29 de novembro de 2015

Opinião - “Senna” de Asif Kapadia


Sinopse: 
 Junho de 1984, GP do Mónaco de Fórmula 1. Seis actuais ou futuros campeões mundiais estavam na pista, mas as atenções ficaram voltadas para um jovem que partira em 13º lugar e estava apenas na sua sexta corrida. Ultrapassando um a um, ele alcançou seu primeiro pódio e apenas não venceu devido a uma questão técnica. O seu nome era Ayrton Senna. A trajectória do tricampeão mundial, contada desde a ascensão no automobilismo até à sua morte em pleno GP de San Marino, em 1994, passando pela rivalidade com Alain Prost e os problemas enfrentados nos bastidores da Fórmula 1. 

Opinião por Marta Nogueira
"Quando morreu, eu disse que senti que uma parte de mim também tiunha morrido, porque as nossas carreiras tinham estado tão interligadas. E senti mesmo isso, mas sei que certas pessoas julgam que eu não fui sincero. Bom, tudo o que posso é tentar ser o mais honesto possível."
Alain Prost 

Há quem não goste de Ayrton Senna. Para muitos, ele era louco e imprudente, sem medo, sim, sem limites, sim, mas também imaturo, sem olhar a meios para atingir a vitória e quase naïve na forma como conduzia e como conduzia a sua vida dentro dos autódromos. Para muitos pode não ter sido, como pensa o grande Niki Lauda, o melhor piloto de todos os tempos. Foi, de certeza, o mais apaixonado de todos. Porém, a paixão, como todos sabemos, pode ferir irremediavelmente.
Assim foi quando o vimos imóvel, a cabeça tombada para um lado, enfiado no cockpit do seu Williams que acabara de embater a 218 quilómetros por hora numa barreira de cimento.
Aconteceu. É claro que a teoria mais defendida hoje em dia é a de que havia um grave problema com o carro e que Ayrton não conseguiu controlar a máquina, ele que as conhecia como mais ninguém. Com ou sem avaria mecânica, não importa, Ayrton morreu onde "deveria" ter morrido, porque conduziu o seu destino até àquele momento no tempo e no espaço. Se lhe perguntássemos onde gostaria de terminar os seus dias, talvez tivesse respondido na pista, a voar dentro de um Fórmula 1.
Essa, a Fórmula 1, acabou para muitos, quando Ayrton morreu. E quando Prost se reformou. E quando Mansel abandonou. E quando Shumacher começou o seu reinado frio e calculista. E quando a segurança, depois do que aconteceu naquele fatídico Grande Prémio de San Marino, foi reforçada num dos desportos mais perigosos do mundo, retirando-lhe grande parte da emoção que nos tinha oferecido durante décadas.
Porque não eram as máquinas que nos moviam. Eram as emoções das pessoas que as conduziam. A rivalidade mítica entre os dois melhores pilotos do mundo naquela época alimentava todos os Domingos uma multidão ávida. Prost e Senna, dois lados de uma mesma moeda, digladiavam-se todas as semanas nos circuitos mundiais a velocidades incríveis, mantendo-nos colados ao écran. Um, jovem, apaixonado, rápido e sedento de vitórias, o outro, maduro, experiente, racional, contido, jogador dentro e fora da pista. Duas formas de pensar e de agir totalmente opostas, ambas puras e viscerais. Recordo outras palavras do mesmo Niki Lauda, que se ajustam na perfeição a estes dois senhores: "Há pilotos puramente egoístas, como foi o meu caso, que só pensam em ser o melhor do Mundo, e há pilotos que fazem política para fortalecer a sua posição na equipa."
O documentário sobre a carreira de Ayrton Senna transporta-nos de regresso a essa década gloriosa da Fórmula 1 e reaviva todas as emoções adormecidas na nossa memória e que descobrimos estarem ainda muito presentes. Porque "Senna" não é apenas sobre Senna. É também sobre "o tempo de Senna". E é sobre a nemesis de Senna - Prost. É sobre a melhor época da Fórmula 1 e sobre uma parte das nossas próprias vidas, os que estávamos lá a assistir a tudo. E é sobre dois homens que se respeitavam profundamente e se admiravam secretamente.
Há quem não goste de Ayrton Senna. Mas a Fórmula 1 nunca mais foi a mesma sem ele. Senna pode não ter sido o melhor piloto do mundo, mas foi sem sombra de dúvida o mais apaixonado de todos. E Senna nunca teria sido Aquele Senna se Prost não existisse.

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