10 de agosto de 2018

Opinião – “A Sombra da Verdade” de Per Fly


Sinopse

Michael, recém-licenciado, jovem e idealista, consegue o seu emprego de sonho nas Nações Unidas e dá por si no centro do programa Petróleo por Alimentos da ONU. Com a ajuda do seu mentor Pasha, Michael prospera no emprego mas, com o tempo, começa a aperceber-se da verdadeira corrupção que está na base da conceção do programa. A única saída será denunciar tudo - arriscando a sua própria vida, a carreira do seu mentor e a vida da mulher que ama.

Opinião por Artur Neves

A história contada neste filme baseia-se no maior escândalo de corrupção e tráfico de influências dos quadros da ONU envolvidos na gigantesca operação Oil for Food (Petróleo por Alimentos) que teve lugar em 2003, na sequencia dos danos causados no país após a primeira guerra do Golfo permitindo aos Iraquianos trocar preferencialmente o crude extraído dos seus poços de petróleo por alimentos e bens essenciais que minorassem as necessidades sentidas pela população, decorrentes do impacto causado pelas sansões internacionais e pelo embargo dos USA ao regime de Saddan Hussein que governava o Iraque.
Michael Soussan, o autêntico, (representado no filme por Theo James) encontra a oportunidade da sua vida profissional logo após a sua formatura em economia como coordenador de um plano humanitário de real grandeza e grande visibilidade da ONU que ele tomou como uma cruzada quando, ao se inteirar dos meandros da operação se confronta com o maior escândalo de sempre, constituído por avultados subornos de milhares de milhões de dólares aos principais agentes da operação dentro da ONU, incluindo o homem que o guiou nos primeiros passos na organização, Benon Sevan (Pasha no filme representado por Ben Kingsley) um cipriota que se exilou em Nicósia quando os factos vieram a público no The Wall Street Journal, e que ainda lá se mantém beneficiando de um acordo de não extradição.
É pois com este material explosivo de denúncia para memória futura que Per Fly, realizador Dinamarquês com filmes interessantes no curriculum tais como; “Arven” (2003) e “Mónica Z” (2013) se “embrulha” num esquema de revelação do enredo logo no início da história, pretendendo com isso levar-nos ao conhecimento dos factos através de flashbacks sobre a vivência do protagonista no Iraque e da forma como ele chegou às conclusões que posteriormente vem a revelar. É um filme sobre “o como”, acerca “do que”, temos conhecimento apriorístico.
Só que para o thriller político e de ação, a que esta história se prestaria a forma de abordagem escolhida por Per Fly retira-lhe toda a tensão e toda a surpresa na identificação dos culpados, continuando embora como um documento de denúncia, mas sem chama e sem a ilustração do castigo da vergonha que uma fraude desta dimensão causa a uma organização que se pretende impoluta e inatacável. Para ainda piorar as coisas o realizador acrescenta-lhe uma historieta de amor falido, com a tentativa de inclusão do inerente drama, que de modo algum salva o que foi estragado antes. Resta-nos todavia a memória de honra e de carater de um homem bom, que sabia que ao revelar tamanha fraude punha em risco a sua carreira e a sua vida, mas ainda assim, fê-lo. Vê-se como documento histórico e fica-se com pena de não ser um thriller.

Classificação: 5 numa escala de 10

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