1 de fevereiro de 2016

Opinião - "Carol" de Todd Haynes

 
Sinopse:
A jovem Therese Belivet (Rooney Mara) tem um emprego entediante na secção de brinquedos de uma loja de departamentos. Um dia, conhece a elegante Carol Aird (Cate Blanchett), uma cliente que procura um presente de Natal para a sua filha. Carol, que está a divorciar-se de Harge (Kyle Chandler), também não está contente com a sua vida. As duas aproximam-se cada vez mais e, quando Harge a impede de passar o Natal com a filha, Carol convida Therese a fazer uma viagem pelos Estados Unidos.
 
Opinião por Marta Nogueira
Therese conhece Carol numa loja durante a azáfama das compras de Natal e logo nesse momento sente uma estranha sensação que não consegue ainda explicar. Esta sensação é partilhada por Carol que, mais velha, sofisticada e resolvida consigo própria, sabe identificá-la. Como uma amiga mais experiente ou como uma mestra paciente, Carol convida Therese a entrar lentamente no seu mundo, trazendo-a para a sua casa e partilhando com ela  a sua vida de uma forma cada vez mais íntima e presente. Até que Therese percebe que a sua relação com o namorado em nada se assemelha à necessidade e desejo que tem por aquela mulher, que a satisfaz em todos os sentidos que os homens nunca conseguirão.
Numa época em que as relações homossexuais eram um tabu absoluto, a década de 50 nos EUA, em que se esperava das famílias a exacta reprodução interior e exterior de um quadro de Norman Rockwell, as duas mulheres tornam-se amantes proibidas e essa relação irá abalar as fundações já de si periclitantes das suas vidas organizadas   de acordo com o que as convenções ditam e as expectativas obrigam relativamente aos estereótipos esperados de cada sexo. Carol vive um casamento de conveniência com um marido que suspeita das suas preferências sexuais e ameaça retirar-lhe o filho por causa da sua ligação com Therese. Esta, por sua vez, vê as suas supostas crenças desmoronarem-se à medida que se sente cada vez mais ligada a Carol.
Este filme seguro e contido  de Todd Haynes possui dois grandes trunfos - um argumento sólido que foge habilmente aos excessos melodramáticos e duas actrizes deslumbrantes capazes de dar e receber na medida exacta, sem precisarem de transbordar o seu talento para lá da justa medida de realismo.
Haynes oferece-nos uma crónica impecavelmente equilibrada sobre um amor inevitável e inquebrável, apesar de todas as exclamações que o rodeiam, incluindo as de uma das metades desta laranja ao mesmo tempo doce e amarga.
Justamente, ambas as actrizes estão nomeadas para oscares. Injustamente, Rooney Mara para Melhor Actriz Secundária, mas provavelmente se não fosse nesta categoria não teria sequer recebido nomeação. Rooney Mara é aquele tipo de actriz capaz de uma performance absolutamente perfeita em modo de under-acting, o que muitas vezes passa despercebida aos mais distraídos. Quanto a Blanchett, é provavelmente a melhor actriz da actualidade.

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