11 de agosto de 2016

Opinião – “O Demónio de Neon” de Nicolas Winding Refn


Sinopse


Jesse, uma aspirante a modelo, muda-se para Los Angeles, e rapidamente vê a sua juventude e vitalidade sugadas por um grupo de mulheres obcecadas com a beleza, que farão o que for necessário para ter aquilo que ela tem.

Opinião por Artur Neves

Esta é uma história de glamour, passerelles e mulheres belas que procuram o seu lugar ao sol seja a que preço for. O problema é que o tempo para o conseguir é escasso e furtuito. Nada nas suas vidas é constante, a natureza muda do dia para a noite e este filme mostra-nos essa vacuidade de uma forma extraordinariamente sugestiva e impressiva. O filme não se detém sobre a moralidade do “mercado da carne” ao serviço da moda, nem tão pouco sobre a perversão da beleza que utiliza, mas antes mostra-nos em takes perfeitamente definidos e cirurgicamente trabalhados em todos os detalhes o limite da perversão humana na obtenção dos seus objectivos quando cegamente vectorizados.
Nicolas Winding Refn, Dinamarquês de origem, realizador e autor do argumento deste filme, já nos tinha surpreendido anteriormente em obras de semelhante profundidade embora sobre outros temas, refiro-me a “Só Deus Perdoa” (2013) sobre a vingança e “Bronson” (2004). Nesta história porém, todos os limites são ultrapassados numa primeira parte aparentemente “normal” mas onde se prepara o ambiente e a motivação para a explosão gore numa segunda parte, corporizando a assombração dos desígnios da condição humana, quando afectada pela raiva e pela inveja inultrapassáveis do fracasso, sem esperança de retorno ou remissão.
Esta história mostra-nos também a simplicidade da verdadeira beleza, de que me recordo de alguém ter dito; “A verdadeira beleza não é a que se vê mas a que se adivinha”, que parecendo igual, possui em si artefactos que a diferenciam, que cativam quem a observa mas também capturam quem a possui, como se a sua permanência devesse ser imune ao contexto que a cerca, para preencher a nossa necessidade de perfeição tangível. O fotógrafo principal das sessões apreendeu isso ao primeiro olhar e isso é-nos mostrado de uma forma inteligente.
Todo o filme é realizado a “régua e esquadro”, procurando uma perfeição geométrica através da sequenciação de cenas completas mas que se complementam entre si na visualização da história que o filme conta. A música faz o resto, o ritmo é House, e a sua aparição está meticulosamente preparada de acordo com a tensão que se constrói no desenvolvimento da acção. Filme bem estruturado, bem descrito e construído, com cenas surpreendentes, que vale a pena ver por constituir também uma denúncia sobre o negócio da moda.
Classificação: 8 numa escala de 10

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