29 de dezembro de 2015

Opinião - Verdade e Consequência - Michael Palin




Título: Verdade e Consequência
Autor: Michael Palin
Editor: Editorial Bizâncio

Sinopse:
Keith Mabbut era escritor. Disso estava absolutamente certo.

Embora tivesse construído uma carreira baseada na palavra escrita, chegara aos cinquenta e seis anos sem nada que se assemelhasse ao sucesso dos seus grandes heróis literários. Consolidara a opinião de que o melhor da sua obra ainda estava para vir. E, da forma que ele menos esperava, assim foi...

Quando uma proposta de trabalho inesperada – escrever a biografia de Hamish Melville, um activista herói de causas humanitárias – o leva à Índia, Keith começa a questionar-se sobre o que é a verdade e em quem pode de facto confiar.

Opinião por João Eduardo Pires:
Verdade e Consequência” é escrito por um dos famosos membros da série de comédia Monty Python, Michael Palin. Depois dos Monty Python, Michael Palin participou em diversos filmes, como “Um peixe chamado Wanda” filme no qual foi premiado devido à sua personagem Ken, o bandido gago.

A partir da década de noventa destacou-se como apresentador de programas sobre viagens, com os quais deu diversas voltas ao mundo, desde o Polo Norte ao Polo Sul, ou do deserto do Sahara aos Himalaias. Foi com as suas viagens que Palin iniciou a escrita, escrevendo livros de viagens, o que o levou mais tarde a começar a escrever ficção.

Quem procura neste livro o humor non-sense do tempo dos Monty Python não o encontrará, embora seja um livro com uma perspectiva positiva da vida. No entanto é notória a influência das suas viagens na descrição dos locais remotos que a personagem Keith Mabbut visita. Mas já lá vamos…

A narrativa começa com uma descrição do personagem principal Keith Mabbut um jornalista especializado em assuntos ambientais que não se sente realizado na vida. Com 56 anos, separado da sua mulher Krystyna, que pretende o divórcio para assumir a sua relação com um influente deputado do parlamento. Keith continua a amar a mulher, e não aceita a situação. Os seus filhos são já adultos e têm uma relação distante com o seu pai, que devido ao seu trabalho é obrigado a estar afastado da família durante longas temporadas.

Mas é sobretudo no seu trabalho que se sente miserável. Enquanto jovem, ganhou um prémio jornalístico com um “furo” sobre uma empresa responsável por poluir um rio causando a morte a várias pessoas. No entanto desde essa altura a sua carreira foi decaindo, prestando-se a trabalhos de encomenda, quer como “ghost writer” quer como escrevendo livros comissionados pelas empresas multinacionais que combatia enquanto jovem. No inicio encontramos Keith na remota ilha das Shetland, onde está a terminar de escrever um livro comemorativo do 30º aniversário da plataforma petrolífera Sullom Voe, encomendado pela dona NorthOil.

Inesperadamente é lhe proposta por parte de um CEO “yuppie” de uma grande editora, a oportunidade da sua vida, tentar encontrar e entrevistar Hamish Melville, um famoso activista que luta por causas ecológicas, defensor das tribos nativas exploradas pelas grandes multinacionais. O objectivo será escrever a biografia deste herói dos nossos dias. O paradeiro de Melville é incerto, alem de recusar entrevistas, encontra-se sempre em partes remotas do mundo, tanto se diz que está na Amazónia como nas florestas da Índia.

De início Keith desconfia desta proposta, porquê o escolherem, e fazerem uma oferta milionária? Mas Keith vê neste projecto a solução de vários problemas: resolver os seus problemas financeiros, realizar a obra-prima na sua área preferida, a ecologia, ganhar prestígio, e talvez até recuperar a sua mulher e a sua família.

Na segunda parte do livro, Keith inicia a busca do activista recluso por regiões remotas da Índia. Esta procura faz lembrar a busca de Kurtz no “Coração nas Trevas” de Joseph Conrad, ou a história real do jornalista Stanley em busca do explorador Henry Livingstone, perdido nos confins de África. As descrições de Palin dos sítios visitados por Keith fazem-nos aperceber do conhecimento de facto que o autor tem destas regiões, resultante dos seus programas de viagem.

E finalmente chegamos ao terço final do livro, que se concentra na escrita da biografia de Hamish Melville. Podemos dizer que é esta parte que dá o título ao livro, Verdade e Consequência” (“The Truth”, no original). Keith terá que enfrentar a descoberta de várias “verdades” que poderão por em causa o projecto e a sua relação familiar, e que terão as suas consequências.

O livro aborda vários temas: a integridade pessoal num contexto profissional, a crise da meia idade e o sentimento de realização, o negócio do mundo editorial, a predação dos ecossistemas pelas grandes multinacionais cujo único objectivo é o lucro, a procura de líderes e modelos que nos guiem e que nos permitam sonhar que um mundo melhor é possível.

Em conclusão é um livro que prende a leitura e lê-se com facilidade, com algumas surpresas. A trama está preparada de forma inteligente e as personagens estão bem construídas. Apesar de ter uma mensagem positiva, é um pouco melancólico (sobretudo vindo de um dos mais famosos cómicos de sempre). Não sendo uma obra-prima, recomendo a sua leitura.

Classificação: 3,5 pontos numa escala de 5.

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