21 de dezembro de 2015

Opinião – “Os Príncipes de Camelot” de Patrick Jeudy




Sinopse:
O que faz a vida familiar a uma criança? O que retém essa criança de todos os seus desafios, aspirações, deveres? Especialmente quando essa família se chama Kennedy, o clan que esteve no centro das atenções da América e do mundo. Caroline, Robert, Christopher, Mary, John-John e David tinham todos entre sete e onze anos quando o Presidente John F. Kennedy foi assassinado e entre treze e dezassete quando Bobby Kennedy foi abatido. À medida que os anos foram passando, todos eles conheceram a intoxicação do estilo de vida das crianças ricas, mas também tomaram conhecimento de todas as infidelidades dos mais velhos membros da família, de todos os romances secretos do Presidente e de todas as ameaças que pairavam sobre a sua família. O documentário analisa essas infâncias privilegiadas e esses destinos destruídos e, através de filmes oficiais e arquivos íntimos, revela as complexas personalidades do clan Kennedy, criando um retrato de família que pode ser nostálgico, mas que não omite nada. É uma história privada familiar, vista através dos olhos das crianças, com toda a sua ingenuidade, dúvidas e perguntas; uma história que levanta finalmente o véu sobre a vida privada de uma das mais poderosas famílias do século XX.
 
Opinião por Marta Nogueira
"Somebody up there doesn't like us." - Robert Kennedy
Este documentário conta a história do fabuloso destino daquela que foi apelidada de dinastia Camelot, vista pelos olhos das suas crianças. Fabuloso não significa aqui maravilhoso, antes surpreendente. Dolorosamente intenso. Trágico.
O primeiro foi Joseph Jr., que morreu aos 29 anos durante a II Guerra Mundial. O filho mais velho do embaixador e patriarca Joseph Kennedy, era ele quem deveria ter sido o Presidente dos EUA. Com a morte do irmão, John foi empurrado para a frente de batalha. Morreria 19 anos depois, assassinado muito provavelmente pela máfia que se dedicara a perseguir. A morte de John fez chegar à frente Bobby, a próxima vítima de sacrifício, que seria alvejado apenas 5 anos depois do seu irmão, antes sequer de ter oportunidade para ocupar a Sala Oval, supostamente pela mesma máfia.
Como Abraão, percebemos que Joseph ofereceu ciclicamente os seus filhos para o sacrifício em troca do governo do mundo. A ambição desmesurada do patriarca dos Kennedy fê-lo ordenar uma lobotomia cerebral à sua filha Rosemary apenas porque a rapariga era demasiado vivaça para poder arruinar a carreira política e a reputação dos seus irmãos masculinos! Dela sempre se disse que não era normal. Diferente, talvez ... incómoda, muito provavelmente ...
As mortes na família Kennedy foram, essas sim, uma norma. O documentário acrescenta que elas nunca foram devidamente explicadas às suas crianças, que cresceram julgando-se uma espécie de semi-deuses a quem tudo era permitido mas que tinham presente, como reverso da medalha, o pesado preço a pagar por tanta impunidade, fama e poder - os funerais sempre foram o pão nosso de cada dia na família Kennedy.
Também elas, as crianças, fariam parte da malfadada estatística.
Três dos cinco bebés de John e Jackie morreram mal nasceram.
John John morreria aos 39 anos num acidente de avião, com a mulher e a cunhada.
David, filho de Bobby, morreria de overdose aos 29 anos.
Michael, filho de Bobby, morreria de um acidente de ski, aos 39 anos.
Curiosamente, as mortes prematuras cessaram à quinta geração. Mas talvez ainda seja cedo ...
Alguém um dia disse que numa família tão numerosa, era natural que estatisticamente houvessem tantas mortes. Mas esse alguém esqueceu-se que esta família não era normal. E que as suas mortes foram tudo menos apenas uma parte da estatística. Elas mudaram o curso do mundo. O destino encarregou-se de equilibrar a balança. Podeis ter o mundo, mas não podeis sobreviver-lhe todos.
Os príncipes de Camelot foram sucessivamente oferecidos para o sacrifício, como Job. Apenas um sobreviveu. O mais fraco. Aquele que voltou as costas ao poder, Ted Kennedy. Nenhum filho lhe morreu, mas Ted Jr. teve de amputar uma perna aos 12 anos em consequência de um osteosarcoma. Como se o fabuloso destino dos Camelot afirmasse - não levaremos nenhum dos teus, mas ainda assim, apenas por seres Kennedy, existe um preço a pagar.

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