pais do pretendente absolutamente desconhecido, do
fingimento de “reserva” que a futura noiva tem de exibir apesar de o namoro ter
sido arranjado contra a sua vontade e da noite de núpcias, em que o acto da
consumação do desfloramento tem de ser demonstrado com provas efectivas.
Apenas
a existência submissa e contemplativa e a subsistência essencial do corpo
humano são permitidos sem censura e isso é contrário ao despertar de uma jovem,
que tal como um cavalo selvagem, um “Mustang”, precisa de espaço e de liberdade
para se afirmar saudavelmente.
Um
filme extraordinário, bem concebido, bem realizado e interpretado, transmitindo
uma mensagem de resistência e de confiança em si, para todos aqueles que duvidem
das suas capacidades para atingir os seus justos objectivos e uma caricatura de
um país que se quer afirmar ao mundo como evoluído. A ver sem reservas.
Classificação;
8 numa escala de 10
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