Sinopse
A Lagosta é uma
história de amor passada num futuro distópico, no qual todas as pessoas
solteiras, segundo as regras da cidade, são presas e transferidas para um
hotel, onde têm a obrigação de encontrar um parceiro em 45 dias.
Quem falhar é
transformado num animal à sua escolha e libertado na floresta.
Um homem desesperado
foge do hotel para a floresta onde os solitários vivem e apaixona-se, embora
seja contra as regras impostas por estes.
Um
filme único do realizador Yorgos Lanthimos, com Colin Farrell, Rachel Wise, Lea
Seydoux, Jonh C. Reilly e Olivia Colman, vencedor do prémio do Júri do Festival
de Cannes, 2015.
Opinião por Artur Neves
Yorgos
Lanthimos, um realizador Grego nascido em 1973, já nos tinha presenteado em
2009 com o filme “Canino” (Kynodontas no original) que nos remetia para um caso
extremo de submissão de pessoas aos seus parentes mais próximos, através da coabitação,
mantida isolada sem comunicação com o mundo exterior nem com a evolução deste.
Desta
vez Yorgos amplia este conceito de vivência ímpar, embora noutro sentido, e
simula a existência duma sociedade autocrática em que as pessoas são forçadas a
viver aos pares, de qualquer natureza, mas em companhia de outro ser da mesma
espécie, para o qual tem de ser encontrada uma afinidade que justifique e fixe
aquela ligação, como condição única para o par atingir a felicidade completa,
agora e para sempre.
Não
se pense porém que só o amor serve o propósito, pois são admitidas ligações de
diversas ordens para atingir o objectivo imposto pela comunidade limitando a
vontade individual e o livre arbítrio de tomar em mãos próprias o destino particular
de cada pessoa.
Esta
organização gera uma complexa teia de conflitos individuais e sociais, puníveis
pelo poder instalado, que gera os marginais, leia-se; os solteiros, ou os que
tomam como opção viverem solitários, que clandestinamente se organizam em estruturas
tão complexas como aquelas que combatem. Na sua essência a espécie humana é de
cariz social, desenvolve afectos e tem carências desses mesmos afectos que
subvertem os sistemas que não os incluem. O amor, a entreajuda, a amizade
brotam nos sítios e pelos motivos mais improváveis, bem como todos os outros
sentimentos inspirados na exclusão, na dúvida e no despeito que conduzem esta
história a um desfecho trágico.
O
exercício proposto por Yorgos Lanthimos é assim estranho mas interessante,
baseado num modelo em que o formal é mais importante que o real e nos confronta
com a distopia de uma sociedade formada ao contrário, sem esperança nem futuro,
pois o desígnio individual está traçado à partida. Recomendo o seu
visionamento, para entre a surpresa do conceito e o sorriso ligeiro em
situações caricatas, percorrermos a simulação de uma filosofia que certamente
não desejamos.
Classificação:
7 numa escala de 10