6 de maio de 2016

Opinião – “Dheepan – O Refugio” de Jacques Audiard


Sinopse

Dheepan (Antonythasan Jesuthasan), Yalini (Kalieaswari Srinivasan) e a pequena Illayaal (Claudine Vinasithamby) assumem identidades falsas para fugir do Sri Lanka, seu país natal, que está em guerra. Eles não se conhecem e, diante da iniciativa, precisam conviver como se fossem uma família verdadeira ao chegar na França. Sem conhecer a língua local, Dheepan consegue emprego como zelador em um condomínio de classe baixa, enquanto que Yalini passa a trabalhar como empregada doméstica de um idoso com problemas de saúde.

Opinião por Artur Neves

Jacques Audiard é talvez nesta altura, o realizador com maior prestígio em França, considerando os seus trabalhos anteriores premiados também em Cannes, tais como “O Profeta” e “Ferrugem e Osso” onde as políticas sociais e os sentimentos humanos são abordados sem rodeios promovendo o debate sobre as situações retratadas nas respectivas histórias. Não é portanto estranho que se vire agora para o problema actualíssimo da emigração na Europa, que apanhada de surpresa com a avalanche humana que todos conhecemos, não tenha resposta para a crise humanitária em processo, nem somente uma hipótese credível de solução, como este filme nos mostra.
Então desta feita, a história apresenta-nos uma família fictícia em fuga desde o Sri Lanka em que a única verdade que os une, é o premente desejo de fuga do país em guerra e do caos (podia muito bem ser da Síria) para a “terra prometida” de ocasião, neste caso a França, da qual nem conhecem a língua. A “filha” lá vai percebendo o essencial, e a “mãe” queria ir para o Reino Unido, mas o destino é França e têm de se conformar. A “integração” é conseguida através de um emprego de concierge num prédio de um bairro social nos subúrbios de Paris, onde ela consegue também o lugar de cuidadora de um homem com mobilidade diminuída a quem presta cuidados básicos, faz comida e arranjo da casa.
Apesar de o local ser um antro de distribuição e venda de droga, onde grupos rivais se degladiam pelo domínio do tráfico, é ainda assim o local onde encontram paz, escolaridade para a “filha” e mais dinheiro do que alguma vez pensaram obter o que os torna em príncipes, com disponibilidade para frequentar a igreja Tamil, pensar na sua relação forçada, na hipótese de amor de ocasião e no conceito de futuro.
Todavia, as dificuldades surgem com a luta entre gangues rivais, que o realizador compara à guerra no Sri Lanka, tanto na violência como no comportamento dos moradores, apontando um dedo acusador às autoridades através da total ausência de polícia, ou outra força de segurança de qualquer espécie, mesmo em caso de tiroteio e de mortes. Este foi de facto o caso da França, que terá adormecido à sombra do seu poderio negligenciando as tensões crescentes e a violência generalizada. Neste capítulo a denuncia contida no filme também é importante.
Todos os actores têm bom desempenho, está bem representado, a história é credível o ambiente mantem-se continuamente tenso porque a paz não é consistente e a história revela as fragilidades da nossa sociedade que se terá tornado laxista, adormecendo à sombra do seu próprio sucesso. Bom filme, recomendo vivamente e as últimas cenas serão o balsamo para os nossos espíritos atormentados durante todo o tempo.
Classificação: 7 numa escala de 10

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