Vozes de Chernobyl,
a obra mais aclamada da Prémio Nobel de Literatura de 2015 Svetlana
Alexievich e um dos títulos mais esperados de 2016, chega finalmente às
livrarias no dia 26 de fevereiro e já com uma segunda edição a caminho
fruto da procura do mercado.
Com prefácio do reconhecido jornalista Paulo Moura e tradução de Galina Mitrakhovich, Vozes de Chernoby é
visto como o livro mais duro e impactante de Svetlana Alexievich.
Trata-se da primeira obra a apresentar relatos pessoais do desastre de
Chernobyl, através de monólogos de centenas de pessoas que viveram a
tragédia nuclear de abril de 1986 direta ou indiretamente: desde
cidadãos inocentes aos bombeiros chamados para limpar a zona do
desastre, bem como membros do governo e forças do regime soviético que
tentaram silenciar o ocorrido.
Esses
relatos, que resultam de um trabalho jornalístico de fundo, não são uma
mera citação contínua dos entrevistados, sendo antes transformados pela
autora em textos apresentados na primeira pessoa. O livro narrado
em três partes: «A Terra dos Mortos», «A Terra dos Vivos» e «Engolidos
pela Tristeza», é aplaudido pela crítica.
ELOGIOS
«A
sua técnica é uma mistura vigorosa de eloquência e de silêncio,
descrevendo a incompetência, o heroísmo e o luto: a partir dos monólogos
dos seus entrevistados, ela cria uma história que o leitor consegue de
facto palpar. Ao lê-la, percebi pela primeira vez que Chernobyl foi o
tsunami da Europa: mas fomos nos, humanos, que o criámos, e este tsunami
é interminável.» - The Telegraph
«Terríveis e grotescas, as histórias de Vozes de Chernobyl acrescem página após página como a radiação alojada nos corpos dos sobreviventes.» - The New York Times
«Quão
genuinamente humanas são estas histórias: cada voz expressa fúria,
medo, ignorância, estoicidade, compaixão e amor. Alexievich pôs a sua
saúde em risco para reunir estes inestimáveis testemunhos de quem viveu o
desastre na linha da frente, transformados aqui numa obra literária
essencial e assombrosa.» - Donna Seaman, Booklist
«Vozes de Chernobyl deixa queimaduras de radiação no cérebro dos seus leitores.» - Julian Barnes, The Guardian
SINOPSE
A
26 de abril de 1986, Chernobyl foi palco do pior desastre nuclear de
sempre. As autoridades soviéticas esconderam a gravidade dos factos da
população e da comunidade internacional, e tentaram controlar os danos
enviando milhares de homens mal equipados e impreparados para o vórtice
radioativo em que se transformara a região. O acidente acabou por
contaminar quase três quartos da Europa.
Numa
prosa pungente e desarmante, Svetlana Alexievich da voz a centenas de
pessoas que viveram a tragédia: desde cidadãos comuns, bombeiros e
médicos, que sentiram na pele as violentas consequências do desastre,
até as forças do regime soviético que tentaram esconder o ocorrido. Os
testemunhos, resultantes de mais de 500 entrevistas realizadas pela
autora, são apresentados através de monólogos tecidos entre si com
notável sensibilidade, apesar da disparidade e dos fortes contrastes que
separam estas vozes.
Svetlana Alexievich nasceu
em 1948 em Ivano-Frankivsk, na Ucrânia, tendo crescido em Minsk,
capital da Bielorrússia, onde vive atualmente. Jornalista e escritora, e
autora de cinco livros e de vinte guiões de documentários. Entre muitos
outros importantes galardões internacionais, recebeu o Prix Medicis
Essai 2013, o premio Ryszard Kapuściński 2011 e o Book Critics Circle
Award 2006 para não-ficção, antes da sua consagração definitiva com o Prémio Nobel de Literatura 2015.
Svetlana criou
um novo género literário de não-ficção que é inteiramente seu. Escreve
«romances de vozes». Desenvolveu este género livro após livro, apurando a
estética da sua prosa documental, sempre escrita a partir de centenas
de entrevistas. Com uma notável concisão artística, a sua perícia
permite-lhe enlaçar as vozes originais dos testemunhos numa paisagem de
almas. As cinco obras em prosa de Svetlana constituem o projeto
literário Vozes da Utopia, que reúne a história do espírito universal
das pessoas - e não apenas do povo soviético. Deste projeto fazem parte Vozes de Chernobyl, A Guerra não Tem Rosto de Mulher (Elsinore, setembro de 2016), O Fim do Homem Soviético (Porto Editora, 2015), As Últimas Testemunhas e Rapazes de Zinco (ambos Elsinore, 2017).
A obra de Svetlana Alexievich é
caracterizada pela marca da sua escrita e a força histórica dos seus
textos. Essa marca, incomum em obras de não-ficção, é expressa sobretudo
através do método da autora, os mecanismos literários com que tece os
assuntos sobre os quais escreve, distanciando-se enquanto narradora sem
se distanciar enquanto jornalista, e fixando a memória coletiva e
individual de um povo através de testemunhos na primeira pessoa com uma
sensibilidade incomum e uma força estilística notável. Os seus livros
são obras históricas e de não-ficção trabalhadas de forma profundamente
literária. São, acima de tudo, Literatura.
«Tenho
procurado o género mais adequado à minha visão do mundo, que expresse a
forma como os meus ouvidos ouvem e como os meus olhos observam a vida.
Tentei isto e aquilo, e por fim apropriei-me de um género no qual as
vozes humanas falam por si mesmas. Nos meus livros, pessoas reais
descrevem os grandes eventos do nosso tempo, como a guerra, o desastre
de Chernobyl e a derrocada de um império imenso. Em conjunto, registam
verbalmente a história do país, a sua história comum, enquanto cada uma
delas transporta para as palavras a sua própria vida. Hoje, o homem e o
mundo tornaram-se multifacetados e diversificados, e aquilo que é
documentado através da arte tem-se transformado em algo cada vez mais
interessante, enquanto a arte em si mesma muitas vezes se revela
impotente. O documento — tudo o que é documentado — aproxima-nos da
realidade, pois captura e preserva o original. Após vinte anos de
trabalho com material documental, e tendo escrito cinco livros com base
nesse espólio, declaro que a arte falhou na compreensão de muito do que
são as pessoas. Não me limito a registar uma história seca de eventos e
factos; estou a escrever a história de sentimentos humanos. Aquilo que
as pessoas pensaram, compreenderam e recordaram durante o evento. Aquilo
em que acreditaram ou de que desconfiaram, as ilusões, esperanças e
medos que viveram. É impossível imaginar ou inventar isto, a qualquer
ritmo e em tal multiplicidade de detalhes reais. Esquecemo-nos
rapidamente de como éramos há dez, vinte ou cinquenta anos. Por vezes,
sentimo-nos envergonhados do nosso passado e recusamos acreditar no que
verdadeiramente nos aconteceu. A arte pode mentir, mas o documento nunca
o faz, embora seja também o produto da paixão e da vontade de alguém.
Componho os meus livros a partir de milhares de vozes, testemunhos,
fragmentos da nossa vida e do nosso ser. Demorei três a quatro anos a
escrever cada livro. Para cada projeto, conheci cerca de 500 a 700
pessoas e registei as conversas que mantive com elas. Os meus registos
compreendem várias gerações. Começam com as memórias de pessoas que
testemunharam a Revolução de 1917, atravessam as guerras e os gulags
estalinistas, chegando aos dias presentes. São as histórias de uma alma
soviética e russa.» - Svetlana Alexievich.
Leia as primeiras páginas aqui.
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