17 de março de 2015

Opinião - A Filha do Barão - Célia Correia Loureiro


Título: A Filha do Barão
Autora: Célia Correia Loureiro
Editora: Marcador

Sinopse:
Quando D. João tece a união da sua única filha, Mariana de Albuquerque, com o seu melhor amigo - um inglês que investiga o potencial comercial do vinho do Porto -, não prevê a espiral de desenganos e provações que causará a todos. 

Mariana tem catorze anos e Daniel Turner vive atormentado pela sua responsabilidade para com a amante. Como se não bastasse, o exército francês está ao virar da esquina, pronto a tomar o Porto e, a partir daí, todo o país.

No seu retiro nos socalcos do Douro, Mariana recomeça uma vida de alegrias e liberdade até que um soldado francês, um jovem arrastado para um conflito que desdenha, lhe bate à porta em busca de asilo.

Daniel está longe, a combater os franceses, e Gustave está logo ali, com os seus ideais de igualdade e o seu afecto inabalável, disposto a mostrar-lhe que a vida é bem mais do que um leque de obrigações.

Opinião por Helena Isabel Braciera:
Este foi um livro que ganhei. Provavelmente não me chegaria às mãos de outra forma, quer por uma questão de gosto - o título/capa/sinopse levar-me-iam a pensar que seria mais dado ao romantismo do que à concretização histórica (e em termos de romances, que me lembro, só costumo ler os de Joanne Harris, enquanto assumido guilty pleasure)-, quer por questões monetárias - talvez o conseguisse por troca, nunca se sabe. Foi neste contexto que, após avistar várias opiniões positivas, lhe dei prioridade enquanto uma das minhas próximas leituras.
Deparei-me, desde logo, com uma escrita fluída, agradável, sem cair em simplismos. Além disso, é notório o conhecimento da nossa História, o qual eu louvo. Estive longe de encontrar uma torrente de dados históricos enfadonhos, que quebrassem o ritmo da leitura.

*spoiler*
[O que mais gostei foi, sem dúvida, a evolução de D. Sofia - a causa da sua personalidade intratável, a revelação da dignidade que manteve face à humilhação a que foi sujeita, a rendição com a experiência maternal; a perspectiva dos soldados na guerra, representados por Daniel, Gustave e Olek, peões num mero jogo entre grandes potências, arrastados para o turbilhão por meras circunstâncias, perspectiva essa extremamente humana e tocante; a demonstração do esbatimento que sempre se dá das fronteiras sociais provocado pela guerra - a morte a todos une; e, sobretudo, senti-me assoberbada pela catástrofe no rio Douro - uma tragédia incomensurável, da qual nem tinha conhecimento, com uma descrição vívida, realista e angustiante. 

Enquanto ponto negativo, ficou-me a impulsividade e ingenuidade de Mariana, que, apesar da sua inteligência, teve um conjunto de atitudes a roçar o irracional, criando-me sentimentos ambíguos e nem sempre me fazendo sentir a empatia devida a uma protagonista. Igualmente, tantas ocorrências censuráveis à época numa mesma família (primeiro Albuquerque, depois Albuquerque e Turner): um casamento escondido e outro forçado, intimidades sem freio, filhos bastardos, traições perdoadas, mortes trágicas, entre outras, - levaram-me a certa altura a questionar: mas não haverá mais nada que falte a acontecer a esta família? Será possível? Já a situação final pareceu-me algo forçada: quais as probabilidades de aquilo acontecer, logo aquando do seu regresso? Mesmo assim, dou o benefício da dúvida.]
*end of spoiler*

No final, reconciliei-me com a Mariana: amadureceu repentinamente e ganhou o meu respeito, deixando-me curiosa em relação ao que se segue.

Em suma, foi uma agradável surpresa e as minhas expectativas ficaram altíssimas para a continuação! Célia, espero que continues a escrever, a evoluir e a superar-te!

1 comentário:

Célia disse...

Ahhh vi esta opinião tarde, mas vi-a!
Muito obrigada pelas palavras, tão certeiras e fundamentadas a respeito do meu romance.
Espero que estejas por aí, já na linha da frente, quando sair a continuação ;)