Ficha Técnica:
Título Original: The Imitation Game
Título Nacional: O Jogo da Imitação
Argumento: Graham Moore
Realização: Morten Tyldum
Fotografia: Oscar Faura
Produção: Nora Grossman
Opinião por João Salvador Fernandes:
Sinopse:
Na liderança de um grupo de académicos, linguistas, campeões de xadrez e analistas, Turing foi reconhecido por quebrar o até aí indecifrável código da Enigma, a máquina utilizada pelos alemães na 2ª Guerra Mundial. Um retrato intenso e memorável de um homem brilhante e complicado, “O JOGO DA IMITAÇÃO” relata a história de um génio que sob extrema pressão ajudou a encurtar a guerra e, consequentemente, salvou milhares de vidas."
"Durante o inverno de 1952, as autoridades britânicas entraram na casa do matemático, criptoanalista e herói de guerra Alan Turing (Benedict Cumberbatch) para investigar um assalto. Em vez disso, prenderam Turing por ‘atentado ao pudor’, uma acusação que levaria à sua devastadora sentença pela ofensa criminal de homossexualidade – mal sabiam as autoridades que estavam a incriminar o pioneiro da computação moderna." Na liderança de um grupo de académicos, linguistas, campeões de xadrez e analistas, Turing foi reconhecido por quebrar o até aí indecifrável código da Enigma, a máquina utilizada pelos alemães na 2ª Guerra Mundial. Um retrato intenso e memorável de um homem brilhante e complicado, “O JOGO DA IMITAÇÃO” relata a história de um génio que sob extrema pressão ajudou a encurtar a guerra e, consequentemente, salvou milhares de vidas."
Crítica:
Alan Turing foi uma figura ímpar
pelos contributos que ofereceu ao mundo, quer no desenvolvimento da ciência da
computação e na estruturação do conceito de algoritmo, quer pela forma como
adjuvou os Aliados a vencer a Segunda Guerra Mundial. Ajuda que se notabilizou,
principalmente, com o projecto Colossus e a decifração do método de funcionamento
da máquina germânica de encriptação Enigma. Não obstante os seus indeléveis
feitos, essenciais para terminar com o maior morticínio da História da Humanidade, foi um homem que pagou por ser homossexual: orientação
sexual que, durante décadas, foi barbaramente criminalizada no Reino Unido (a
título de curiosidade, em Portugal, só deixou de o ser em 1982).
Faço esta introdução, porque
creio que pessoas deste calibre merecem ser homenageadas, divulgadas e
eternizadas em filme, ou, como diria F. Gonçalves Lavrador, em acontecimentos
semióticos perenes. Deste modo, permitimos à posteridade saber quem foram os
homens que merecem ficar na História.
O Jogo da Imitação não é, ainda assim, a primeira investida que
procura, no reino do cinema, render o justo elogio a Alan Turing; em 1996, em Breaking The Code, telefilme de Herbert
Wise, o tema já havia sido esmiuçado com grande qualidade. Porém, aqui, a dimensão
é outra: a obra está nomeada para 8 Óscares da Academia, tendo granjeado 101
nomeações para diversos prémios e vencido, até à data, 41 galardões.
Quanto à longa-metragem, esta
cumpre os seus propósitos laudatórios a Alan Turing – e, como se percebe no final,
a todos os homossexuais –; mas, dada a comoção e excitação causadas, estava à
espera de algo melhor.
Morten Tyldum (realizador)
apresenta-nos uma película interessante, dirigida com esmero técnico e recheada
dos elementos necessários para o nascimento de uma obra-mestra; apesar disso, falta-lhe
encanto e um pouco de maior realismo.
Concretizando: a personagem Alan
Turing (Benedict Cumberbatch) é irreal; e é irreal não pelo seu génio, facto comprovado,
mas sim pelas suas certezas inabaláveis, desde o princípio até à conclusão da
narrativa; ou seja, pela noção correcta e imediata do que teria de executar para lograr
no seu objectivo e, ao mesmo tempo, conquistar a concordância dos seus
companheiros. Sujeito a pressões, contrariedades técnicas e humanas, entre
outros escolhos no seu trajecto triunfante, não há um pingo de dúvida que abale Turing; aliás,
se não é melhor e mais eficaz, tal decorre da tacanhez de mente dos que não
compreendem o seu brilhantismo.
Percebo, perfeitamente, a martirização
que se faz de Turing; é um poderoso artifício dramático para retratar alguém
que, evidentemente, sofreu horrores com o silenciamento do seu trabalho e com a
castração química que lhe foi imposta (culminando em suicídio aos 42 anos de
idade). Todavia, não me aprouve a excessiva fundamentação do seu
comportamento tímido, quase autista, arrogante e mesquinho com o seu passado
escolar. Recorrendo a flashbacks,
Morten Tyldum revela-o uma vítima de bullying e do preconceito, quando nem tudo
se pode assim justificar. Tentativa que se agudiza com a maneira criativa de
minorar esses defeitos de carácter, patenteando-os em ambientes leves e com uma
envolvência ligeiramente humorística.
Por conseguinte, esta é uma fita que,
saltando entre a infância de Turing, a Segunda Guerra Mundial e os seus últimos
anos, nos oferta uma boa dose de um velado politicamente correcto.
No que diz respeito ao desempenho
dos actores, a longa-metragem conta com duas óptimas performances de Benedict Cumberbatch e
Keira Knightley (que interpreta o papel de Joan Clarke), limitadas pelo próprio
enredo e por diálogos, nalguns minguados casos, incredíveis; e, quando o afirmo,
sustento-o na sensação de serem ensaiados. Por outro lado, refiro duas óptimas
performances, porque não há espaço cénico suficiente para os outros actores, o que
é entendível num entrecho que pretende atribuir quase todo o protagonismo à
figura principal, salientando, porém, que esta não teria alcançado o cume da
montanha sem um toque feminino.
A falta de rigor histórico (como,
por exemplo, o uso anacrónico de linguagem, de líquido corrector -- quando ainda
não havia sido inventado -- ou da electrificação, em 1939, da estação de comboio
de King's Cross) não afecta a história; e os erros que alteram a realidade dos
eventos são enquadráveis na liberdade artística do realizador.
O Jogo da Imitação é tanto um relato -- parte biográfico, parte ficcional -- sobre os jogos de espionagem e dissimulação em tempo de guerra, quanto é um manifesto sobre os padecimentos físicos, emocionais e morais por que passam aqueles que são forçados a emular vidas que não são as suas. Vale a pena dele fruir, mesmo que esteja a ser sobrevalorizado.
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