FICHA TÉCNICA:
Título Original: Kill the Messenger
Título Nacional: Matem o Mensageiro
Realização: Michael Cuesta
Elenco: Jeremy Renner, Mary Elizabeth Winstead, Robert Patrick, Paz Vega, Jena Sims, Lucas Hedges
Argumento: Peter Landesman
Facebook: https://www.facebook.com/OsFilmesdaZonaIndie
NOS| EUA | 2014 | Biográfico, Crime, Drama | 112′
Opinião por João Salvador Fernandes:
Ne nuntium necare (não
mate o mensageiro), assim apela o vetusto e sensato brocardo latino, tantas
vezes repetido para evitar que os arautos de más notícias sejam
responsabilizados pelos erros e desmandos de outrem. Um adágio, porém,
claramente contrariado pela ordem presente no título deste filme, “Matem o Mensageiro”
(Kill The Messenger), que conta a
história de Gary Webb (Jeremy Renner), o jornalista e desafortunado heraldo que
expôs as ligações entre a CIA, o tráfico de droga e o financiamento dos grupos
guerrilheiros da Nicarágua (Los Contras)
que se opunham à Frente Sandinista de
Liberación Nacional.
Jeremy Renner desempenha – com competência, dedicação e
credibilidade, mas sem brilhantismo – um Gary Webb, personagem principal e
força motriz da narrativa, que se vai transformando em face dos acontecimentos
desencadeados pela publicação da sua descoberta: de pai de família e repórter
divertido e relaxado, passando a homem perseguido por agentes federais e
abandonado pelos seus colegas e companheiros de profissão; de periodista respeitado
e galardoado, a alguém irado e amedrontado, contudo, perseverante e obstinado,
à medida que vai observando a sua vida a desmoronar-se, enredada pelas malhas
de uma campanha de difamação e apoucamento que lhe é movida por quem tem a
missão de o servir e proteger.
Salienta-se, também, a performance de Lucas Hedges (Ian
Webb), que representa o filho mais velho de Gary: consistente e,
principalmente, convincente, no parco espaço que lhe foi conferido para
demonstrar as suas capacidades.
Visualmente, “Matem o Mensageiro” é uma obra bastante
interessante, mesmo que sem arrojo ou inovação artísticas. A utilização de
cores esbatidas e estilizadas relembra os filmes da época (anos 80 e 90), e o
intervalar da narração com revistas de imprensa e excertos de momentos
noticiosos televisivos intensificam a verosimilhança do que nos é relatado.
Michael Cuesta (o
realizador), adoptando, aqui e acolá, um estilo de filmar muito próximo do
jornalístico e documental, não olvida planos esteticamente bem-conseguidos, posto
que comuns e repetitivos, nem algum jogo entre luz e sombra; contribuindo,
deste modo, para esclarecer e densificar os contextos.
Infelizmente, determinadas cenas de tensão são demasiado
curtas para quem as gosta de saborear, o que lhes retira energia; e alguns dos
diálogos no seio familiar de Gary – mormente, no início de “Matem o Mensageiro”
– soam ligeiramente artificiais.
É, sem dúvida, uma homenagem a um ser humano que não se
deixou vergar pelo temor, mas que peca por uma excessiva, se bem que
intencional, dependência da personagem principal.
Em suma, uma longa-metragem baseada em factos verídicos, na
qual se exploram temas como a geopolítica, a corrupção e a hipocrisia, e nos é
pedido que reflictamos sobre se a verdade é um valor absoluto que justifica
todos os sacrifícios pessoais, profissionais e familiares para vir ao de cima,
bem como que nos questionemos acerca da admissibilidade ético-moral do
princípio maquiavélico de que “os fins justificam os meios” – especialmente, se
praticado por quem deve prover pelo nosso bem-estar –, enquanto nos ensina que
os nossos actos têm repercussões: umas justas, outras nem tanto.
A ver!
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