Título: Jardins de Canela
Autor: Shyam Selvadurai
Editora: Bizâncio
Sinopse:
No elegante, mas sufocante mundo da classe alta de Ceilão (Sri Lanka),
no início do século passado, duas pessoas solitárias, Annalukshmi e o
seu tio Balendran, têm que escolher entre a felicidade pessoal e a
provável destruição de outras vidas. Uma sonha com a independência, ao
mesmo tempo que a sua família tenta, obcecadamente, arranjar-lhe o
casamento adequado, enquanto o outro, um respeitável marido e pai, se vê
confrontado com o passado e os seus desejos mais íntimos. Sensual e
cativante, Jardins de Canela é um romance arrebatador que fala de
emoções proibidas e da força interior daqueles que tentam não só
resistir às pressões da sociedade, mas também lutar para alcançar a sua
própria felicidade.
Opinião por Nadia Filipa Salgado Batista:
Sair um bocado do pequeno mundo do
qual eu gosto de ler. Aventurar-me um bocadinho mais além. No início deste ano,
foi com Isabel Allende e a sua América do Sul. Agora, pela primeira vez, deixei
Shyam Selvadurai encaminhar-me pelo mundo do Ceilão e dar-me a conhecer este
pais, as suas pessoas, os seus costumes, o seu vocabulário, no início do século
passado. Estava um bocado insegura relativamente a viajar para tão longe mas
depois de conhecer os Jardins de Canela, rendi-me completamente.
Temos duas histórias distintas:
Annalukshmi e a sua independência, numa altura em que as mulheres não estavam
ao nível dos homens. Balendran e o seu terrível segredo, e a forma como isso
moldou a sua vida. Pessoalmente, gostei mais da história de Balendran, pois
embora a luta de Annalukshmi fosse complicada, não estava sozinha nisso, ao
passo que Bala carregava sozinho o fardo do seu segredo, descoberto muitos anos
atrás pelo seu temível pai, para grande vergonha de ambos. Para além do mais,
Bala tem uma lealdade absoluta para com o pai, o que rege a sua vida e vai
contra as suas crenças, mas que não é abalada.
Ao longo do livro construímos
expectativas em relação aos personagens. Com Annalukshmi estive dividida: por
vezes torcia pela sua independência, outras vezes pela sua vida amorosa. Com
Bala, quis fortemente que pudesse ser feliz com o seu segredo. Ao longo das
lutas internas destes personagens, deparamo-nos também com uma luta na
sociedade, uma luta de igualdades, a soberania do império, e como isso afecta
positiva e negativamente o estilo de vida de todos.
Cada capítulo começa com um verso
retirado do Tirukkarul, o que enriquece bastante o livro. Algumas frases não
nos dirão nada, mas outras encaixam-se perfeitamente em nós... E há ainda uma
expressão extremamente engraçada usada no livro, os amigos de Oscar. E mais não
posso dizer!
Shyam Selvadurai presenteia-nos com
descrições completas que nos transportam para mais perto deste mundo: as casas,
as decorações, os saris, os jardins, os ambientes... Recorre imenso ao uso de
expressões locais, o que pode complicar um pouco, mas nada de preocupante.
Deixa-nos ainda um fim não acabado, pelo menos para uma das personagens. Não
irei dizer qual, leiam o livro e descubram. Fiquei um pouco triste por não ter
um final sério; por vezes é bom, pois nós enquanto leitores podemos tirar as
nossas próprias conclusões, mas no caso de Jardins de Canela, fiquei com uma
sensação um pouco amarga, por não saber ao certo o destino das personagens.
É um romance brilhantemente escrito,
rico em descrições que apelam aos nossos sentidos, e que nos leva para países e
culturas distantes, numa época que já lá vai."
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