11 de março de 2013

Opinião - Demência

 
Título: Demência
Autor: Célia Correia Loureiro
Editora: Alfarroba

Sinopse:
No seio de uma aldeia beirã, Olímpia Vieira começa a sofrer os sintomas de uma demência que ameaça levar-lhe a memória aos poucos. A única pessoa que lhe ocorre chamar para assisti-la é a sua nora viúva, Letícia. Mas Letícia, que se faz acompanhar das duas filhas, tem um passado de sobrevivência que a levou a cometer um crime do qual apenas a justiça a absolveu.
Perante a censura dos aldeões, outrora seus vizinhos e amigos, e a confusão mental da sogra, Letícia tenta refazer-se de tudo o que perdeu e dos erros que foi obrigada a cometer por amor às filhas. O passado é evocado quando Sebastião, amigo de infância de Olímpia, surge para ampará-la e Gabriel, protagonista da vida paralela que Letícia gostaria de ter vivido, dá um passo à frente e assume o seu papel de padrinho e protector daquelas três figuras solitárias…

Opinião por Andreia Silva:
A literatura nacional tem vindo a crescer e, felizmente, no sentido positivo. É de dar os parabéns a estas novas editoras que se comprometem a tirar da gaveta manuscritos e sonhos.

Célia Correia Loureiro oferece-nos este "Demência" onde somos incitados a mergulhar na história de Olímpia e de Letícia, duas mulheres que não se suportam, que têm gerações de diferença, mas que no fundo são iguais e por isso, por compreenderem as dores de cada uma, chocam.

É incrível pensar que em pleno século XXI ainda haja mentes tão retrógradas e que, naquela aldeia, se pense como no século passado. Porque eu sei que isto é ficção mas é um ficção que espelha a realidade, infelizmente. Durante todo o livro indignei-me com aquela mesquinhez e aquele pensar pequenino daqueles aldeões, apesar de saber que não têm culpa mas têm a desculpa do "sempre foi assim".

Adorei as meninas: a Luz e a Maria! A Luz é tão forte e aquela protecção que ela exerce sobre a irmã mais nova e, muitas vezes, sobre a mãe é enternecedora e tenho a certeza que ela será uma grande mulher. Sim, este livro fez-me querer saber mais sobre as personagens, mas tenho a certeza absoluta de que o futuro dela só pode ser feliz! E a Maria imagino-a como uma criança que dá vontade de apertar as bochechas. E nome melhor não poderia ter sido escolhido.

Isto não é apenas um relato da demência que a doença de Alzheimer traz à vida de uma pessoa, mas também é um relato de violência doméstica e de sobrevivência. Porque a demência não existe apenas quando a doença bate a porta, por vezes a demência de uma pessoa manifesta-se quando ela agride física e psicologicamente quem, supostamente, deveria cuidar.

É um livro extremamente bem pensado, bem construído e, acima de tudo, extremamente bem escrito. É um gosto ler livros de uma escritora tão nova deste calibre. E saber que por ela ser tão nova, iremos ter muitos anos de livros do nível deste "Demência"!
 

Sem comentários: