5 de abril de 2016

Opinião - "A Espera" de Piero Messina



Sinopse:
Anna passa os seus dias em solidão, deambulando pelos grandes quartos de uma antiga mansão com sinais de decadência. A bela e agreste paisagem siciliana que circunda a casa isola-a, ao mesmo tempo que o nevoeiro que se vai instalando afectam a visibilidade. Só os passos de Pietro, o encarregado, quebram o silêncio. De repente, surge Jeanne, uma jovem que diz ser namorada de Giuseppe, o filho de Anna. Ele convidara-a a ir ter com ele à Sicília para passarem uns dias juntos. As duas mulheres não se conhecem. Anna nem sequer sabia da existência de Jeanne. E Giuseppe não está. Para onde foi ele? As suas coisas estão lá todas, no seu quarto. Ele voltará muito em breve, diz Anna... Os dias passam, as duas mulheres vão-se conhecendo, e juntas dispõem-se a esperar pela Páscoa, altura em que Giuseppe irá finalmente regressar a casa e uma enorme procissão tradicional desfilará pela vila.

Opinião por Marta Nogueira
O filme "A Espera" do estreante Piero Messina oferece-nos o retrato de uma mãe em luto. Mas esta mãe recusa despedir-se. Está determinada a prolongar ao máximo a existência do seu filho, para lá do impossível. Inspirado pela história verdadeira de um pai que se recusa a acreditar na morte do filho provocando nos que o rodeiam um fingimento piedoso, Messina inspirou-se certamente também no seu mestre, Paolo Sorrentino, de quem foi assistente de realização, para criar este drama contido e sofrido. Cheio de metáforas visuais que nos reconduzem permanentemente para o sofrimento de Maria, mãe de Cristo cruxificado, o argumento escrito por 4 pessoas, uma delas Messina, não consegue esconder a falta de imaginação na colocação deliberada de peças supostamente introduzidas para credibilizarem a mentira criada em torno da morte do seu filho, para que a namorada Jeanne não perceba que ele não poderá regressar mais. Na vida real uma história destas não teria pernas para andar mais do que um dia, até que Jeanne se apercebesse do que se estava realmente a passar. Aqui resulta porque tem de resultar, ou não haveria filme para ninguém.
Se nos esquecermos disso, e nos concentrarmos nos desempenhos dos actores desta história, teremos uma experiência intensa. Juliette Binoche encabeça o elenco com a sua já habitual e magistral verdade de representação, e prova que ainda é possível envelhecer no écran de forma bela sem a ajuda de incrementos. Deve ser das poucas actrizes que tem resistido estoicamente às plásticas. A jovem Lou de Lâage dá-lhe a contracena perfeita e não se intimida junto da mítica actriz francesa e Giorgio Colangeli, que interpreta o críptico empregado de Anna, que sabe o que se passa mas que tolera a mentira da sua patroa até um certo ponto, oferece-nos um condimento de mistério que nos deixa em suspense sobre as suas decisões relativamente à patroa - ele destruirá a mentira ou não?
Com este filme consegui ter uma pequena noção do que significará perder um filho e um filme que nos oferece isso é muito, muito, muito grande.
Como uma mãe é capaz de percorrer distâncias inconcebíveis para preservar a vida de um filho, mesmo quando essa vida já não existe, e mesmo que seja a custo dos sentimentos de terceiros. Mas quem não será capaz de perdoar esse pecado a uma mulher que carrega a dor mais inadmissível da humanidade? Ninguém.
 

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