Sinopse
Deb (Glenn Close) não vê a
filha há um ano. Uma noite, tocam à campainha e Deb vê uma mulher que mal
reconhece como sendo a sua própria filha. Após um ano a dormir na rua, marcado
pelo consumo de heroína, Molly (Mila Kunis) está irreconhecível: desdentada,
esfarrapada e trémula. Molly implora a Deb que lhe dê uma última oportunidade
para a ajudar a limpar-se. Após uma década de recaídas, mentiras e
manipulações, Deb tem dificuldade em acreditar e acredita que deve "impor
limites" pelo que fecha a porta na cara de Molly. No dias que se seguem, e
perante a persistência de Molly, Deb começa a detetar vestígios da filha
determinada e empática que tinha antes de esta se entregar à droga e a
esperança começa a minar a sua determinação. Relutantemente, Deb começa a
ajudar Molly nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação antes que esta entre
num programa inovador. Serão quatros dias que porão à prova o relacionamento de
ambas. Estará Molly finalmente no caminho da desintoxicação e da recuperação da
vida que levava antes? Ou esta será apenas mais uma das suas magistrais
manipulações? Deb só poderá descobri-lo sacrificando os seus próprios limites e
indo mais longe do que alguma vez fora, numa última tentativa de salvar a
filha.
Inspirado numa história
verídica, “Four Good Days” é uma montanha-russa emocional de esperança e
co-dependência que revela os danos causados numa família, espelho de muitas
famílias nesta era de toxicodependência.
Opinião
por Artur Neves
Inspirado num artigo do Washington
Post, cujas pessoas visadas aparecem no fim do filme, esta história em que
contracenam Glenn Close no papel de Deb, a mãe desiludida e desencantada de
Molly (Mila Kunis) a filha viciada em drogas duras e praticamente perdida para
o vício, mostra-nos até que ponto uma mãe está disposta a sofrer por um filho e
a exercer comportamentos duros e severos na intenção de o salvar apesar de já
ter perdido todas as esperanças e de já ter renegado o seu amor por ela, na sequência
das mentiras e dos roubos que ela já praticou para obter dinheiro para custear
o seu deplorável vício.
Molly é viciada em heroína,
metadona, crack e todo o catálogo de drogas duras há dez anos, tendo estado em
programas de desintoxicação por 14 vezes, das quais voltou sempre ao vício, tendo
em todas elas prometido a Deb, jurado mesmo, ter sido a última vez, sem que isso
se tenha verificado. Agora, quando bate à porta de Deb é uma pessoa
desconhecida para ela, tal é o abatimento físico, a cor macilenta, as muitas
manchas no rosto e posteriormente como veremos, a ausência de dentes devido ao intenso
consumo.
Aqui destaca-se a brilhante
atuação de Mila Kunis (tal como em “Cisne Negro” de 2010) e a sua radical
transformação física, de pele emaciada, visivelmente magra, vestida com roupas
largas e desajustadas, apresentando maneirismos e tiques comportamentais que
nos convencem da sua degradação. Ela mentiu compulsivamente no passado e agora
Deb está sempre à defesa para as suas alegações, quaisquer que elas sejam mesmo
as mais inocentes, sendo curioso apreciar a maneira como os seus olhos mudam
quando ela mente de novo, a sua linguagem corporal e todos os pormenores da sua
representação dum personagem que desperta empatia sem nunca manifestar individualismo
ou ostentação. Este é aliás um filme de pormenores, também da parte de Glenn
Close embora menos notável do que o personagem desempenhado em “Hillbilly Elegy”
ainda não estreado em Portugal, que lhe deu a oitava nomeação para o Óscar em 2021,
na categoria de Melhor Ator Secundário, (todavia ainda não alcançado). Close é
a mãe que finge acreditar que a sua filha toxicodependente se quer reabilitar, embora
realmente o deseje.
Deb não é contudo uma santa
e a história do relacionamento mãe – filha conta-se entre episódios de abandono
do lar, do divórcio do pai, da sua irascibilidade frequente que embora não
justificando o comportamento Molly, ela alega que constituiu um forte
contributo para a sua situação. O realizador Rodrigo Garcia prefere apenas
mencionar os factos em vez de explora-los, tomando a história no sentido da
esperança, da reabilitação e da reconciliação, permitindo a Deb o valor do perdão
após anos de dor e deceção.
Interessante e bem
interpretado, estará disponível em sala a partir de 01 de Julho
Classificação: 6 numa escala
de 10
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