Sinopse
Polónia, 1945. Mathilde, uma jovem médica da cruz
vermelha, encontra-se numa missão para ajudar os sobreviventes da Segunda Guerra
Mundial. Quando uma freira lhe pede ajuda, esta apercebe-se que existem várias
freiras grávidas, fruto da barbaridade dos soldados soviéticos. Incapazes de
conciliar a fé com a gravidez, as freiras apoiam-se em Mathilde, a sua única
esperança.
Opinião
por Artur Neves
Este filme conta uma
história verídica ocorrida na sequência do término da Segunda Guerra Mundial,
quando um dos membros da coligação vencedora, os Russos, nesse tempo os
soldados da União Soviética entram na Polónia, anteriormente ocupada pelos
Alemães, para a libertar e começam por violar as freiras de um convento que
lhes aparece no caminho. A realizadora, Anne Fontaine, nascida em 1959 no
Luxemburgo apresenta trabalhos que a qualificam como habilitada para o tema em
questão, todavia já nos trouxe melhores abordagens do que a presente história,
provavelmente por não ter colaborado na autoria do argumento, como noutras
realizações em que destaco “Paixões Proibidas” de 2013.
Todavia a história é
simples, as freiras são mulheres, foram violadas e como resultado ficaram
grávidas numa condição inaceitável para a época, 1945, e para o local em que
aconteceu, Polónia católica e fragilizada com a guerra. Deste caldo resulta um
grupo de mulheres “embaraçadas” com a sua condição que no limiar do sofrimento psíquico
e físico em que sobrevivem, solicitam a ajuda de uma médica pertencente a outra
facção libertadora; os USA, que após ultrapassar as formalidades inerentes à
política do pós-guerra, bem como a sua própria incompreensão para a condição de
submissão aos cânones monásticos das “pré-mamãs”, as ajuda a completar a sua
mais nobre função de vida; ser mulher.
É aqui que esta história
atinge o seu zénite, pois a solução tradicional destas mulheres era, abortar em
condições inimagináveis, parir e matar os filhos à nascença por iniciativa
pessoal, ou parir e entregar o fruto do seu ventre aos cuidados da madre
superiora, déspota e sifilítica, que alegando que os entregaria a uma mãe de
acolhimento na vila mais próxima do convento, os abandonava na base de um
cruzeiro existente na floresta, á intempérie do gelo e do frio inverno Polaco,
como penitencia e desconto dos “pecados” cometidos pela mãe improvável e
indesejável à congregação.
Assim observamos mais uma incongruência
desta religião milenar que apelando à protecção dos fracos e pugnando pelo amor
fraterno entre todos os seus membros, comete barbaridades com a que nos é
mostrada nesta história, justificadas pela submissão ao dever de repulsa pela
mais poderosa pulsão humana; a pulsão sexual, decorrente da qual nos multiplicamos
e progredimos como espécie. A acção decorre maioritariamente dentro das portas
do convento onde nos é mostrado todo o sofrimento infligido pela fé, pela obediência
cega ao preceito da castidade, que mesmo quando usurpado sem o consentimento de
um dos parceiros, só pode ser “lavado”, “purificado”, ou como lhe quiserem
chamar, pelo sacrifício inapelável do fruto dessa relação.
Enfim, no final as coisas compõem-se
e só espero que tenha sido esse o seu verdadeiro desfecho. É uma história interessante
que levanta questões bem actuais que não devemos esquecer, porque, embora
escondidas em conventos e outros locais, andam por aí… a ver.
Classificação: 7 numa escala
de 10
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