Sinopse:
O que faz a vida familiar a uma
criança? O que retém essa criança de todos os seus desafios, aspirações,
deveres? Especialmente quando essa família se chama Kennedy, o clan que esteve
no centro das atenções da América e do mundo. Caroline,
Robert, Christopher, Mary, John-John e David tinham todos entre sete e onze
anos quando o Presidente John F. Kennedy foi assassinado e entre treze e
dezassete quando Bobby Kennedy foi abatido. À
medida que os anos foram passando, todos eles conheceram a intoxicação do
estilo de vida das crianças ricas, mas também tomaram conhecimento de todas as
infidelidades dos mais velhos membros da família, de todos os romances secretos
do Presidente e de todas as ameaças que pairavam sobre a sua família. O
documentário analisa essas infâncias privilegiadas e esses destinos destruídos
e, através de filmes oficiais e arquivos íntimos, revela as complexas
personalidades do clan Kennedy, criando um retrato de família que pode ser
nostálgico, mas que não omite nada. É uma história privada familiar, vista
através dos olhos das crianças, com toda a sua ingenuidade, dúvidas e
perguntas; uma história que levanta finalmente o véu sobre a vida privada de
uma das mais poderosas famílias do século XX.
Opinião por
Marta Nogueira
"Somebody up there doesn't like us." - Robert
Kennedy
Este documentário conta a história do fabuloso destino
daquela que foi apelidada de dinastia Camelot, vista pelos olhos das suas
crianças. Fabuloso não significa aqui maravilhoso, antes surpreendente.
Dolorosamente intenso. Trágico.
O primeiro foi Joseph Jr., que morreu aos 29 anos durante a
II Guerra Mundial. O filho mais velho do embaixador e patriarca Joseph Kennedy,
era ele quem deveria ter sido o Presidente dos EUA. Com a morte do irmão, John
foi empurrado para a frente de batalha. Morreria 19 anos depois, assassinado
muito provavelmente pela máfia que se dedicara a perseguir. A morte de John fez
chegar à frente Bobby, a próxima vítima de sacrifício, que seria alvejado
apenas 5 anos depois do seu irmão, antes sequer de ter oportunidade para ocupar
a Sala Oval, supostamente pela mesma máfia.
Como Abraão, percebemos que Joseph ofereceu ciclicamente os
seus filhos para o sacrifício em troca do governo do mundo. A ambição
desmesurada do patriarca dos Kennedy fê-lo ordenar uma lobotomia cerebral à sua
filha Rosemary apenas porque a rapariga era demasiado vivaça para poder
arruinar a carreira política e a reputação dos seus irmãos masculinos! Dela
sempre se disse que não era normal. Diferente, talvez ... incómoda, muito
provavelmente ...
As mortes na família Kennedy foram, essas sim, uma norma. O
documentário acrescenta que elas nunca foram devidamente explicadas às suas
crianças, que cresceram julgando-se uma espécie de semi-deuses a quem tudo era
permitido mas que tinham presente, como reverso da medalha, o pesado preço a
pagar por tanta impunidade, fama e poder - os funerais sempre foram o pão nosso
de cada dia na família Kennedy.
Também elas, as crianças, fariam parte da malfadada
estatística.
Três dos cinco bebés de John e Jackie morreram mal
nasceram.
John John morreria aos 39 anos num acidente de avião, com a
mulher e a cunhada.
David, filho de Bobby, morreria de overdose aos 29 anos.
Michael, filho de Bobby, morreria de um acidente de ski,
aos 39 anos.
Curiosamente, as mortes prematuras cessaram à quinta
geração. Mas talvez ainda seja cedo ...
Alguém um dia disse que numa família tão numerosa, era
natural que estatisticamente houvessem tantas mortes. Mas esse alguém
esqueceu-se que esta família não era normal. E que as suas mortes foram tudo
menos apenas uma parte da estatística. Elas mudaram o curso do mundo. O destino
encarregou-se de equilibrar a balança. Podeis ter o mundo, mas não podeis
sobreviver-lhe todos.
Os príncipes de Camelot foram sucessivamente oferecidos
para o sacrifício, como Job. Apenas um sobreviveu. O mais fraco. Aquele que
voltou as costas ao poder, Ted Kennedy. Nenhum filho lhe morreu, mas Ted Jr.
teve de amputar uma perna aos 12 anos em consequência de um osteosarcoma. Como
se o fabuloso destino dos Camelot afirmasse - não levaremos nenhum dos teus,
mas ainda assim, apenas por seres Kennedy, existe um preço a pagar.
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