Título Original: Trash
Título Nacional: Lixo
Argumento: Richard Curtis
Realização: Stephen Daldry
Produção: Tim Bevan, Eric Fellner e Kris Thykier
Opinião por João Salvador Fernandes:
Este ano tem sido rico em filmes baseados em obras literárias; e, desta vez, é Stephen Daldry que nos traz uma longa-metragem sustentada em Trash, livro de Andy Mulligan.
Opinião por João Salvador Fernandes:
Este ano tem sido rico em filmes baseados em obras literárias; e, desta vez, é Stephen Daldry que nos traz uma longa-metragem sustentada em Trash, livro de Andy Mulligan.
O realizador – famoso por ter dirigido As Horas, O Leitor e Billy Elliot –
relata-nos, agora, uma história de três meninos brasileiros – Raphael, Gardo e
Rato – que trabalham na apanha de lixo e se vêem enredados numa trama de
corrução e crime. O trio, após encontrar a carteira de um tal de José Ângelo,
resolve deslindar o enigma que liga este homem a uma avultada quantia de
dinheiro. Uma investigação que se inicia por curiosidade pueril e se vai
transformando numa perigosa missão, reflectindo uma mensagem marcadamente
idealista.
A fita começa
com um enquadramento que se encaixaria, facilmente, no realismo de produções recentes
e celebrizadas do cinema brasileiro, como Tropa
de Elite e Cidade de Deus, adoptando,
progressivamente, uma orientação efabulada e um ritmo frenético típico de películas
de aventura e acção.
Curiosamente, enquanto
procura a mesura do realismo, as imagens e o argumento prendem-nos com mestria;
elucidam-nos sobre a vida de miséria e violência daqueles que residem nas áreas suburbanas mais pobres do Brasil, procurando, nos detritos e nos resíduos, a
matéria-prima da sua sobrevivência. A partir da altura em que se dá a mencionada aceleração, porém, o entrecho diminui de qualidade e interesse; banaliza-se e perde acutilância, despertando no espectador a decepção de quem foi levado a crer que estaria diante de algo superior.
O mesmo se pode dizer da tentativa de Daldry em conservar a ossatura diegética do livro, enxertando,
entre o desenrolar das cenas, os depoimentos documentais da tríade protagonista.
Na primeira fase, o resultado é manifestamente satisfatório; mas, com o
apressurar do ritmo narrativo, a opção deixa de fazer sentido, acabando por se
tornar num artifício que explica o evidente e lhe interrompe o andamento de um
modo desnecessário.
Quanto aos actores,
salientam-se os três rapazes de 14 anos, Rickson Tevez (Raphael), Eduardo Luís
(Gardo) e Gabriel Weinstein (Rato); descobertos pelo próprio realizador, nas
comunidades desfavorecidas do Rio de Janeiro, revelam um à-vontade com a câmara
digno de nota.
Os consagrados Wagner
Moura (José Ângelo), Selton Mello (Frederico) e Stepan Nercessian (António
Santos) fazem jus aos seus pergaminhos. Já, Martin Sheen (padre
Juilliard) e Rooney Mara (Olivia), por insuficiências de roteiro – ainda que
não comprometendo –, pouco ou nada acrescentam ao enredo.
Um filme razoável
e cheio de actualidade, num Brasil que reclama por direitos e Justiça, dada a
proximidade temporal com as eleições presidenciais e com os protestos sociais que
correram mundo durante o Mundial de Futebol.
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