5 de abril de 2016

Opinião – “Cinzento e Negro” de Luís Filipe Rocha


Sinopse


Produzido pela Fado Filmes, este filme conta a história de Maria, traída pelo companheiro. David, quando este lhe rouba um saco de dinheiro e fog, refugiando-se na ilha do Pico. Furiosa e determinada a vingar-se, ela propõe a um inspector da Polícia Judiciária, Lucas, perseguir e encontrar o companheiro. Entretanto David, numa visita à ilha do Faial, apaixona-se por uma faialense, Marina, empregada do mítico bar Peter Café Sport. Maria e Lucas procuram David nos Açores, cruzam-se com Mariana no Faial e os três vão descobrir David na sua casa da montanha, no cimo do Pico. Num confronto final, como numa tragédia grega, Maria e David ajustam as contas que o destino lhes traçou.

Opinião por Artur Neves

Estamos em presença de um drama com todos os condimentos inerentes, que nem o facto de ser uma película colorida, embora com cores carregadas, lhe tira intensidade a esta história que vem a revelar-se trágica, como mais tarde se saberá.
Luís Filipe Rocha que ao longo da sua filmografia nos tem apresentado filmes de uma realidade crua e autêntica, sendo os primeiros mais politizados e actualmente eivados de uma visão mais social dos problemas humanos, oferece-nos desta vez uma história (de que ele é também o autor do argumento) de quatro pessoas muito diferentes que o acaso cruzou, cada uma com os seus objectivos e a sua forma particular de encarar a vida em busca de uma verdade que para cada um tem contextos muito diferentes.
A história começa por nos ser apresentada sem que saibamos o que quer que seja sobre os intervenientes em presença num jogo de palavras e de atitudes para as quais não possuímos qualquer conhecimento dos seus objectivos ou motivações, aprofundando a nossa curiosidade sobre aquelas pessoas que presumimos saberem o que pretendem. Lentamente o filme vai revelando o carácter de cada interveniente até que ficamos com toda a informação necessária para compreender o desfecho daquela reunião, com objectivos dissociados e inconciliáveis cujo resultado nos surpreenderá.
Normalmente associamos o amor à comunhão, à compreensão, ao perdão, incentivados pela possibilidade de redenção dos eventuais erros cometidos por cegueira ou desconhecimento que esse mesmo amor vem iluminar e ajudar a compor um futuro melhor. Nada disso porém acontece aqui, a vingança é determinante e marca o ritmo da caminhada. Só o sangue pode satisfazer a ofensa de um coração apaixonado, dependente, jazente de um amor doentio que sobrevive na escuridão de uma solidão sem fim que nenhuma luz é capaz de mitigar.
O amor generoso também está presente, mas não se consegue afirmar neste ambiente de raiva e ganância com objectivos imutáveis. Participa com um sorriso complacente, para um destino inexorável do qual não sairá porque realmente nunca entrou, mas apenas partilhou na caminhada final.
Para o que é normal dos filmes nacionais, este é um filme longo, mas não sentimos a sua extensão, porque os pormenores vão sendo revelados com a oportunidade que a acção necessita e isso prende-nos ao ecrã, à história, aos silêncios e às palavras, aos pormenores dos movimentos de câmara, aos rostos e aos sentimentos que os animam, nada é deixado no vácuo ou fica sem resposta, constituindo um bom exemplo do cinema Português de qualidade. Recomendo vivamente.
Classificação: 7,5 numa escala de 10

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