7 de fevereiro de 2021

Opinião – “Malcolm & Marie” de Sam Levinson

Sinopse

Quando um cineasta, Malcolm (John David Washington) e a namorada, Marie (Zendaya) regressam ao apartamento de luxo alugado num lugar sobranceiro à cidade, nas colinas de Hollywood, para aguardar a crítica dos mídia sobre a estreia ao seu mais recente filme, tensões latentes entre ambos dão lugar a revelações dolorosas que os levam a confrontar os seus sentimentos e a estabilidade da sua relação

Opinião por Artur Neves

Esta história, escrita e realizada por Sam Levinson para a Netflix que estreou na plataforma nesta sexta feira, 5 de Fevereiro, mostra-nos em preto e branco (podia ser a cores, não havia qualquer mal nisso) o bom desempenho de dois atores em ascensão; Zendaya (Homem Aranha – Longe de Casa, de 2019) e John David Washington (Tenet, de 2020) numa acalorada discussão durante algumas horas que serve para abrir feridas não saradas da relação que mantêm há algum tempo.

A história apresentada tanto serve para cinema como foi apresentada ou para teatro, pois a ação decorre totalmente dentro de casa, embora em várias divisões em que cada um por si, com absoluta cordialidade e respeito mútuo, produzem monólogos mutuamente acusatórios em que cada um responsabiliza o outro por defeitos e consequências que inspiraram o filme em estreia, manifestando a sua mágoa de não terem sido considerados mais estreitamente um pelo outro.

Não se pode dizer que os monólogos sejam mal construídos, eles destilam mágoa e comiseração e em certas falas uma amargura mesquinha que embora constituam boas peças artísticas e bem desempenhadas, tornam-se enfadonhos para o espectador que caiu ali sem pára quedas e não tem mais nada além de palavras, palavras, palavras, que embora sejam muito importantes não têm suporte visual que as justifique, que lhes dê corpo que dê ao espectador a possibilidade de opção, ou de julgamento por uma das versões.

O filme está bem realizado, transmite-nos segurança no conteúdo das cenas e apresenta-se envolvido numa banda sonora recheada de soul music, onde a versão de Duke Ellington e John Coltrane de “In a Sentimental Mood” de Ellington, soa de modo agradável de ouvir e bastante adequada a cada situação, criando o ambiente propício para a evolução dos dois personagens que até são capazes de desenvolver uma química convincente entre eles através de uma suficiente densidade dramática nas suas discussões incessantes, porém, nem tudo é remível somente a palavras e aqui reside a sua principal fragilidade.

Podemos até questionar se Sam Levinson não pretende enviar uma mensagem codificada aos críticos de Hollywood sobre os preconceitos subconscientes revelados em algumas das suas atitudes, considerando o tempo despendido por Malcolm ao insurgir-se contra uma garota branca que escreve para o Los Angeles Times e o questionou sobre a personagem feminina do seu filme. Ele acha que a personagem é clara e como tal destrata-a, acusando-a de estupidez e de insuficiente capacidade para entender a história que ele filmou.

Toda a história tem a estrutura de um combate de boxe, ora agora bato eu, ora agora bates tu e eu defendo-me, mas ambos os contendores apesar de se agredirem intensamente soam como um grito no deserto, pois de seguida ensaiam uma aproximação para se distanciarem na próxima discussão mais intensa que a anterior. "Nada de produtivo vai ser dito esta noite", avisa Marie a Malcolm e de caminho avisa-nos também, porque se não há nada de errado e se tudo o que for dito de um lado pode ser respondido pelo outro, então não temos filme e foi um grande equívoco gastar 106 minutos numa história onde apenas se salva o desempenho dos atores para o qual vai toda a classificação a seguir indicada.

Classificação: 5 numa escala de 10

 

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