19 de fevereiro de 2016

Opinião – Posto Avançado do Progresso de Hugo Vieira da Silva


Sinopse

No final do século XIX, dois colonizadores Portugueses, imbuídos de uma vaga intenção civilizadora desembarcam numa parte remota do rio Congo para coordenar um posto comercial. À medida que o tempo passa, começam a desmoralizar pela sua incapacidade de enriquecer à custa do comércio de marfim. Sentimentos de desconfiança mútua e mal entendidos com a população local isolam-nos no coração da floresta tropical. Confrontados um com o outro iniciam uma caminhada em direcção ao abismo.

Opinião por Artur Neves
O esforço colonizador Português em África, durante os séculos XIX e XX teve como principal intenção o desenvolvimento comercial com a metrópole e com isso o lucro mais ou menos fácil, obtido à custa do trabalho quase gratuito dos povos colonizados, sobre a capa diáfana da evangelização e da alfabetização como promoção da espécie humana que habitava essas remotas regiões.
Como nós, muitos outros povos Europeus se dedicaram à mesma prática com semelhante sucesso ao nosso, e para o bem e para o mal, com as consequências finais conhecidas de todos. O que este filme nos quer mostrar é a história de dois empreendedores da época dedicados à captura de marfim para o transaccionar noutras paragens dele carenciada.
O argumento foi baseado numa novela de Joseph Conrad e foi adaptado ao cinema com fracos recursos financeiros e técnicos que fazem dela, uma pálida imagem do que foram aqueles tempos de ambição e desumanidade, na pele de dois colonizadores que estabelecem em nenhures (pelo menos o filme não nos dá qualquer enquadramento social ou de localização) um “Posto Avançado (dito) do Progresso” e por lá se mantêm todo o tempo entre frivolidades e bebedeiras, primeiro a sós e depois em amena comunhão com os autóctones mostrando-lhes as virtudes da ociosidade e do vício, produzido por uma bebida com alto teor alcoólico, totalmente estranha para eles até àquela altura.
Claro que a euforia inicial da bebida, conduz posteriormente à reflexão e finalmente à depressão, quando se constata que nada funciona, o trabalho não desenvolve e os objectivos não se atingem sem o trabalho árduo que nunca passou por ali, nem poderia passar com a organização mostrada no filme, contrariamente ao que foi a colonização em África em que gente “boa” e “má” deixou lá a pele para fazer fortuna, ou simplesmente morrer.
Porque é que o cinema Português é sempre assim?... ou pateta, com a reedição de filmes como; “Canção de Lisboa” e o “Pai Tirano”, ou tímido, limitado e pobrezinho como neste filme que poderia constituir o princípio da redenção da burguesia Portuguesa quanto ao colonialismo nacional. Felizmente nem todo o cinema actual é assim e ressalvo a excepção que constitui o filme; “Jogo de Damas”, mas neste, pese embora o desempenho dos actores que se apresenta escorreito e linear, tudo o mais é pobrezinho e frugal, fixado naquele rincão de mato onde tudo se passa, vive e morre sem qualquer rasgo de ambição, sem qualquer extrapolação para o mundo real que justifica aquela aventura falhada.
Este ano a Berlinale está a nosso favor e para lá de “Cartas da Guerra” de Ivo Ferreira em competição pelo Urso de Ouro, também este filme será apresentado na secção Forum e só lhe desejo as maiores venturas, muito embora tenha algumas dúvidas.
Classificação: 4 numa escala de 10

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