15 de maio de 2015

Opinião - Sonetos - Florbela Espanca


Título: Sonetos
Autora: Florbela Espanca
Editora: Porto Editora

Sinopse:
Escritos nas primeiras décadas do século XX, os sonetos de Florbela são a expressão poética da paixão sensual e da confissão feminina. Simultaneamente pujante e frágil, a poetisa revela, por vezes de forma egocêntrica e narcisista, uma feminilidade intranquila e insatisfeita, imersa na Dor e no Amor. Influenciada por poetas como António Nobre ou Antero de Quental, Florbela revelou-se pouco permeável aos grupos e movimentos literários da época e construiu uma estética própria, pautada por um discurso poético veemente, descomplexado e livre de construções sociais.

Opinião por Helena Bracieira:
Este pequeno grande livro de sonetos de Florbela Espanca deu-me uma visão mais aprofundada da poetisa que já conhecia dos estudos académicos.
Apelidada de mulher-poeta, Florbela é o exemplo de como era difícil para as mulheres tomarem as rédeas da sua própria vida e como eram, tantas vezes, diminuídas e desvalorizadas perante uma sociedade em que os homens podiam e mandavam. Ela foi a excepção e a sua escrita, triste e melancólica, transmite-nos o seu sofrimento por procurar o amor num meio que a considerava leviana e promiscua exactamente por essa busca incessante.
Aquilo que mais me agradou nesta leitura foi a expressão de sentimentos de um eu lírico feminino. Apesar de ter tido contacto com outra poetisa, Sophia de Mello Breyner Andresen, Florbela aborda as suas emoções e anseios de uma forma muito mais explícita, erotizada e sedutora. Simultaneamente, deparamo-nos com a angústia de alcançar um amor infinito, profundo e, por isso mesmo, inalcançável: "A mesma angústia funda, sem remédio, / Andando atrás de mim, sem me largar!».
Poetisa de referência e contemporânea de Fernando Pessoa, Florbela teve um fim trágico, catalizado por uma insaciedade sentimental, o facto de não poder ter filhos e a morte de seu irmão, Apeles Espanca, ao qual era imensamente devota.
Assim, após três casamentos fracassados e uma reputação mais do que maculada, acabou por ceder e se suicidar no dia do seu 36.º aniversário, deixando uma obra que espelha toda a sua conflitualidade interna.

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