15 de junho de 2016

Opinião – “O Clube” de Pablo Larraín


Sinopse

Um grupo ecléctico de sacerdotes convive com Mónica, uma freira, numa casa na costa Chilena. Quando não estão orando e expiando seus pecados, eles treinam o seu galgo para a próxima corrida. O que será que os levou até ali, praticamente no meio do nada, onde o vento sopra forte frequentemente? Quando um novo sacerdote chega á casa, um homem começa a fazer-lhe fortes acusações. Sua voz aumenta mais e mais até que se ouve um tiro. O padre evita as acusações dizendo ser suicídio. A igreja envia um investigador, mas será que ele, realmente tem a intenção de descobrir a verdade ou apenas garantir que a aparência de santidade do grupo seja mantida?
Opinião por Artur Neves
Quando começamos a ver esta história, não se vislumbra o assunto que que ela encerra e somos assaltados por uma ignorância inquiridora que rapidamente se transforma em surpresa expectante, tal é o ambiente inicial criado por Pablo Larraín, através da casa que nos é mostrada, e da actividade das pessoas que interagem no seu interior, numa relação que se nos aparenta desconexa embora colaborante.
São quatro homens e uma mulher que vivem em comunhão de mesa e habitação, mas cada um tem a sua agenda individual, enquadrados pela irmã Mónica que lhes serve de governanta, cozinheira, guardiã e representante oficial na comunidade onde vivem, que não os conhece, nem eles procuram o seu convívio. São como um corpo estranho que habita um outro organismo mais complexo mas com o qual não estabeleceram qualquer relação, embora aquele lhes sirva suporte através do elo constituído pela irmã Mónica.
Os problemas começam com a chegada de um quinto homem que vem alterar o equilíbrio instalado, bem como, promover o nosso entendimento da acção que nos é revelada nas palavras de apresentação do padre Matias e nas suas explicações sobre o motivo da sua presença. A irmã Mónica assume mais uma vez o seu papel de anfitriã, solícita, disponível e empenhada em o acolher, embora não sem exibir um constrangimento contido. Em todas as situações a sua expressão exibe um sorriso que soa a falso e que se mantem em todas as suas intervenções.
Paulo Larraín conta-nos uma história negra sobre a Igreja Chilena, nos tempos de Pinochet, mostrando-nos todo o cinzentismo e o absurdo da ditadura, bem como, os ecos que chegam ao presente, desses tempos que a ortodoxia do clero não reconhece que tenham existido e ainda continuem no silêncio da prática da fé, tal como o Papa Francisco reconheceu e pediu desculpa. É o ancestral problema do celibato dos padres e de outros desvios de caris sexual decorrente dessa prática, motivados pela negação da dispersão da riqueza que caberia ao eventual cônjuge não pertencente à congregação, no caso do falecimento em primeiro lugar do padre, e marido.
O filme está soberbo, a imagem embora colorida, sofre de um esbatimento uniformizador nos tons interiores que lhe conferem a densidade já detectada nos personagens. Cada um tem a sua razão individual, mas no conjunto são unidos na extrema vilania com que perpetram o mascaramento dos seus actos contra a única testemunha que lhes aponta o dedo acusatório dos seus crimes. A sua vida não tem qualquer objectivo, vivem para gastar o tempo que lhes resta no espaço que lhes foi destinado e assim querem continuar, sem sentimentos de culpa e em oração. Excelente filme, recomendo vivamente.
Classificação: 8 numa escala de 10

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