3 de novembro de 2014

Lixo - Crítica

Ficha Técnica:
Título Original: Trash
Título Nacional: Lixo
Argumento: Richard Curtis
Realização: Stephen Daldry
Produção: Tim Bevan, Eric Fellner e Kris Thykier 

Opinião por João Salvador Fernandes:

Este ano tem sido rico em filmes baseados em obras literárias; e, desta vez, é Stephen Daldry que nos traz uma longa-metragem sustentada em Trash, livro de Andy Mulligan.

O realizador – famoso por ter dirigido As Horas, O Leitor e Billy Elliot – relata-nos, agora, uma história de três meninos brasileiros – Raphael, Gardo e Rato – que trabalham na apanha de lixo e se vêem enredados numa trama de corrução e crime. O trio, após encontrar a carteira de um tal de José Ângelo, resolve deslindar o enigma que liga este homem a uma avultada quantia de dinheiro. Uma investigação que se inicia por curiosidade pueril e se vai transformando numa perigosa missão, reflectindo uma mensagem marcadamente idealista.

A fita começa com um enquadramento que se encaixaria, facilmente, no realismo de produções recentes e celebrizadas do cinema brasileiro, como Tropa de Elite e Cidade de Deus, adoptando, progressivamente, uma orientação efabulada e um ritmo frenético típico de películas de aventura e acção.

Curiosamente, enquanto procura a mesura do realismo, as imagens e o argumento prendem-nos com mestria; elucidam-nos sobre a vida de miséria e violência daqueles que residem nas áreas suburbanas mais pobres do Brasil, procurando, nos detritos e nos resíduos, a matéria-prima da sua sobrevivência. A partir da altura em que se dá a mencionada aceleração, porém, o entrecho diminui de qualidade e interesse; banaliza-se e perde acutilância, despertando no espectador a decepção de quem foi levado a crer que estaria diante de algo superior.

O mesmo se pode dizer da tentativa de Daldry em conservar a ossatura diegética do livro, enxertando, entre o desenrolar das cenas, os depoimentos documentais da tríade protagonista. Na primeira fase, o resultado é manifestamente satisfatório; mas, com o apressurar do ritmo narrativo, a opção deixa de fazer sentido, acabando por se tornar num artifício que explica o evidente e lhe interrompe o andamento de um modo desnecessário.

Quanto aos actores, salientam-se os três rapazes de 14 anos, Rickson Tevez (Raphael), Eduardo Luís (Gardo) e Gabriel Weinstein (Rato); descobertos pelo próprio realizador, nas comunidades desfavorecidas do Rio de Janeiro, revelam um à-vontade com a câmara digno de nota.


Os consagrados Wagner Moura (José Ângelo), Selton Mello (Frederico) e Stepan Nercessian (António Santos) fazem jus aos seus pergaminhos. Já, Martin Sheen (padre Juilliard) e Rooney Mara (Olivia), por insuficiências de roteiro – ainda que não comprometendo –, pouco ou nada acrescentam ao enredo.

Um filme razoável e cheio de actualidade, num Brasil que reclama por direitos e Justiça, dada a proximidade temporal com as eleições presidenciais e com os protestos sociais que correram mundo durante o Mundial de Futebol. 


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