Título: A Brisa do Oriente
Autor: Paloma Sánchez-Garnica
Editora: Saída de Emergência
Sinopse:
Em 1204, acompanhando o seu abade, Umberto de Quéribus, um jovem monge de Cister, inicia uma viagem que o levará a Constantinopla. A partir desse momento, arrastado para perigos e situações extremas, em que perde a candura infantil, a sua vida muda completamente.
Durante a viagem de regresso ao mosteiro, conhece a insensatez da guerra, a violência desmedida e a imoralidade da avareza. Toma igualmente consciência das verdadeiras consequências da obediência cega e da enorme incerteza na destrinça do que está bem e do que está mal, imerso numa luta constante entre o que lhe ensinaram e o que de facto sente. É atingido pela flecha do amor indomável e adolescente e descobre o desassossego provocado pelo sentimento de culpa, o ferrão do ressentimento e, sobretudo, o sentido mais profundo da amizade, encarnada no cavaleiro Esteban de Clary e no monge Roger, com quem aprenderá o significado da cultura, a importância do que se escreve e a influência e o poder do copista ao manejar, alterar ou mudar completamente o texto escrito. A sua aproximação inconsciente à heresia acaba por colocá-lo em perigo, ao ponto de se ver obrigado a abandonar o mosteiro depois de ver a catástrofe semeada à sua volta.
Durante a viagem de regresso ao mosteiro, conhece a insensatez da guerra, a violência desmedida e a imoralidade da avareza. Toma igualmente consciência das verdadeiras consequências da obediência cega e da enorme incerteza na destrinça do que está bem e do que está mal, imerso numa luta constante entre o que lhe ensinaram e o que de facto sente. É atingido pela flecha do amor indomável e adolescente e descobre o desassossego provocado pelo sentimento de culpa, o ferrão do ressentimento e, sobretudo, o sentido mais profundo da amizade, encarnada no cavaleiro Esteban de Clary e no monge Roger, com quem aprenderá o significado da cultura, a importância do que se escreve e a influência e o poder do copista ao manejar, alterar ou mudar completamente o texto escrito. A sua aproximação inconsciente à heresia acaba por colocá-lo em perigo, ao ponto de se ver obrigado a abandonar o mosteiro depois de ver a catástrofe semeada à sua volta.
Opinião por Mónica Alexandra Pinho da
Silva:
Esta
obra, dividida em dois volumes de soberba qualidade, narra a história de Umberto de Quéribus, um jovem monge cujo percurso de vida
semeado de perigos e inesperadas reviravoltas forçam o seu crescimento e a
perda da sua candura infantil. A autora promove constantemente o contacto de
Umberto com situações extremas que lhe permitem analisar o sentido da sua vida
e põem em causa a manutenção da sua fé.
Como pano de fundo de toda a
narrativa, destaca-se uma notável caracterização da Europa Medieval do séc.
XIII, uma época delineada pela violência e intolerância religiosa. A origem da
Inquisição, descrita no segundo volume, fortalece ainda mais esta perceção, na
medida em que o clero aumenta o seu poder sobre a vida e a morte dos seus
súbditos. Toda a trama é descrita de uma forma intensa, empolgante e sem
pudores desnecessários, retratando fielmente uma época negra da História da
Humanidade.
Ao
longo desta narrativa encontra-se patente um paralelismo entre os membros do
clero que promovem este poder desmedido, não apresentando quaisquer valores
éticos ou morais e potenciando atos hediondos, e aqueles que ousam questionar
estas atitudes em prol do que consideram correto. A desilusão de Umberto
perante as ações dos que se consideram os “verdadeiros cristãos” e da
crueldade, ganância e insensatez da igreja católica, fornece-lhe uma nova
perceção do mundo que o rodeia. Assim, Umberto, ao longo da sua jornada,
interroga-se acerca da legitimidade de perseguir crenças distintas – ditos
“hereges” – quando os seus detentores apenas pretendem viver uma vida pacífica
e muitas vezes mais moral do que o próprio clero.
Neste sentido, surge uma
questão bastante atual: será que crenças diferentes não poderão coexistir
pacificamente? Tudo isto facilita o distanciamento de Umberto da obediência
cega e dos ensinamentos rígidos que apresenta no primeiro volume, culminando
numa consciência mais abrangente da sociedade em que vive.
A
autora é também exímia na criação de personagens com as quais se torna fácil
desenvolver uma relação, na qual sofremos com as injustiças e as perseguições
aos inocentes, perpetradas em prol do fanatismo religioso, e rejubilamos quando
os planos dos vilões fracassam. De igual modo, esta obra possui o típico
romance impossível mas com uma pureza que nos faz torcer por um final feliz. No
fundo, esta é uma narrativa acerca, não apenas da capacidade de ultrapassar as
injustiças de uma era, mas principalmente do sentido profundo da amizade e do
amor.
O desfecho foi talvez um pouco previsível e algo banal, pois
considero que o resto do argumento teria potencial para um final com maior
impacto. Contudo, não deixa de constituir um romance histórico verdadeiramente
notável, cuja leitura recomendo vivamente.
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