14 de janeiro de 2016

Opinião - "O Homem Que Perseguia o Tempo" de Diane Setterfield

 
Sinopse:
Num momento de rivalidade infantil, William deixa-se levar pelo entusiasmo e não hesita em apontar a fisga a uma gralha-calva poisada num ramo, que acaba por matar. Um ato que, apesar de cruel, não teve qualquer significado e depressa foi esquecido. Mas as gralhas-calvas não esquecem...
Anos depois, já na idade adulta, com mulher e filhos, quando um desconhecido entra misteriosamente na vida de William, a sua sorte começa a mudar - e surgem as consequências terríveis e imprevistas daquele incidente do passado. Numa tentativa desesperada de salvar o único bem precioso que lhe resta, William celebra um acordo deveras estranho, com um sócio ainda mais estranho. Juntos, fundam um negócio inquestionavelmente macabro.
 
Opinião por Marta Nogueira
Diane Setterfield constrói com exímia perícia, contenção e economia de palavras um romance brilhante, arrepiante e estranho sobre um rapaz que muda para sempre a vida de um ser e, já adulto, vê a sua própria vida mudar radicalmente quase do dia para a noite - como consequência ou não? desse breve mas fundamental episódio escrito na sua infância. Na verdade, vamos descobrindo ao longo da narrativa cheia de mistério e interrogações colocadas subliminarmente ao leitor, que talvez as explicações directas e detalhadas deixem de importar a partir de certa altura e que o objectivo não é descobrir quem ou o quê perturbou a vida de William Bellman.
A história segue a vida de quatro rapazes presentes nesse episódio quase iniciático, mas sobretudo a de Will Bellman cuja ascensão e sucesso seguidas pela tragédia e pela infelicidade, Setterfield descreve em capítulos curtos e concisos e que apetece ler uns a seguir aos outros com avidez. Informações necessárias e suficientes sobre a vida destas personagens, pontilhadas com pequenos e subtis apontamentos sobre outras vidas que se entrelaçaram com a de Will no início da sua viagem por este mundo, fornecem-nos mais dúvidas do que certezas, mas é desta forma que a autora consegue conquistar o leitor de forma inequívoca.
Este é um romance sobre culpa e arrependimento, sobre a consciência de uma criança, sobre a memória, sobre a perda e sobre como por vezes somos capazes de desperdiçar uma vida inteira por não sermos capazes de nos perdoarmos a nós próprios, por não sermos capazes de abraçarmos os desgostos, fazermos o luto e seguirmos em frente, como Dora, a sua filha, consegue.

1 comentário:

Denise disse...

Gostei imenso desse livro.
Boas leituras!