18 de janeiro de 2016

Opinião - "O Regresso" de Alejandro Iñárritu



Sinopse:
1822. Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) parte para o oeste americano disposto a ganhar dinheiro caçando. Atacado por um urso, fica seriamente ferido e é abandonado à própria sorte pelo parceiro John Fitzgerald (Tom Hardy). Entretanto, mesmo com toda a adversidade, Glass consegue sobreviver e inicia uma árdua jornada em busca de vingança.
 
Opinião por Marta Nogueira
O Regresso é baseado em parte na história do verdadeiro Hugh Glass, de que pouco se sabe para além de que foi um caçador que sofreu o terrível ataque dum urso pardo e terá sido capturado e vivido alguns anos entre a tribo índia dos Pawnee, tendo casado com uma nativa.
Iñárritu adaptou em parte também o romance de Michael Punke "The Revenant: A Novel of Revenge" para contar este absoluto tour de force oferecido a Leonardo DiCaprio (mais um), o menino prodígio que de menino já só mantém o rosto eternamente jovem e que prossegue a sua carreira prodigiosa e brilhante, sem falhas.
A palavra "revenant" não tem tradução directa para português, significando "alguém que regressa depois da morte ou de uma longa ausência" e é uma expressão utilizada desde o século XIX pelos franceses para descrever um fantasma. E, de facto, adapta-se na perfeição ao relato de absoluta resiliência que Iñárritu constrói através de uma reconstituição histórica extraordinariamente bem urdida sobre este caçador de peles com um instinto de sobrevivência quase absurdo, que resiste ao horrífico ataque de um urso pardo, ao assassínio do seu filho pela mão de um dos seus companheiros de viagem que, por sua vez, o abandona à morte certa no meio de um Inverno rigorosíssimo e, finalmente, à sua própria perseguição para se vingar daquele.
O realizador mexicano apropria-se de um dos mais populares e acarinhados símbolos da mitologia americana - os exploradores de novas fronteiras - para narrar o confronto entre dois estilos de sobrevivência absolutamente opostos. De um lado a respiração e os olhos de DiCaprio, puros e íntegros, teimosos e orgulhosos, do outro a raiva, os esquemas, as maquinações de Tom Hardy, o actor inglês a quem foi entregue o papel da nemesis de Glass, John Fitzgerald.
E se o filme é carregado pela respiração e pelo olhar de DiCaprio, que enche o écran com o seu desempenho, o inglês Hardy tem o papel da sua vida, com uma transformação física e linguística soberba, escandalosamente ignorada pelos recentes Globos de Ouro mas não pelos próximos Oscares. Ambos estão nomeados, respectivamente para Actor Principal e Actor Secundário, bem como Iñárritu para realizador e o próprio filme que carrega um total de 12 nomeações e poderá ser o grande vencedor da noite.
Seguindo a tradição de Hollywood, o bem vence o mal e são os olhos de DiCaprio, um azul carregado de teimosia e resistência, que nos fitam directamente no fim. Acabamos por não ter a certeza se sobreviveu, mas isso não importa, porque como Glass afirma algures durante o filme "I am not afraid to die anymore. I've done it already."

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