9 de outubro de 2014

Matem o Mensageiro - Crítica


FICHA TÉCNICA:
Título Original: Kill the Messenger 
Título Nacional: Matem o Mensageiro 
Realização: Michael Cuesta 
Elenco: Jeremy Renner, Mary Elizabeth Winstead, Robert Patrick, Paz Vega, Jena Sims, Lucas Hedges 
Argumento: Peter Landesman 
Facebook: https://www.facebook.com/OsFilmesdaZonaIndie 
NOS| EUA | 2014 | Biográfico, Crime, Drama | 112′


Opinião por João Salvador Fernandes:
Ne nuntium necare (não mate o mensageiro), assim apela o vetusto e sensato brocardo latino, tantas vezes repetido para evitar que os arautos de más notícias sejam responsabilizados pelos erros e desmandos de outrem. Um adágio, porém, claramente contrariado pela ordem presente no título deste filme, “Matem o Mensageiro” (Kill The Messenger), que conta a história de Gary Webb (Jeremy Renner), o jornalista e desafortunado heraldo que expôs as ligações entre a CIA, o tráfico de droga e o financiamento dos grupos guerrilheiros da Nicarágua (Los Contras) que se opunham à Frente Sandinista de Liberación Nacional.
Jeremy Renner desempenha – com competência, dedicação e credibilidade, mas sem brilhantismo – um Gary Webb, personagem principal e força motriz da narrativa, que se vai transformando em face dos acontecimentos desencadeados pela publicação da sua descoberta: de pai de família e repórter divertido e relaxado, passando a homem perseguido por agentes federais e abandonado pelos seus colegas e companheiros de profissão; de periodista respeitado e galardoado, a alguém irado e amedrontado, contudo, perseverante e obstinado, à medida que vai observando a sua vida a desmoronar-se, enredada pelas malhas de uma campanha de difamação e apoucamento que lhe é movida por quem tem a missão de o servir e proteger.
Salienta-se, também, a performance de Lucas Hedges (Ian Webb), que representa o filho mais velho de Gary: consistente e, principalmente, convincente, no parco espaço que lhe foi conferido para demonstrar as suas capacidades.
Visualmente, “Matem o Mensageiro” é uma obra bastante interessante, mesmo que sem arrojo ou inovação artísticas. A utilização de cores esbatidas e estilizadas relembra os filmes da época (anos 80 e 90), e o intervalar da narração com revistas de imprensa e excertos de momentos noticiosos televisivos intensificam a verosimilhança do que nos é relatado.
 Michael Cuesta (o realizador), adoptando, aqui e acolá, um estilo de filmar muito próximo do jornalístico e documental, não olvida planos esteticamente bem-conseguidos, posto que comuns e repetitivos, nem algum jogo entre luz e sombra; contribuindo, deste modo, para esclarecer e densificar os contextos.
Infelizmente, determinadas cenas de tensão são demasiado curtas para quem as gosta de saborear, o que lhes retira energia; e alguns dos diálogos no seio familiar de Gary – mormente, no início de “Matem o Mensageiro” – soam ligeiramente artificiais.
É, sem dúvida, uma homenagem a um ser humano que não se deixou vergar pelo temor, mas que peca por uma excessiva, se bem que intencional, dependência da personagem principal.
Em suma, uma longa-metragem baseada em factos verídicos, na qual se exploram temas como a geopolítica, a corrupção e a hipocrisia, e nos é pedido que reflictamos sobre se a verdade é um valor absoluto que justifica todos os sacrifícios pessoais, profissionais e familiares para vir ao de cima, bem como que nos questionemos acerca da admissibilidade ético-moral do princípio maquiavélico de que “os fins justificam os meios” – especialmente, se praticado por quem deve prover pelo nosso bem-estar –, enquanto nos ensina que os nossos actos têm repercussões: umas justas, outras nem tanto.
A ver!

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