Título: A Filha do Barão
Autora: Célia Correia Loureiro
Editora: Marcador
Quando D. João tece a união da
sua única filha, Mariana de Albuquerque, com o seu melhor amigo - um inglês que
investiga o potencial comercial do vinho do Porto -, não prevê a espiral de
desenganos e provações que causará a todos.
Mariana tem catorze anos e Daniel
Turner vive atormentado pela sua responsabilidade para com a amante. Como se
não bastasse, o exército francês está ao virar da esquina, pronto a tomar o
Porto e, a partir daí, todo o país.
No seu retiro nos socalcos do
Douro, Mariana recomeça uma vida de alegrias e liberdade até que um soldado
francês, um jovem arrastado para um conflito que desdenha, lhe bate à porta em
busca de asilo.
Daniel está longe, a combater os
franceses, e Gustave está logo ali, com os seus ideais de igualdade e o seu
afecto inabalável, disposto a mostrar-lhe que a vida é bem mais do que um leque
de obrigações.
Opinião por Helena Isabel Braciera:
Este foi um livro que ganhei. Provavelmente
não me chegaria às mãos de outra forma, quer por uma questão de gosto - o
título/capa/sinopse levar-me-iam a pensar que seria mais dado ao romantismo do
que à concretização histórica (e em termos de romances, que me lembro, só
costumo ler os de Joanne Harris, enquanto assumido guilty pleasure)-, quer
por questões monetárias - talvez o conseguisse por troca, nunca se sabe. Foi
neste contexto que, após avistar várias opiniões positivas, lhe dei prioridade
enquanto uma das minhas próximas leituras.
Deparei-me, desde logo, com uma
escrita fluída, agradável, sem cair em simplismos. Além disso, é notório o
conhecimento da nossa História, o qual eu louvo. Estive longe de encontrar uma
torrente de dados históricos enfadonhos, que quebrassem o ritmo da leitura.
*spoiler*
[O que mais gostei foi, sem dúvida, a evolução de D. Sofia - a causa da sua personalidade intratável, a revelação da dignidade que manteve face à humilhação a que foi sujeita, a rendição com a experiência maternal; a perspectiva dos soldados na guerra, representados por Daniel, Gustave e Olek, peões num mero jogo entre grandes potências, arrastados para o turbilhão por meras circunstâncias, perspectiva essa extremamente humana e tocante; a demonstração do esbatimento que sempre se dá das fronteiras sociais provocado pela guerra - a morte a todos une; e, sobretudo, senti-me assoberbada pela catástrofe no rio Douro - uma tragédia incomensurável, da qual nem tinha conhecimento, com uma descrição vívida, realista e angustiante.
[O que mais gostei foi, sem dúvida, a evolução de D. Sofia - a causa da sua personalidade intratável, a revelação da dignidade que manteve face à humilhação a que foi sujeita, a rendição com a experiência maternal; a perspectiva dos soldados na guerra, representados por Daniel, Gustave e Olek, peões num mero jogo entre grandes potências, arrastados para o turbilhão por meras circunstâncias, perspectiva essa extremamente humana e tocante; a demonstração do esbatimento que sempre se dá das fronteiras sociais provocado pela guerra - a morte a todos une; e, sobretudo, senti-me assoberbada pela catástrofe no rio Douro - uma tragédia incomensurável, da qual nem tinha conhecimento, com uma descrição vívida, realista e angustiante.
Enquanto ponto negativo, ficou-me
a impulsividade e ingenuidade de Mariana, que, apesar da sua inteligência, teve
um conjunto de atitudes a roçar o irracional, criando-me sentimentos ambíguos e
nem sempre me fazendo sentir a empatia devida a uma protagonista. Igualmente,
tantas ocorrências censuráveis à época numa mesma família (primeiro
Albuquerque, depois Albuquerque e Turner): um casamento escondido e outro
forçado, intimidades sem freio, filhos bastardos, traições perdoadas, mortes
trágicas, entre outras, - levaram-me a certa altura a questionar: mas não
haverá mais nada que falte a acontecer a esta família? Será possível? Já a
situação final pareceu-me algo forçada: quais as probabilidades de aquilo
acontecer, logo aquando do seu regresso? Mesmo assim, dou o benefício da
dúvida.]
*end of spoiler*
No final, reconciliei-me com a
Mariana: amadureceu repentinamente e ganhou o meu respeito, deixando-me curiosa
em relação ao que se segue.
Em suma, foi uma agradável
surpresa e as minhas expectativas ficaram altíssimas para a continuação! Célia,
espero que continues a escrever, a evoluir e a superar-te!
1 comentário:
Ahhh vi esta opinião tarde, mas vi-a!
Muito obrigada pelas palavras, tão certeiras e fundamentadas a respeito do meu romance.
Espero que estejas por aí, já na linha da frente, quando sair a continuação ;)
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