Sinopse:
Em virtude das terras que possuía serem futuramente a rota da estrada de caminhos de ferro, um pai e todos os filhos são brutalmente assassinados por um assassino profissional. Entretanto, ninguém sabia que ele, viúvo há seis anos, se tinha casado com uma prostituta de Nova Orleans, que passa ser a dona do local e recebe a protecção de um hábil atirador, que tem contas a ajustar com o frio assassino.
Opinião por Marta Nogueira
"Aconteceu no Oeste" é um raro filme - raro por diversos motivos, o menor dos quais é quase caricato - o facto de ser um filme sobre o Oeste americano da responsabilidade de um italiano. Imagino que na altura - 1968 - os criadores do celuloide do outro lado do Oceano Atlântico se tenham roído de inveja, raiva e pura surpresa (não necessariamente por esta ordem) com esta obra primíssima. Porque a sua raridade recai ainda noutras duas características ímpares: a osmose perfeita entre técnica e narrativa, entre forma e conteúdo; e a superioridade da dita técnica.
Cada plano deste filme é uma obra de arte pensada ao mínimo detalhe e cada detalhe de cada plano deste filme é uma obra de arte pensado ao ínfimo pormenor. Como quadros, como sinfonias, como ovos de Fabergé cuidadosamente talhados nas suas minúsculas peças mecânicas que funcionam eternamente. Se piscarmos os olhos corremos o risco de perder milésimos de fita preciosíssimos carregados de jóias cinematográficas. E não estou a exagerar. Desde o primeiro segundo ao último.
E não é assim que todos os filmes deveriam ser?, perguntamo-nos, ao percebermos pela primeira vez na vida que até termos visto "Aconteceu no Oeste" nunca tínhamos visto o cinema no verdadeiro desabrochar de todas as suas potencialiadades e que apenas vislumbráramos fagulhas de uma gloriosa chama para a qual tínhamos sido completamente cegos e surdos.
A cegueira é uma boa analogia para um filme que vive também dos olhares magnéticos de três actores - os azuis rasgados, perspicazes e intocáveis do durão mais duro do cinema Charles Bronson; os azuis de um azul tão puro que quase doem, límpidos e puros do herói Henry Fonda que foi pela primeira vez escolhido para mau da fita e pela primeira vez também no cinema que um mau da fita foi o protagonista; e os castanhos nostálgicos e perdidos de Claudia Cardinale. É curioso pensar que o papel principal tinha sido recusado por Fonda, que depois foi convencido e que o papel de Bronson poderia ter calhado a Clint Eastwood que também recusou e não voltou atrás.
Embora tenha tido um começo pouco auspicioso, é hoje em dia justamente considerado uma obra-prima e uma influência incontornável para realizadores como Tarantino, Scorsese ou Lucas. E de facto basta ver os primeiros segundos de filme para nos lembrarmos imediatamente de Tarantino e de como ele deve ter visto o filme centenas de vezes enquanto trabalhava no seu videoclube há décadas atrás, antes de se aventurar nos meandros de Hollywood. Com professores destes era difícil não ter feito a carreira que teve. Justiça lhe seja feita por ter reparado nestes mestres algo esquecidos. Tarantino pode ter modernizado Leone, mas se quisermos a fonte pura, o clássico, o verdadeiro sabor então teremos de ver este filme. Não vê-lo, é como não conhecer os girassóis de Van Gogh ou a 9ª Sinfonia de Beethoven. Não conhecer "Aconteceu no Oeste" é um crime e merecemos levar com um balázio à boa maneira do velho Oeste.
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