13 de outubro de 2018

Opinião – “A Mulher” de Björn Runge


Sinopse

Uma mulher questiona as suas escolhas de vida enquanto viaja com o marido para Estocolmo onde ele irá receber o Prémio Nobel de Literatura.

Opinião por Artur Neves

“The Wife” no original, conta uma história de vida contida e sofredora, auto infligida por Joan Castleman (Glenn Close) através de uma série de razões que este filme nos mostrará, baseado na novela com o mesmo nome de Meg Wolitzer, justificado por um amor imenso de Joan por Joe Castleman (Jonathan Price) seu professor de escrita e posteriormente seu marido, na altura em que este foi nomeado para a atribuição do reconhecimento de uma vida de trabalho como escritor, com o prémio Nobel.
Tanto Glenn Close como Jonathan Price estão excelentes no desempenho dos seus personagens, construindo duas figuras consistentes e credíveis, cheias de vícios e de virtudes humanas, das quais o realizador, Sueco, nascido em 1961, nos mostra a sua construção e o seu passado comum que tem como consequência aquela ligação, quase perfeita e harmónica entre dois seres, aparentemente cúmplices e conjugados no sentido da sociedade, da vida de trabalho literário e da família que constituíram e cuidaram.
Nathaniel Bone (Christian Slater) é o putativo candidato a biógrafo do laureado, que este rejeita com veemência, considerando as suas características intrusivas na vida dele e de descodificação de todo um passado e de uma vida que Joe Castleman pretende manter tal como a sociedade a vê. Nathaniel é o cínico que através do elogio e do reconhecimento expresso, pretende levantar o “tapete” e expor o “lixo” que lá foi escondido numa manobra literária de revelação que o promova e lhe confira o destaque desejado que persegue. Só que para além dessa faceta Nathaniel quer expor uma verdade escondida, enterrada nas almas de Joan e de Joe e descoberta por ele através da leitura das obras mais galardoadas.
Ao fim de tantos anos de convivência comum, Joan ainda sente amor pelo marido de uma forma contida a que ela chama de tímida, reservada, cuidadora como fora sempre o seu papel naquela ligação mas agora, após a nomeação, sente-se cansada e pergunta-se o porquê de tudo aquilo. Ajudou-o toda uma vida, cuidou da manutenção de todos e aquele prémio vem questionar-lhe o porquê desta distinção, onde ela de modo diferente (de acordo com a consciência pública) teve uma parte relevante que executou no silêncio e no anonimato dos dias e anos de coabitação. O seu filho David Castleman (Max Irons) em choque frontal com o pai, advoga instintivamente a defesa da mãe, que generosamente o compreende sem lhe manifestar apoio excessivo.
Porém tudo tem limites e no dia do prémio, na noite do jantar de comemoração com os laureados, Joan sucumbe ao seu recalcamento, ao seu silêncio sofrido, ao seu amor/ódio pelo marido, ao seu desgosto por si própria, à sua conformação por um estado de coisas á muito insustentável mas que ela teimava em alimentar e manter, assumindo-se também como culpada daquele gigantesco infortúnio, só que… agora é tarde… muito tarde mesmo!…
Um drama familiar, muito bem contado e interpretado, recomendo.

Classificação: 8 numa escala de 10

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