Autor: Andrew Davidson
Editora: Caderno
Sinopse:
O belo e atormentado narrador de A Gargula conduz numa estrada sinuosa quando é ofuscado pelo que parecia ser uma saraivada de setas. Despenha-se numa ravina e acorda numa unidade de queimados, sofrendo as torturas dos condenados. É agora um monstro. A sua vida acabou.Mas está apenas a começar: um dia, Marianne Engel, uma encantadora e indomável escultora de gárgulas, entra no seu quarto e revela-lhe que foram amantes na Alemanha medieval: ele, um mercenário que sofrera terríveis queimaduras; ela, uma freira escriba no famoso mosteiro de Engelthal, onde lhe prestara cuidados de enfermagem. À medida que se desenrola a sua história, qual Scherazade, e relata outras histórias igualmente fantásticas de amor imortal no Japão, Islândia, Itália e Inglaterra, o narrador é devolvido à vida e, por fim, ao amor. A Gargula é um romance extraordinário que levará o leitor numa metamórfica e original viagem. Fá-lo-á acreditar no amor, em milagres e na rendição. O mais extraordinário romance de estreia da última década: uma fascinante história de amor sobre o poder libertador do sofrimento, que transcende os limites do nosso tempo e espaço.
Opinião por Maria Costa:
E
agora? O que posso dizer de um livro que tanto “mexeu comigo” e com as minhas emoções?
Talvez começar pelo início ou melhor pela minha relação inicial com este livro.
Confesso que foi uma relação estranha de amor/ódio, atracção/repulsa! Nunca
tinha ouvido falar dele nem do seu autor. Posteriormente fiz alguma pesquisa e
soube que era o seu primeiro livro, que levou 7 anos a ser escrito e que foi um
sucesso de vendas no seu país de origem, o Canadá. Nada disto teve porém
interferência ou influência na minha opinião sobre o mesmo.
Como
dizia, foi uma relação estranha de início, Vi o livro pela primeira vez na mão
do meu irmão e parecia exercer sobre mim uma estranha atracção… mas quando
olhava a capa e a sinopse, pensava: Nah! Isto não é para mim… A capa exibe um
corpo tatuado e é em tons de fogo. Não gosto de tatuagens e tenho um pavor
doentio do fogo! O primeiro parágrafo da sinopse também não me atraía: o fogo,
novamente! O título também não me agradava. Não gosto de gárgulas, pronto! E
voltava a pousá-lo sem me dar ao trabalho de continuar sequer a ler a sinopse.
Mas o maldito do livro parecia atravessar-se sempre no meu caminho e isto
aconteceu por diversas vezes.
Finalmente
o meu irmão acabou de o ler. Estranhei que o tivesse feito em menos de uma
semana, porque, não é um leitor compulsivo como eu e normalmente demora o seu
tempo a ler um livro, mas desta vez tinha “devorado” o dito! Quando lhe
perguntei o que tinha achado disse-me que tinha gostado bastante e vi que esse
“ter gostado” era genuíno. Por muito que lhe perguntasse sobre o que tratava
nunca me disse. Disse-me para o ler! Diabo! Que se passará com o livro? Comecei
a ficar curiosa e resolvi dar-lhe uma oportunidade senão ficar-me-ia
atravessado em qualquer lugar da mente para o resto da vida! Voltei a ler uma
vez mais a sinopse e desta vez passei ao segundo parágrafo. Vidas passadas,
reencarnação… hum! Isto já me parece interessante!
É uma
introdução extensa, mas é importante para se possa perceber melhor a minha
opinião sobre este livro.
Comecei
a ler, mas sem muita esperança de que conseguisse chegar ao fim. E a verdade é
que as primeiras páginas quase me fizeram desistir. Felizmente sou teimosa como
uma mula e aguentei o suplício e… valeu a pena, todo e cada segundo que passei
a lê-lo. Não é uma leitura fácil, é um livro estranho, mas aquele tipo de
estranheza do género: primeiro estranha-se, depois entranha-se! E foi
exactamente isso que aconteceu comigo.
As
primeiras páginas são difíceis. É escrito na primeira pessoa e o narrador
começa por nos descrever o que lhe vai acontecendo, começando pelo acidente no
qual sob o efeito do álcool e de drogas que lhe provocam alucinações, se
despenha terminando no fundo de uma ravina preso dentro de um carro em chamas.
E foi aqui que precisei de muita força para continuar, porque descreve de forma
exaustiva e demasiado minuciosa cada momento do acidente, cada detalhe, cada
labareda que invade o seu corpo, cada sensação, cada dor sentida… e prossegue
com a descrição igualmente exaustiva e pormenorizada de todo o procedimento
médico a que foi sujeito na ala de queimados do hospital para onde foi levado.
Ao mesmo tempo, vai-nos revelando um pouco da sua vida antes do acidente e
começamos a entendê-lo melhor, a entender todo o seu desapego à vida e todos os
seus sentimentos (e ressentimentos) em relação ao seu corpo agora completamente
destruído. Começa o seu inferno pessoal! Vai fazendo a sua narração de forma
irónica e cínica, aliás da forma como sempre viveu, não deixando contudo de por
vezes ser quase poética! Como disse estas primeiras páginas são difíceis e é
preciso alguma força de vontade para as ultrapassar, mas depois… depois só
pensava que não queria que o livro chegasse ao fim! Queria poder saborear mais
e mais de algo que começava a parecer-me verdadeiramente arrebatador!
E
quando Marianne Engel (apresentada sempre com o nome completo), a escultora de
gárgulas, entra na unidade de queimados a leitura torna-se uma autêntica
montanha russa: Põe-nos a cabeça a andar à roda, mas não queremos parar!
Marianne, do nada diz-lhe que tinham sido amantes na Alemanha medieval e que
nessa altura ele tinha também sido severamente queimado e ela tinha sido a sua
enfermeira. E aqui começa a verdadeira aventura, com Marianne, qual Scherazade
a contar-lhe a história das suas vidas passadas, misturando-as com outras
histórias (todas de amor e sacrifício) que nos agarram pela mão e nos levam a
lugares como a Alemanha medieval, ao Japão (a história da japonesa Sei), à Islândia (a história do viking Singuror), à Itália (a história de Francesco e de
Graziana), a Inglaterra (a história de Vicki) ao mesmo tempo que vamos
acompanhando a sua recuperação física. Este
livro é também isso: muitas histórias dentro de uma história!
As
histórias de Marianne Engel são contadas de tal forma, que se tornam
arrebatadoras e que tornam quase impossível pousar o livro. Consegue levar-nos
para dentro delas a tal ponto que quando terminam parece que o ar nos foi
sugado e sentimos o coração a bater tão desordenadamente que nos parece que
acabámos realmente de chegar de uma viagem fantástica! Não encontro palavras
para descrever as sensações que se têm durante estas histórias. Só sentindo-as
se compreendem!
E com
estas histórias Marianne vai devolvendo ao nosso herói (ou anti-herói) aos
poucos a vida! Não sem que por vezes ele consiga arrastar-nos até às profundezas
do Inferno (não é por acaso que são feitas inúmeras referências ao Inferno de
Dante). Mas aos poucos é devolvido à vida e ao amor! É preciso por vezes
atravessar o Inferno para que se possa ter um vislumbre do Paraíso!
Para além
do narrador e da “nossa” Scherazade conhecemos outras personagens que de uma
forma ou outra são importantes para o narrador, e todas elas parecem saltar das páginas para nos arrastarem de seguida para dentro delas e de repente é realmente como se estivéssemos lá, com elas!
O
livro envolve-nos emocionalmente embora nem sempre da melhor forma ou a mais
suave, mas é acima de tudo uma história de segundas oportunidades, de redenção,
de amizade e de amor.
Gostei
muito da escrita. É
um dos livros mais bem escritos
e mais bem conseguidos que li nos
últimos tempos. Os sete anos que levaram a sua criação, valeram a pena. É um daqueles livros que permanece em nós mesmo muito tempo depois de terminado e que torna difícil a
escolha do próximo a ler.
Depois de tanto escrever continuo a achar que não há palavras
suficientes e que todas as que consegui escrever não conseguem descrever a
sensação que se tem ao ler o livro, por isso digo apenas mais isto: Só quando
lerem vão conseguir entender tudo o que quis dizer. É definitivamente um livro que recomendo
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