Sinopse
Baseado no romance
best-seller de Rosalie Ham, “A Modista” é a história da femme fatale Tolly Dunnage ao retornar à sua pequena cidade natal
para corrigir os erros do passado. Um drama elegante, com tons divertidos sobre
amor, vingança e alta-costura. Escrito por Sue Maslin
Opinião por: Artur Neves
A acção passa-se em 1951,
numa aldeia rural Australiana esquecida por Deus, onde chega a grande diva da
alta-costura à procura de vingança e de redenção dos males do passado, que
iremos descobrir, nem são tão graves assim e decorrem da maledicência,
ignorância, e tacanhez daquela população e do seu isolamento.
São pessoas simples,
habitando um microcosmo de vícios denunciados e virtudes escondidas, é um lugar
de convenções dogmáticas, para sempre admitidas sem discussão nem debate, que “a
modista” vem perturbar regressada da grande cidade, onde cresceu, se fez mulher
e sofreu.
O ambiente da vida no
povoado é denso, sórdido, fértil em verdades falsas e segredos mantidos e está bem
caracterizado pelos personagens estereotipados que lá habitam. Estão lá todos;
a menina casadoira com a sua mãe publicitária, o mancebo com a sua mãe
dominadora, a autoridade representada por um personagem transformista que
evidencia uma homossexualidade latente, o adúltero profissional, com
particulares tiques de linguagem e que aproveita e mantém a fraqueza mental e
física da mulher, para a violar durante o sono numa cena que ilustra o grotesco
das relações humanas, o farmacêutico convencido e opinioso sobre todas as
maleitas dos fregueses, evidenciando displicência no seu juízo. As vizinhas,
ora inimigas ora cúmplices, a professora autoritária, todos formando o universo
de ligações onde se tece a estória que nos vai sendo apresentada.
É também um filme de
pormenores que acentuam o perfil particular de cada um dos habitantes. Repare-se
nos rostos quase sempre fechados, nos dentes deformados dos personagens,
característicos de uma época em que a saúde oral não era uma preocupação, os
trajes, rurais no início e exuberantes depois de concebidos pela mão da figura principal.
O guarda-roupa é aliás um dos elementos fundamentais do filme na sua função
transformadora do aspecto e da personalidade das personagens, que só
externamente se altera mostrando que em certas situações é mesmo; “o hábito que
faz o monge”, contrariando o sentido tradicional do adágio.
O argumento está bem
concebido, revelando ao espectador o que ele tem de saber a tempo certo, o
ambiente social rústico da aldeia que suporta uma generalizada moral vitoriana,
está bem concebido e é consistente. Todos são contra ou a favor de alguém
durante o tempo em que esse sentido for maioritário, mas tudo se altera sem
razão definida como numa multidão entregue a si própria. O filme apresenta
ainda momentos risíveis que, na minha opinião, são amargos e reflexivos da
pobreza de espírito que campeia na aldeia.
Um bom filme, bem feito, sem
deixar pontas soltas e com um final surpreendente. A ver.
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