Título: A Rapariga que Roubava Livros
Autor: Markus Zusak
Editora: Editorial Presença
Opinião por Tânia Sofia Almeida:
Editora: Editorial Presença
Sinopse:
Quando a morte nos conta uma
história temos todo o interesse em escutá-la. Assumindo o papel de narrador em A
Rapariga Que Roubava Livros, vamos ao seu encontro na Alemanha, por ocasião
da segunda guerra mundial, onde ela tem uma função muito activa na recolha de
almas vítimas do conflito. E é por esta altura que se cruza pela segunda vez
com Liesel, uma menina de nove anos de idade, entregue para adopção, que já
tinha passado pelos olhos da morte no funeral do seu pequeno irmão.
Foi aí que Liesel roubou o seu
primeiro livro, o primeiro de muitos pelos quais se apaixonará e que a ajudarão
a superar as dificuldades da vida, dando um sentido à sua existência. Quando o
roubou, ainda não sabia ler, será com a ajuda do seu pai, um perfeito
intérprete de acordeão que passará a saber percorrer o caminho das letras,
exorcizando fantasmas do passado.
Ao longo dos anos, Liesel
continuará a dedicar-se à prática de roubar livros e a encontrar-se com a
morte, que irá sempre utilizar um registo pouco sentimental embora humano e
poético, atraindo a atenção de quem a lê para cada frase, cada sentido, cada
palavra. Um livro soberbo que prima pela originalidade e que nos devolve um
outro olhar sobre os dias da guerra no coração da Alemanha e acima de tudo pelo
amor à literatura.
Opinião por Tânia Sofia Almeida:
O livro de que vos decidi falar é daqueles que não consegue deixar ninguém
indiferente. Porquê?! Bom, por variadas razões. Mas não preciso ir muito longe.
O próprio narrador atípico nos leva a querer (melhor a desejar) ler este livro.
Mas que narrador é este? Que livro é este?
Se já implantei alguma semente de curiosidade em vocês, então posso
considerar missão cumprida. Um livro que não nos sai da cabeça, que não nos
deixa dormir (talvez esteja a exagerar um pouco agora), tem de ter uma crítica
à sua altura. Esperem, retiro esta última parte. Uma ambição demasiado elevada
(diria mesmo inatingível). Já sinto a pressão. Não me julguem fraca, darei o
meu melhor, e, se conseguir, tentarei contagiar-vos com o vírus que se apoderou
de mim no preciso momento em que li a primeira página deste maravilhoso livro.
Talvez já saibam a que livro me estou a referir. Ou talvez já tenham
algumas hipóteses levantadas. Mas uma coisa é certa, se leram este livro, sabem
muito bem do que estou a falar. De qualquer das formas, manterei o mistério.
Digo-vos já que cometi um grande erro. Não agora, mas antes de ler o livro.
O erro, ao contrário do narrador deste livro, não foi nada atípico. Talvez
vocês já se tenham visto na mesma situação. Eu já tinha, apesar de poucas
vezes.
Acontece que apenas fiquei a saber da existência deste livro e do que ele
contava uns dias antes de sair o filme aqui em Portugal. Como vocês já devem
estar a pensar, decidi ir ver o filme, porque fiquei intrigada com a história e
não conseguiria aguentar ter de esperar até ter o livro. Amei o filme e, por
isso, convenci logo alguém a oferecer-mo (utilizemos as palavras certas: obriguei
a minha mãe a comprá-lo).
Sou-vos sincera, o livro ficou cerca de três semanas na minha estante no
meio de tantos outros livros que sempre me pareciam mais urgentes de ler. Já
sabia a história, o que é que o livro me traria de novo? Confesso que, como já referi antes, já me aconteceu algumas vezes isto (ver
o filme e só depois ler o livro), mas o resultado nunca me animou muito: acabei
sempre por achar o livro menos interessante, faltava o elemento chave do
mistério, do desconhecido, a surpresa do que vai acontecer a seguir. “Este não
seria diferente dos outros”, pensei eu. Todavia, não podia estar mais
equivocada.
Já sabia o que se ia passar? Sim. Já sabia o fim da história? Sim. Mas e
depois? O próprio narrador faz questão de ser um spoiler constante, o
que me surpreendeu bastante. “Como assim, ele já está a dizer no início o que
vai acontecer no final da história?”, pensei para mim na altura. E, há
medida que fui lendo, fui-me apercebendo que o livro estava cheio destes
pequenos adiantamentos da narrativa. Não julgo, no entanto, que estes estraguem
o mistério que deve estar sempre presente num livro. O mistério continua lá, de
forma diferente, mas continua. É quase como se nos dessem o bolo e só depois
nos explicassem a receita. Acreditem, isso só torna o bolo muito mais saboroso.
Já estão fartos de mim, estou certa? Tantas palavras, e ainda nem o título
do livro vos disse. É justo, aguentaram até aqui as minhas inúmeras palavras.
Eis quatro factos sobre a história deste livro (pode ser que ajude): passa-se
na 2ª Guerra Mundial; numa cidade alemã; a personagem principal é uma rapariga
que roubava livros; o narrador é a morte.
Demasiado fácil agora, não? Talvez já tivessem chegado à resposta antes,
mas agora tornou-se excessivamente óbvio (só para ter a certeza que apanharam,
título do livro: “A rapariga que roubava livros”).
E como uma boa crítica, normalmente, necessita sempre de ser acompanhada
por um breve (brevíssimo, que palavras já usei muitas) resumo do livro (e isto
é mais para os poucos distraídos que ainda não sabem do que se trata esta
história), aqui vai: a morte narra-nos a história da pequena Liesel Meminger,
uma rapariga de nove anos, que vê, não uma, mas 3 vezes. Esta depois de perder
o irmão e a mãe é adotada por Hans, o pintor acordeonista, e Rosa, a mulher que
aparenta demasiada dureza.
A história decorre em Molching (que fica em Munique
para quem não sabe) durante a Segunda Guerra Mundial, onde a morte desempenha
um papel ativo na recolha das almas vítimas do conflito. Mas a morte não nos
fala só de morte (desculpem a redundância), muito pelo contrário, esta fala-nos
da amizade que Liesel trava com o pequeno Rudy, da relação tão especial que se
cria entre esta e Max, o pugilista judeu, que um dia veio esconder-se na cave
da família Hubermann, e da força que pode estar contida em meras palavras. Era,
assim, nos livros, roubados ou não, que Liesel encontrava a força para
continuar a viver. E é esta vontade de viver que nos contagia a nós, leitores,
e à morte.
Contei-vos o resumo, mas o livro é mais do que a história. O livro é a
forma como esta é contada. O livro é as palavras que são escolhidas. O livro é
as emoções e lições de vida que a história transmite. O livro é o que o
escritor faz dele.
Markus Zusak conta uma história simples, baseando-se num tema mais do que
explorado (estou a falar da Segunda Guerra Mundial, é claro) para dar ao leitor
as palavras que não espera, deixando-o completamente entranhado num cocktail
de emoções e fazendo-o viajar para um cenário provável através de olhos mais do
que improváveis (os da morte).
Devo dizer que apesar de ter demorado tanto tempo para pegar no livro,
demorei apenas três dias para o ler (melhor dizendo, não o li, devorei-o). O
filme não estragou o prazer que este livro me proporcionou (muito mais do que o
filme). E apesar do filme ser muito fiel à história do livro, faltam lá as
palavras e o poder que estas têm sobre o leitor para viajar pela história no
seu próprio barco percorrendo o seu próprio oceano (apesar de sujeito às marés
do autor, neste caso, absolutamente necessárias para uma viajem que sozinhos
nunca percorreríamos). Tenho assim que realçar que o autor se mostra mestre das
palavras, utilizando soberbas metáforas e descrevendo a história como se
pudéssemos visualizar, sentir e cheirar cada pormenor. É simplesmente genial.
Termino esta crítica (já com metade das pessoas que a começaram a ler,
obrigada a quem se manteve aí desse lado para o final deste meu testamento)
admitindo que talvez não tenha alcançado a minha tão grande ambição, esperando
ter conseguido transmitir a minha paixão, e desejando saber a vossa opinião
(desculpem lá esta rima foleira, não resisti). Se ainda não compraram o livro,
estão à espera do quê? Claramente que já estão completamente convencidos de que
não existe outra opção. Já espreitaram um bocadinho do bolo, agora vão ter que
ler e experimentar toda a receita.
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