Título Original: La Chambre Bleue
Título Nacional: O Quarto Azul
Argumento: Mathieu Almaric e Stéphanie Cléau
Realização: Mathieu Almaric
Fotografia: Christophe Beaucarne
Montagem: François Gédigier
Música: Grégoire Hetzel
Produção: Paulo Branco
Para quem aguardava, avidamente, pela segunda longa-metragem
de Mathieu Almaric – não como actor, mas sim enquanto realizador – O Quarto Azul estará longe de ser um
desapontamento, porém, comporta-se demasiado como um quadro azul: belo; mas
estagnado, frio, sem o carácter sanguíneo que – surpreendentemente, para um thriller com homicídios e sangue de
mordidas nos lábios – o poderia fazer uma obra superior ao que é.
Baseado no livro homónimo de Georges Simenon, um dos mestres
do policial, esta narrativa fílmica relata-nos, num misto de analepses e prolepses, avanços
e recuos na linha temporal da trama, as atribulantes aventuras e desventuras,
carnais e judiciais, de dois adúlteros: Julien Gahyde (o próprio Mathieu Almaric) e
Esther Despierre (Stéphanie Cléau).
Assim, saltando entre os seus momentos de intimidade, num quarto
azul, e os desenvolvimentos de um processo criminal que termina num quarto azul
– cor da sala do tribunal em que ambos são julgados – deparamos com um filme
que começa e se mantém numa toada lenta, propícia à contemplação das imagens e
das suas cores.
É logo no início, durante as cenas em que Julien e Esther se
descobrem sexualmente, emolduradas pelo anil de quatro paredes, que nos
apercebemos de que Mathieu Almaric está preocupado, acima de tudo, com o
enquadramento.
Tamanha é a inquietação com o espaço de representação que, nesse erotismo exordial, nos vamos relembrando de telas emblemáticas e famosas, como se
estas fossem as suas versões em movimento. É difícil não recordar A Origem do
Mundo, de Courbet, ainda que com a pequena adição de uma mosca.
Aliás, as moscas estão presentes em vários planos de pormenor,
o que origina um mistério dentro do mistério: o que será que Almaric pretende
com o recurso a um bicho associado ao sujo e à morte? Será isso? A sujidade da traição? As
mortes que se avizinham? O certo é que, não criando grande imersão emocional,
esta película leva-nos a desejar ser uma pequena mosca, capaz de se infiltrar em todos os lugares, para saber o que realmente
se passou.
E é isso que verdadeiramente se pode apontar a O Quarto Azul:
a falta de vibração nos momentos de maior tensão; a carência de algo que nos
puxe para dentro do enredo e nos faça sentir, em plena arritmia, o desespero e
as comoções de Julien, ao enfrentar a perda, a manipulação feminina e a injustiça.
Um bom filme, que deve ser visto e que me fez sair com um sorriso
nos lábios, pois permite, facilmente, associá-lo a outras obras de arte pictórica.
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