19 de maio de 2011

Opinião - O Último Ritual

Título: O Último Ritual
Autor: Yrsa Sigurdardottir
Editora: Gótica

Sinopse:
Um fabuloso mistério que nos remete para os rituais e práticas de bruxaria da Islândia Medieval
Assim reza a carta que, escrita com o próprio sangue do seu filho Harald, Amélia Guntlieb recebe na Alemanha, dias depois da polícia islandesa ter encontrado o corpo do estudante na faculdade de História de Reiquiavique: um cadáver ao qual retiraram os olhos e está marcado com estranhos símbolos que deixam os investigadores forenses entre o espanto e o choque. Decepcionados com o trabalho da polícia,e desejosos de descobrir a verdade da forma mais discreta possível, os pais de Harald contratam Porá, uma advogada islandesa que ajudará Matthew, o advogado alemão e antigo polícia, enviado pela família.
Porá e Matthew iniciam uma investigação que os levará desde a moderna Reiquiavique ao Noroeste da ilha, uma zona inóspita e selvagem onde, como em muitos outros lugares da Europa, se levaram a cabo execuções de dezenas de pessoas acusadas de bruxaria.
Para desvendar este crime, que parece ter sido inspirado em rituais ancestrais, os advogados terão de explorar documentos e vestígios do nefasto período da história da Islândia da Idade das Trevas.
Um extraordinário êxito mundial, traduzido em trinta países. O Último Ritual é a estreia literária daquela que é já considerada a nova rainha do thriller da actualidade.
O Último Ritual de Yrsa Sigurdardóttir

Opinião por Vera Brandão:
Mais uma vez ingresso no fantástico mundo dos policiais nórdicos, desta feita, escolhendo um livro de autora islandesa. E a Yrsa é minha colega, é engenheira!!! Não poderia estar mais contente com esta opção para leitura!

Gostei da escrita da autora. Bastante fluída, não se prende exaustivamente a descrições, cingindo-se apenas à narrativa. Talvez este pormenor tenha sido responsável por não me sentir num ambiente rodeado por neve (como me senti quando li Stieg Larsson, Asa Larsson, Karin Fossum...). No entanto há uma exposição lógica e ordenada de ideias, que resulta num elo com o leitor, que anseia por ler mais.

Póra (e como sugerido numa nota de rodapé, lê-se Zóura, uma vez que no alfabeto islandês há uma particularidade com a letra P) é a protagonista da história. Tem 36 anos, é advogada, divorciada, mãe de dois filhos e interessa-se pela resolução do caso de homicídio de Harald Guntlieb, um jovem alemão que se encontrava na Islândia a fazer a sua tese de mestrado.

Não poderia ter escolhido ler este livro em melhor altura, visto que, como alguns de vós sabeis, estou na fase dos últimos pormenores da entrega da minha dissertação e consegui entender o que Harald sentiu nos seus últimos dias de vida, sobre a escolha do orientador, a investigação do tema...etc (foi realmente uma grande coincidência!)

Ora o livro gira em torno da investigação do crime, estruturado desde o dia 6 até 13 de Dezembro. Descobrem-se alguns pormenores algo surpreendentes em relação a Harald e relativamente ao próprio crime. Não conhecia o famigerado Malleus Maleficarum, extremamente bem retratado neste livro. Para quem desconhece, este é um manual sobre caça às bruxas, datado de 1487 e originário da Alemanha. Penso que foi interessante e trouxe algo de novo, a introdução deste tema no livro. Também são relatadas algumas conjurações sobre as bruxas, que achei interessante e até parecidas com algumas descrições no nosso livro de S. Cipriano. Algumas descrições mais gore sobre torturas e castigos ritualistas compõem o ramalhete.

Uma das vantagens em ler um livro nórdico, como venho a realçar a cada leitura que faço, é o estabelecimento de um paralelismo entre a cultura escandinava e a mediterrânica. Vim a conhecer com esta leitura, aspectos muito curiosos como por exemplo, a idade em que se atinge a maioridade na Islândia.

Gostei das personagens. O pior, como em qualquer livro escandinavo, são os nomes das personagens e dos locais. Mas achei curioso em como muitos deles terminam da mesma forma: -góttir ehehe. Outro facto curioso: Gunnar ser um nome masculino e Gunnur ser feminino, por exemplo.

Póra é sensacional, além de uma boa mãe, dedicada aos seus filhos, é também bastante profissional na forma de lidar com a resolução do caso. Talvez um pouco "naif" em relações interpessoais. Também existe alguma empatia com Matthew, o advogado alemão, mas penso que este deixa o leitor mais de pé atrás. Ainda assim achei que fizeram uma boa dupla, tiveram cenas que resultaram muitíssimo bem. Adorei as cenas hilariantes protagonizadas por Bela, a rapariga "destrambelhada" que trabalha no escritório de Póra.

Em relação ao desfecho surpreenderam-me dois aspectos: em primeiro o assassino, que sempre esteve um pouco à margem, acabou por ser imprevisível. Mas mais do que o assassino, foi a explicação do crime, que esteve sempre encoberto por um véu de aspectos simbólicos e ritualistas.

Recomendo a quem se interesse pela temática, aos curiosos do livro de S. Cipriano e até aos mais cépticos, o livro constitui um bom momento de leitura.

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