Sinopse:
Chris Taylor é um jovem e ingénuo americano que decide alistar-se como voluntário para combater na guerra do Vietnam. Chris pertence a um pelotão comandado pelo sargento Grodin, um homem conhecedor e humanitário, e pelo arrrogante e sanguinário sargento Barnes. Durante um ataque a uma aldeia, o sargento Barnes dá ordens para atirar sobre mulheres e crianças, dando origem a um choque entre as duas patentes e pondo em risco a unidade do grupo. A guerra continua e Chris, afectado pelo caos e pelo ódio, percebe que terá de sobreviver não só ao conflito com o inimigo mas também à luta entre os homens do seu pelotão.
Opinião por Marta Nogueira:
“Rejoice
O young man in thy youth ...” - Eclesiastes
Platoon é a história de uma guerra, entre duas nações, mas também, e sobretudo, entre 2 homens de uma mesma nação. O Vietname reside como pano de fundo estrutural e simbólico de uma guerra ainda mais violenta, a que é travada entre fantasmas interiores, e é precisamente aí que reside toda a mestria de Stone. O realizador tomou dois homens, o Sargento Elias e o Sargento Barnes e transformou o que poderia ter sido apenas mais um filme sobre um dos conflitos bélicos mais cinematizados, num épico intemporal de contornos trágicos e eternos que perdura na memória de todos os que a ele assistiram, mesmo que disso não se apercebam conscientemente.
Platoon é a história de uma guerra, entre duas nações, mas também, e sobretudo, entre 2 homens de uma mesma nação. O Vietname reside como pano de fundo estrutural e simbólico de uma guerra ainda mais violenta, a que é travada entre fantasmas interiores, e é precisamente aí que reside toda a mestria de Stone. O realizador tomou dois homens, o Sargento Elias e o Sargento Barnes e transformou o que poderia ter sido apenas mais um filme sobre um dos conflitos bélicos mais cinematizados, num épico intemporal de contornos trágicos e eternos que perdura na memória de todos os que a ele assistiram, mesmo que disso não se apercebam conscientemente.
A mestria começa no casting,
invertido. A Willem Dafoe, o actor de rosto diabólico habituado a interpretar
papéis desconcertantes e negros, coube o cruzado Elias, o deus imaculado de
princípios elevados. A Tom Berenger, o actor de rosto bondoso, o good old
american boy habituado a interpretar heróis, coube Barnes, o deus corrompido e
negro.
É fácil gostar de Elias. Porque
ajuda os novatos acabados de chegar, enquanto Barnes não tem paciência para os
aturar. Porque defende os aldeãos nativos, enquanto Barnes revela uma
desumanidade extremada ao matar uma anciã vietnamita com um tiro na cabeça,
apenas porque ela não parava de berrar. Porque partilha com os soldados rasos a
droga amortecedora, enquanto Barnes nem toca nela. É sobretudo fácil gostar
dele quando Barnes o atinge a sangue frio e o abandona no meio da selva para
ser chacinado pelos vietcongs, numa das cenas mais arrebatadoras e
iconográficas do filme. Muito fácil.
Não é fácil gostar do
antipático, bruto, fechado, enraivecido e feroz Barnes que, como um touro
espumando, atravessa o filme atentando contra tudo e todos. Não é nada fácil
gostar de Barnes. Mas a verdade é que acabamos por gostar dele, talvez mais até
do que do santo Elias. Mérito de Oliver Stone e sobretudo de Tom Berenger, que
carrega heroicamente o seu Sargento através do inferno até aos nossos corações.
Como o próprio diz: “Eu não
preciso de fumar isto para fugir à realidade. Eu sou a realidade.”
E é disso que este filme trata.
Do confronto entre a realidade nua e crua e absurda da guerra que nunca tem
sentido nenhum, e o idealismo puro e teimoso e absurdo dos princípios morais.
Entre um homem que, de tanto “levar”, ultrapassou todas as barreiras com o seu
corpo cicatrizado e a sua mente desumanizada e um outro homem que, apesar de tanto
ter “levado”, mantém os seus valores intactos.
No meio destes dois deuses da
guerra que se digladiam nas profundezas da selva vietnamita, está o soldado
Chris Taylor (uma piscadela de olho de Stone ao outro grande épico do Vietname
da década anterior – o actor que o interpreta, Charlie Sheen, é filho de Martin
Sheen, o protagonista dessa outra tragédia grega que é Apocalipse Now). Taylor,
o voluntário escarnecido pelos companheiros que não tiveram escolha, vê-se
lançado para o epicentro de uma batalha terrível, onde não haverá vencedores
nem vencidos e de onde ele próprio sairá renascido como uma fénix, das chamas e
das cinzas dos restos desses dois deuses que trilham um caminho tenebroso em
direcção da auto-destruição inevitável.
Como diz Rhah a Taylor: “O que
é que vais fazer? Matá-lo? O Barnes já foi ferido sete vezes e não morreu.
Porque não se decidiu a morrer. A única coisa que pode matar Barnes é o próprio
Barnes.” O que acaba por suceder. Chris obedece à ordem do condenado Sargento,
e transforma-se, ele próprio, no seu carrasco, no seu fantasma interior.
No final ouvimos a sua voz,
enquanto sobrevoa de helicóptero o inferno dantesco: “Penso agora, que não
combatemos o inimigo, mas a nós mesmos. O inimigo estava em nós. A guerra
acabou para mim, mas permanecerá sempre comigo, o resto dos meus dias. Como
tenho a certeza que Elias permanecerá, lutando com Barnes por aquilo que Rhah
chamou ‘possessão da minha alma’. Houve alturas desde então que me senti como
uma criança, nascida daqueles dois pais.”
Platoon continua a ser um filme
impressionante, de uma simplicidade desprovida de subterfúgios ou meandros
estilísticos, angustiante e comovedora. Tom Berenger tem a interpretação da sua
vida, de uma crueza e honestidade despojadas de artifícios, arrebatadora. E no
fim, é com ele que nos identificamos mais. Porque ele é, de facto, a realidade.
Cinzenta, grosseira, com a força de um soco no estômago e a angústia de um deus
contrariado, ferido, afinal, humanizado.
Barnes é a Guerra. Ele é o
Vietname.
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