16 de janeiro de 2016

Opinião – “Jogo de Damas” de Patrícia Sequeira


Sinopse

Depois do velório de Marta, as suas cinco melhores amigas vão passar a noite no turismo rural que ela não chegou a inaugurar. Essa longa noite é uma viagem labiríntica pelos caminhos da amizade, na qual cada um se revela como se fosse o ultimo dia. Na véspera do enterro, fala-se da vida e de uma amizade que sobreviveu a tudo. Mas será esta amizade capaz de sobreviver à morte?

Opinião por Artur Neves
Cinco mulheres, relacionadas entre si por laços de amizade antiga e duradoura, vão aguardar o funeral da sexta amiga que partiu, numa casa situada no distrito de Alcácer do Sal que tinha sido o seu último projecto antes de falecer. O ambiente entre elas é de pesar e de consternação e a pernoita naquela casa significa também uma homenagem póstuma à amiga falecida que as gostava de juntar tornando aquele convívio a oportunidade de fruir da amizade que as unia desde os bancos de escola.
Durante essa noite as conversas tornam-se mais intimistas, reflexivas, confessionais até e o ambiente criado, ajudado pelo vinho do jantar e pelos charros fumados assumidamente por umas e compelidamente por outras, adensa a relação entre elas descobrindo-se segredos impensáveis, e revelações conhecidas mas não confirmadas até então, estabelecendo uma diferenciação entre elementos aparentemente ligados por semelhanças de género e de amor sadio.
É no fundo a vida que explode em todo o seu esplendor naquele microcosmos de contradições, convenções, filosofias que nos suportam os comportamentos e as atitudes e constituem os alicerces de qualquer vida estruturada. Não interessa se o alicerce está bem montado, se é verdadeiro ou até real, o fundamental é que exista e que nos sirva e baste em cada momento para justificar uma existência equilibrada, coerente e parcialmente sã no ambiente em que aquele grupo de longa data está envolvido.
A realizadora; Patrícia Sequeira e a autora do argumento; Filipa Leal, têm aqui uma boa obra, embora para a primeira seja a sua estreia em realização para cinema, considerando que já tem experiência em novelas de sucesso para a televisão e para a segunda, assumidamente poeta, em vésperas de publicação do seu novo livro; “Pelos Leitores de Poesia”, conseguiram criar com recursos limitados um filme sóbrio, interessante, moderno nas suas abordagens aos problemas da nossa época, capaz de nos fazer sorrir como de reprimir um soluço atrevido e sobretudo fazer reflectir sobre as convenções da nossa sociedade e na consistência do nosso conhecimento sobre a realidade e a verdade das pessoas que nos são próximas. Um filme diferente da tradição popular do cinema Português, capaz de se confrontar com obras semelhantes em qualquer parte do planeta e que para mim significa uma experiência de género a repetir.
Classificação: 6,5 numa escala de 10

Sem comentários: