Sinopse
De
uma pequena vila no Sul do Irão até às tumultuosas ruas de Paris, o comediante
Kheiron conta-nos a história dos seus pais, Hibat e Fereshteh, um casal de
eternos optimistas.
Seguimos
a sua viagem e o crescimento da sua família através de crises políticas,
revoluções, prisão, assassinatos e suicídios.
Apesar
disso; “Ou Todos ou Nenhum” é, no seu âmago, uma comédia sobre os valores
universais como o amor familiar, o valor da vida e acima de tudo, o ideal de
vivermos juntos.
Filme nomeado para o prémio;
Melhor Primeiro Filme, CÉSAR 2016
Opinião por Artur Neves
Os heróis
desta história são gente comum que descontentes pelo regime autocrático do Xá
do Irão (Reza Pahlevi) organizam a contestação contra o seu poder, são perseguidos
e presos, mas conseguem os seus intentos através da vitória da revolução
Iraniana, que em 1979 depõe o Xá substituindo um regime monárquico autocrático
mas de índole pró-ocidental por uma república islâmica teocrática liderada pelo
aiatolá Khomeini (Ruhollah Khomeini) que governou o Irão com leis conservadoras
baseadas no Islão e com o controlo político nas mãos do clero afastando-se das
relações com o Ocidente.
É pois
neste clima que Kheiron nos conta a história da sua família de uma forma
ligeira, imbuída de graça e comicidade que se evidencia nos pormenores do
relacionamento entre as pessoas, nos seus pensamentos e desejos inocentes,
conseguindo que até algumas cenas da prisão e da tortura sejam mostradas
divertidamente através da estupidez em que se baseiam as decisões e os actos
dos seus carcereiros.
Este
é um filme em que se fala a brincar de coisas muito sérias, como sejam a
liberdade, a democracia e o livre arbítrio individual, mas com uma acutilância
e uma precisão cirúrgica dos valores envolvidos que nos mostra a face patética
de todos os tiranos e nos faz rir com vontade, embora com o sentimento da dor e
do sofrimento infligido àquele povo em nome de valores inexistentes, porque se
existissem não poderiam, nem deveriam permitir tamanho despotismo.
A consequência
é a fuga, o abandono do país de forma clandestina, a sua passagem pela Turquia
e a chegada e estabelecimento da vida em Paris. Nesta, que pode considerar-se a
2ª parte da história, a crítica social continua como veiculo da apresentação do
desajustamento dos refugiados aos valores ocidentais, sempre com uma piada
sugestiva que nos diverte e faz sorrir.
Todos
os personagens envolvidos estão bem caracterizados, o sogro de Hibat (Kheiron)
é apresentado como um Iraniano falsamente tradicionalista, a filha (mulher de
Hibat) é tudo menos submissa ao poder marital, tal como a sua mãe aliás, os
seus amigos apresentam em todas as cenas características únicas e muito
próprias de uma certa rebeldia bacoca e todo o ambiente do filme se desenrola
segundo uma estrutura coerente de denuncia, de mágoa assimilada que se permite glosar
com o seu próprio infortúnio. Todavia, não é um filme amargo. Recomendo, o
tempo gasto em desfrutar este filme é descontado ao tempo das nossas
preocupações.
Classificação:
8,5 numa escala de 10
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