18 de outubro de 2015

Opinião - A Guerra Eterna - Joe Haldeman


Título: A Guerra Eterna
Autor: Joe Haldeman
Editora: Edições Asa

Sinopse:
Em 1997 a Terra entra pela primeira vez em contacto com os extraterrestres tauranos. Este encontro marca o início de uma guerra impiedosa. As autoridades terrestres decidem enviar um contingente de elite, e preparam um programa de treino quase inumano, destinado a produzir soldados capazes de aguentar tudo. William Mandella é um desses soldados.
A fim de viajar até à frente de batalha, os soldados têm de atravessar portais chamados collapsars, que causam uma distorção espáciotemporal, fazendo com que o tempo subjetivo da nave seja mais lento que o tempo «real» do universo. Ou seja, quando Mandella regressa a casa após dois anos, quase três décadas passaram na Terra. E conforme viajam para mais longe, maior é a dilatação, passando de décadas para séculos inteiros.
A luta mais cruel que estes soldados terão de travar será a sua batalha pessoal contra o tempo.

Opinião por Jorge Figueiredo:
Uma das obras fundamentais de Ficção Científica, A Guerra Eterna surpreende pela forma como mistura um cenário de “ópera espacial” com uma forte componente de possível realismo da vida militar em tempo de conflito.
Empolgante como obra de acção, o livro tem uma mensagem anti-bélica que continua a fazer sentido hoje mas cuja expressão é maior quando vista à luz da Guerra do Vietname que acabara há pouco e que o autor conheceu de forma directa: o apelido do protagonista, William Mandella, é uma variação aproximada do do autor.
Por exemplo, a leitura complexa das afinidades e/ou obrigações sexuais dos militares ao longo da obra não podem deixar de ser vistas como uma ponte entre o que fora a geração “Peace and Love” e o rasto de crimes hediondos que os militares deixaram ao longo do tempo de guerra. Tal como o retorno do protagonista a uma Terra onde se passaram séculos, que para ele não foram mais do que um ano, mostra uma incapacidade de conciliar o serviço militar com a realidade deixada para trás e vice-versa, ou seja, da sociedade aceitar o retorno de homens capazes de cometer atrocidades.
Um sintoma grave da Guerra do Vietname levado ao extremo pela inclusão no livro da Teoria da Relatividade, que enriquece o ambiente do livro. A preparação do autor ao nível teórico é digna de nota e é suportada pelo facto de Joe Haldeman fazer um trabalho de descrição meticuloso. E isso tanto é bom como mau.
Bom porque funciona de forma brilhante na envolvência das cenas de batalha e porque nos dá uma enorme compreensão da Física que ele inclui no seu romance bélico. Mau porque, no limite, desequilibra muito o livro que é veloz nos combates e lento nas explicações teóricas.
Talvez fosse difícil conciliar os dois momentos de forma mais contínua e certamente que não é isso que faz com que o livro não seja uma leitura fundamental.

Sem comentários: