Sinopse
No
final do século XIX, dois colonizadores Portugueses, imbuídos de uma vaga
intenção civilizadora desembarcam numa parte remota do rio Congo para coordenar
um posto comercial. À medida que o tempo passa, começam a desmoralizar pela sua
incapacidade de enriquecer à custa do comércio de marfim. Sentimentos de
desconfiança mútua e mal entendidos com a população local isolam-nos no coração
da floresta tropical. Confrontados um com o outro iniciam uma caminhada em
direcção ao abismo.
Opinião por Artur Neves
O
esforço colonizador Português em África, durante os séculos XIX e XX teve como
principal intenção o desenvolvimento comercial com a metrópole e com isso o
lucro mais ou menos fácil, obtido à custa do trabalho quase gratuito dos povos
colonizados, sobre a capa diáfana da evangelização e da alfabetização como
promoção da espécie humana que habitava essas remotas regiões.
Como
nós, muitos outros povos Europeus se dedicaram à mesma prática com semelhante
sucesso ao nosso, e para o bem e para o mal, com as consequências finais
conhecidas de todos. O que este filme nos quer mostrar é a história de dois empreendedores
da época dedicados à captura de marfim para o transaccionar noutras paragens dele
carenciada.
O
argumento foi baseado numa novela de Joseph Conrad e foi adaptado ao cinema com
fracos recursos financeiros e técnicos que fazem dela, uma pálida imagem do que
foram aqueles tempos de ambição e desumanidade, na pele de dois colonizadores
que estabelecem em nenhures (pelo menos o filme não nos dá qualquer
enquadramento social ou de localização) um “Posto Avançado (dito) do Progresso”
e por lá se mantêm todo o tempo entre frivolidades e bebedeiras, primeiro a sós
e depois em amena comunhão com os autóctones mostrando-lhes as virtudes da ociosidade
e do vício, produzido por uma bebida com alto teor alcoólico, totalmente
estranha para eles até àquela altura.
Claro
que a euforia inicial da bebida, conduz posteriormente à reflexão e finalmente
à depressão, quando se constata que nada funciona, o trabalho não desenvolve e
os objectivos não se atingem sem o trabalho árduo que nunca passou por ali, nem
poderia passar com a organização mostrada no filme, contrariamente ao que foi a
colonização em África em que gente “boa” e “má” deixou lá a pele para fazer
fortuna, ou simplesmente morrer.
Porque
é que o cinema Português é sempre assim?... ou pateta, com a reedição de filmes
como; “Canção de Lisboa” e o “Pai Tirano”, ou tímido, limitado e pobrezinho como
neste filme que poderia constituir o princípio da redenção da burguesia
Portuguesa quanto ao colonialismo nacional. Felizmente nem todo o cinema actual
é assim e ressalvo a excepção que constitui o filme; “Jogo de Damas”, mas
neste, pese embora o desempenho dos actores que se apresenta escorreito e
linear, tudo o mais é pobrezinho e frugal, fixado naquele rincão de mato onde
tudo se passa, vive e morre sem qualquer rasgo de ambição, sem qualquer
extrapolação para o mundo real que justifica aquela aventura falhada.
Este
ano a Berlinale está a nosso favor e para lá de “Cartas da Guerra” de Ivo
Ferreira em competição pelo Urso de Ouro, também este filme será apresentado na
secção Forum e só lhe desejo as maiores venturas, muito embora tenha algumas
dúvidas.
Classificação:
4 numa escala de 10
Sem comentários:
Enviar um comentário