1 de abril de 2015

Opinião - A Rapariga que Roubava Livros - Markus Zusak


Título: A Rapariga que Roubava Livros
Autor: Markus Zusak 
Editora: Editorial Presença 

Sinopse: 
Quando a morte nos conta uma história temos todo o interesse em escutá-la. Assumindo o papel de narrador em A Rapariga Que Roubava Livros, vamos ao seu encontro na Alemanha, por ocasião da segunda guerra mundial, onde ela tem uma função muito activa na recolha de almas vítimas do conflito. E é por esta altura que se cruza pela segunda vez com Liesel, uma menina de nove anos de idade, entregue para adopção, que já tinha passado pelos olhos da morte no funeral do seu pequeno irmão.
Foi aí que Liesel roubou o seu primeiro livro, o primeiro de muitos pelos quais se apaixonará e que a ajudarão a superar as dificuldades da vida, dando um sentido à sua existência. Quando o roubou, ainda não sabia ler, será com a ajuda do seu pai, um perfeito intérprete de acordeão que passará a saber percorrer o caminho das letras, exorcizando fantasmas do passado.
Ao longo dos anos, Liesel continuará a dedicar-se à prática de roubar livros e a encontrar-se com a morte, que irá sempre utilizar um registo pouco sentimental embora humano e poético, atraindo a atenção de quem a lê para cada frase, cada sentido, cada palavra. Um livro soberbo que prima pela originalidade e que nos devolve um outro olhar sobre os dias da guerra no coração da Alemanha e acima de tudo pelo amor à literatura. 

Opinião por Tânia Sofia Almeida: 
O livro de que vos decidi falar é daqueles que não consegue deixar ninguém indiferente. Porquê?! Bom, por variadas razões. Mas não preciso ir muito longe. O próprio narrador atípico nos leva a querer (melhor a desejar) ler este livro. Mas que narrador é este? Que livro é este?
Se já implantei alguma semente de curiosidade em vocês, então posso considerar missão cumprida. Um livro que não nos sai da cabeça, que não nos deixa dormir (talvez esteja a exagerar um pouco agora), tem de ter uma crítica à sua altura. Esperem, retiro esta última parte. Uma ambição demasiado elevada (diria mesmo inatingível). Já sinto a pressão. Não me julguem fraca, darei o meu melhor, e, se conseguir, tentarei contagiar-vos com o vírus que se apoderou de mim no preciso momento em que li a primeira página deste maravilhoso livro.
Talvez já saibam a que livro me estou a referir. Ou talvez já tenham algumas hipóteses levantadas. Mas uma coisa é certa, se leram este livro, sabem muito bem do que estou a falar. De qualquer das formas, manterei o mistério.
Digo-vos já que cometi um grande erro. Não agora, mas antes de ler o livro. O erro, ao contrário do narrador deste livro, não foi nada atípico. Talvez vocês já se tenham visto na mesma situação. Eu já tinha, apesar de poucas vezes.
Acontece que apenas fiquei a saber da existência deste livro e do que ele contava uns dias antes de sair o filme aqui em Portugal. Como vocês já devem estar a pensar, decidi ir ver o filme, porque fiquei intrigada com a história e não conseguiria aguentar ter de esperar até ter o livro. Amei o filme e, por isso, convenci logo alguém a oferecer-mo (utilizemos as palavras certas: obriguei a minha mãe a comprá-lo).
Sou-vos sincera, o livro ficou cerca de três semanas na minha estante no meio de tantos outros livros que sempre me pareciam mais urgentes de ler. Já sabia a história, o que é que o livro me traria de novo? Confesso que, como já referi antes, já me aconteceu algumas vezes isto (ver o filme e só depois ler o livro), mas o resultado nunca me animou muito: acabei sempre por achar o livro menos interessante, faltava o elemento chave do mistério, do desconhecido, a surpresa do que vai acontecer a seguir. “Este não seria diferente dos outros”, pensei eu. Todavia, não podia estar mais equivocada.
Já sabia o que se ia passar? Sim. Já sabia o fim da história? Sim. Mas e depois? O próprio narrador faz questão de ser um spoiler constante, o que me surpreendeu bastante. “Como assim, ele já está a dizer no início o que vai acontecer no final da história?”, pensei para mim na altura. E, há medida que fui lendo, fui-me apercebendo que o livro estava cheio destes pequenos adiantamentos da narrativa. Não julgo, no entanto, que estes estraguem o mistério que deve estar sempre presente num livro. O mistério continua lá, de forma diferente, mas continua. É quase como se nos dessem o bolo e só depois nos explicassem a receita. Acreditem, isso só torna o bolo muito mais saboroso.
Já estão fartos de mim, estou certa? Tantas palavras, e ainda nem o título do livro vos disse. É justo, aguentaram até aqui as minhas inúmeras palavras. Eis quatro factos sobre a história deste livro (pode ser que ajude): passa-se na 2ª Guerra Mundial; numa cidade alemã; a personagem principal é uma rapariga que roubava livros; o narrador é a morte.
Demasiado fácil agora, não? Talvez já tivessem chegado à resposta antes, mas agora tornou-se excessivamente óbvio (só para ter a certeza que apanharam, título do livro: “A rapariga que roubava livros”).
E como uma boa crítica, normalmente, necessita sempre de ser acompanhada por um breve (brevíssimo, que palavras já usei muitas) resumo do livro (e isto é mais para os poucos distraídos que ainda não sabem do que se trata esta história), aqui vai: a morte narra-nos a história da pequena Liesel Meminger, uma rapariga de nove anos, que vê, não uma, mas 3 vezes. Esta depois de perder o irmão e a mãe é adotada por Hans, o pintor acordeonista, e Rosa, a mulher que aparenta demasiada dureza.
A história decorre em Molching (que fica em Munique para quem não sabe) durante a Segunda Guerra Mundial, onde a morte desempenha um papel ativo na recolha das almas vítimas do conflito. Mas a morte não nos fala só de morte (desculpem a redundância), muito pelo contrário, esta fala-nos da amizade que Liesel trava com o pequeno Rudy, da relação tão especial que se cria entre esta e Max, o pugilista judeu, que um dia veio esconder-se na cave da família Hubermann, e da força que pode estar contida em meras palavras. Era, assim, nos livros, roubados ou não, que Liesel encontrava a força para continuar a viver. E é esta vontade de viver que nos contagia a nós, leitores, e à morte.
Contei-vos o resumo, mas o livro é mais do que a história. O livro é a forma como esta é contada. O livro é as palavras que são escolhidas. O livro é as emoções e lições de vida que a história transmite. O livro é o que o escritor faz dele.
Markus Zusak conta uma história simples, baseando-se num tema mais do que explorado (estou a falar da Segunda Guerra Mundial, é claro) para dar ao leitor as palavras que não espera, deixando-o completamente entranhado num cocktail de emoções e fazendo-o viajar para um cenário provável através de olhos mais do que improváveis (os da morte).
Devo dizer que apesar de ter demorado tanto tempo para pegar no livro, demorei apenas três dias para o ler (melhor dizendo, não o li, devorei-o). O filme não estragou o prazer que este livro me proporcionou (muito mais do que o filme). E apesar do filme ser muito fiel à história do livro, faltam lá as palavras e o poder que estas têm sobre o leitor para viajar pela história no seu próprio barco percorrendo o seu próprio oceano (apesar de sujeito às marés do autor, neste caso, absolutamente necessárias para uma viajem que sozinhos nunca percorreríamos). Tenho assim que realçar que o autor se mostra mestre das palavras, utilizando soberbas metáforas e descrevendo a história como se pudéssemos visualizar, sentir e cheirar cada pormenor. É simplesmente genial. 
Termino esta crítica (já com metade das pessoas que a começaram a ler, obrigada a quem se manteve aí desse lado para o final deste meu testamento) admitindo que talvez não tenha alcançado a minha tão grande ambição, esperando ter conseguido transmitir a minha paixão, e desejando saber a vossa opinião (desculpem lá esta rima foleira, não resisti). Se ainda não compraram o livro, estão à espera do quê? Claramente que já estão completamente convencidos de que não existe outra opção. Já espreitaram um bocadinho do bolo, agora vão ter que ler e experimentar toda a receita.

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