Sinopse
Quando um cineasta, Malcolm
(John David Washington) e a namorada, Marie (Zendaya) regressam ao apartamento
de luxo alugado num lugar sobranceiro à cidade, nas colinas de Hollywood, para
aguardar a crítica dos mídia sobre a
estreia ao seu mais recente filme, tensões latentes entre ambos dão lugar a revelações
dolorosas que os levam a confrontar os seus sentimentos e a estabilidade da sua
relação
Opinião
por Artur Neves
Esta história, escrita e
realizada por Sam Levinson para a Netflix que estreou na plataforma nesta sexta
feira, 5 de Fevereiro, mostra-nos em preto e branco (podia ser a cores, não
havia qualquer mal nisso) o bom desempenho de dois atores em ascensão; Zendaya (Homem
Aranha – Longe de Casa, de 2019) e John David Washington (Tenet, de 2020) numa
acalorada discussão durante algumas horas que serve para abrir feridas não
saradas da relação que mantêm há algum tempo.
A história apresentada tanto
serve para cinema como foi apresentada ou para teatro, pois a ação decorre totalmente
dentro de casa, embora em várias divisões em que cada um por si, com absoluta
cordialidade e respeito mútuo, produzem monólogos mutuamente acusatórios em que
cada um responsabiliza o outro por defeitos e consequências que inspiraram o
filme em estreia, manifestando a sua mágoa de não terem sido considerados mais
estreitamente um pelo outro.
Não se pode dizer que os monólogos
sejam mal construídos, eles destilam mágoa e comiseração e em certas falas uma amargura
mesquinha que embora constituam boas peças artísticas e bem desempenhadas,
tornam-se enfadonhos para o espectador que caiu ali sem pára quedas e não tem
mais nada além de palavras, palavras, palavras, que embora sejam muito
importantes não têm suporte visual que as justifique, que lhes dê corpo que dê
ao espectador a possibilidade de opção, ou de julgamento por uma das versões.
O filme está bem realizado,
transmite-nos segurança no conteúdo das cenas e apresenta-se envolvido numa
banda sonora recheada de soul music, onde
a versão de Duke Ellington e John Coltrane de “In a Sentimental Mood” de
Ellington, soa de modo agradável de ouvir e bastante adequada a cada situação,
criando o ambiente propício para a evolução dos dois personagens que até são
capazes de desenvolver uma química convincente entre eles através de uma
suficiente densidade dramática nas suas discussões incessantes, porém, nem tudo
é remível somente a palavras e aqui reside a sua principal fragilidade.
Podemos até questionar se Sam
Levinson não pretende enviar uma mensagem codificada aos críticos de Hollywood
sobre os preconceitos subconscientes revelados em algumas das suas atitudes, considerando
o tempo despendido por Malcolm ao insurgir-se contra uma garota branca que
escreve para o Los Angeles Times e o questionou sobre a personagem feminina do
seu filme. Ele acha que a personagem é clara e como tal destrata-a, acusando-a
de estupidez e de insuficiente capacidade para entender a história que ele
filmou.
Toda a história tem a
estrutura de um combate de boxe, ora agora bato eu, ora agora bates tu e eu
defendo-me, mas ambos os contendores apesar de se agredirem intensamente soam
como um grito no deserto, pois de seguida ensaiam uma aproximação para se
distanciarem na próxima discussão mais intensa que a anterior. "Nada de
produtivo vai ser dito esta noite", avisa Marie a Malcolm e de caminho
avisa-nos também, porque se não há nada de errado e se tudo o que for dito de
um lado pode ser respondido pelo outro, então não temos filme e foi um grande equívoco
gastar 106 minutos numa história onde apenas se salva o desempenho dos atores
para o qual vai toda a classificação a seguir indicada.
Classificação: 5 numa escala
de 10
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