23 de março de 2014

Opinião - Ricochete

Título: Ricochete
Autor: Sandra Brown
Editora: Quinta Essência

Sinopse:
Quando o detetive Duncan Hatcher é chamado à mansão do juiz Cato Laird para investigar uma morte, compreende que a discrição é a chave para manter o seu emprego. Elise, a mulher-troféu do juiz, afirma ter matado a tiro um gatuno em legítima defesa, mas Duncan tem quase a certeza de que ela mente. A investigação que faz ao passado pouco suspeito de Elise convence-o de que ela é mentirosa, manipuladora e, mais do que provavelmente, uma assassina. Mas quando Elise desaparece…
Sem saber em quem acreditar, Duncan vê-se envolvido na investigação de um homicídio que desafia a sua lógica, o seu infalível instinto e a sua inabalável integridade. Não confia em ninguém, exceto na palavra do criminoso que prometeu eliminá-lo. E confia ainda menos na mulher que mais deseja.

Opinião por Vitor Caixeiro:
Quando se pensa que se tem em mãos a pior situação que alguém poderia imaginar, a imprevisibilidade do destino acerca-se e num ímpeto transforma-a em algo, que à primeira vista, é ainda pior. No entanto, essa interferência poderá gerar a solução para os problemas de várias vidas, e ainda assim poderá ser a causa da ruína de outras. 

As repercussões consequentes de uma improvável interligação entre variadas personagens culmina em Ricochete, um maravilhoso e inquietante policial que transpõe surpreendentemente nas suas páginas a imagem da criminalidade, fruto de  injustiças e manipulações, mas em paralelo conduz-nos por um caminho no qual fulgura uma ardente e impertinente paixão nascida dum improvável cenário.


O começo desta narrativa surge quando Duncan Hatcher, um detective policial, enfrenta um difícil caso ao qual não consegue aplicar um desfecho satisfatório. A revolta acerca-se de Duncan, mas nada se compara com o que terá de lidar quando surge uma inesperada e estranha reviravolta. A partir de uma morte que poderá tanto ser um acidente como um homicídio premeditado, o detective  envolve-se numa misteriosa teia de acontecimentos que tentará desvendar com o apoio da sua companheira, DeeDee, e dos restantes agentes policiais. Mas como poderão eles alcançar a verdade quando a testemunha do crime se revela pouco plausível, ou pior, a mais provável suspeita? E à medida que pensam alcançar conclusões, surgem surpresas com que não contavam, e torna-se difícil percepcionar quem é culpado e quem é inocente.

O conjunto de personagens está maravilhosamente bem construído. Por um lado, tem-se Duncan, o detective bem formado e astuto que se apresenta como a personagem principal da história. Inicialmente, Duncan aparenta uma faceta rebelde, mas revela-se ao longo dos capítulos um indivíduo centrado nos seus ideais, incapaz de os violar, o que irá constituir um intenso dilema aquando da resolução do caso. Extremamente obcecado com a justiça, Duncan faz de tudo para deslindar quaisquer delitos ou infracções à lei tendo em conta os valores morais com que foi educado. Em paralelo, é-nos introduzida  DeeDee, uma figura bastante irónica, hirta, ainda assim sensível, que oferece alguns episódios mais descontraídos quando a tensão se direcciona a ser elevada. Mas sem dúvida, aquela que constitui a intriga de toda a acção é Elise, a mulher do juiz dotada de atributos físicos que deslumbram qualquer homem (incluindo Duncan) na qual reside uma fatal ambiguidade: será ela o que alega e o que aparenta ser ou esconderá em si a mentira, aquilo em que Duncan não quer acreditar? Incessantemente somos confrontados com ambas as possibilidades, sendo impossível de averiguar a verdade até à derradeira revelação. Brown conseguiu admiravelmente manter a dúvida acerca de Elise, tornando-a a personagem mais curiosa e intrigante em todo o livro.

A forma como Sandra Brown arquitectou esta história é notável. Apresentando aos poucos novas situações e novas personagens, a autora cria um enredo que naturalmente se vai desenvolvendo e fluindo. Sem desvendar repentinamente os mistérios, os mesmos acumulam-se e intrigam cada vez mais o leitor que deseja conhecer o que de facto aconteceu e o porquê de ter acontecido.

Brown mantém um bom ritmo em toda a obra através de uma escrita muito acessível que facilmente é absorvida. Uma vez que se trata de um policial com uma certa dose de romantismo, é obrigatório um relato acelerado característico de uma trama policial mas que também evidencie um narrar algo descritivo, particularmente nos momentos mais sentimentais. Agradou-me o equilíbrio que a autora estabeleceu entre estes dois factores, recorrendo ao romantismo quando necessário, sem grandes exageros, e mantendo a vertente policial sempre presente.

De um modo menos bom, o final não foi aquele que previra. Não que tivesse em mente um desfecho específico, mas pensava que seria mais imprevisível e arrebatador do que, de facto, foi. Além disso, o engenho que foi concebido para terminar o livro foi, a meu ver, demasiado audaz para resultar numa situação semelhante na vida real. Apesar disso, foi agradável assistir à entrega emocional de cada personagem que culminou de uma forma mais aprazível para umas e menos para outras.

Este livro foi uma deliciosa surpresa, recheada de bons elementos entre os quais se destacam as elaboradas personagens. Um policial diferente, ainda assim detentor de atributos característicos do género, que sem dúvida me conquistou. Fica o desejo de experimentar outros trabalhos da autora que, espero, sejam tão bons ou melhores que Ricochete.
 

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