Sinopse
Produzido
pela Fado Filmes, este filme conta a história de Maria, traída pelo
companheiro. David, quando este lhe rouba um saco de dinheiro e fog,
refugiando-se na ilha do Pico. Furiosa e determinada a vingar-se, ela propõe a
um inspector da Polícia Judiciária, Lucas, perseguir e encontrar o companheiro.
Entretanto David, numa visita à ilha do Faial, apaixona-se por uma faialense,
Marina, empregada do mítico bar Peter Café Sport. Maria e Lucas procuram David
nos Açores, cruzam-se com Mariana no Faial e os três vão descobrir David na sua
casa da montanha, no cimo do Pico. Num confronto final, como numa tragédia
grega, Maria e David ajustam as contas que o destino lhes traçou.
Opinião por Artur Neves
Estamos
em presença de um drama com todos os condimentos inerentes, que nem o facto de
ser uma película colorida, embora com cores carregadas, lhe tira intensidade a esta
história que vem a revelar-se trágica, como mais tarde se saberá.
Luís
Filipe Rocha que ao longo da sua filmografia nos tem apresentado filmes de uma
realidade crua e autêntica, sendo os primeiros mais politizados e actualmente
eivados de uma visão mais social dos problemas humanos, oferece-nos desta vez
uma história (de que ele é também o autor do argumento) de quatro pessoas muito
diferentes que o acaso cruzou, cada uma com os seus objectivos e a sua forma
particular de encarar a vida em busca de uma verdade que para cada um tem contextos
muito diferentes.
A
história começa por nos ser apresentada sem que saibamos o que quer que seja
sobre os intervenientes em presença num jogo de palavras e de atitudes para as
quais não possuímos qualquer conhecimento dos seus objectivos ou motivações,
aprofundando a nossa curiosidade sobre aquelas pessoas que presumimos saberem o
que pretendem. Lentamente o filme vai revelando o carácter de cada
interveniente até que ficamos com toda a informação necessária para compreender
o desfecho daquela reunião, com objectivos dissociados e inconciliáveis cujo resultado
nos surpreenderá.
Normalmente
associamos o amor à comunhão, à compreensão, ao perdão, incentivados pela
possibilidade de redenção dos eventuais erros cometidos por cegueira ou
desconhecimento que esse mesmo amor vem iluminar e ajudar a compor um futuro
melhor. Nada disso porém acontece aqui, a vingança é determinante e marca o
ritmo da caminhada. Só o sangue pode satisfazer a ofensa de um coração
apaixonado, dependente, jazente de um amor doentio que sobrevive na escuridão
de uma solidão sem fim que nenhuma luz é capaz de mitigar.
O
amor generoso também está presente, mas não se consegue afirmar neste ambiente
de raiva e ganância com objectivos imutáveis. Participa com um sorriso
complacente, para um destino inexorável do qual não sairá porque realmente
nunca entrou, mas apenas partilhou na caminhada final.
Para
o que é normal dos filmes nacionais, este é um filme longo, mas não sentimos a
sua extensão, porque os pormenores vão sendo revelados com a oportunidade que a
acção necessita e isso prende-nos ao ecrã, à história, aos silêncios e às
palavras, aos pormenores dos movimentos de câmara, aos rostos e aos sentimentos
que os animam, nada é deixado no vácuo ou fica sem resposta, constituindo um
bom exemplo do cinema Português de qualidade. Recomendo vivamente.
Classificação:
7,5 numa escala de 10
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