12 de setembro de 2012

Opinião - Temos de Falar sobre o Kevin



 
Título: Temos de Falar sobre o Kevin
Autor: Lionel Shriver
Editora: Bertrand Editora

Sinopse:
Eva nunca quis ser mãe, especialmente de Kevin, que há dois anos matou sete colegas da escola, um funcionário do bar e uma admirada professora que tentou compreendê-lo. Tudo isto dois dias antes de completar dezasseis anos, e agora o rapaz vive numa prisão temporária para jovens delinquentes. Ao contar a história do filho em cartas endereçadas ao marido, agora separado dela, Eva expõe os seus receios face à maternidade e à influência que pode ter exercido no desenvolvimento da personalidade de Kevin. Até que ponto poderá ela ser culpabilizada?

Opinião por Tiago Rafael Amaro Ramos:
Este é um livro francamente corajoso, ao mesmo tempo que é perturbador e que consegue "agarrar" o leitor até ao fim. Escrito na primeira pessoa, traça um retrato sociológico interessante tanto da vida nos subúrbios norte-americanos como também de algo bem mais como complexo, como a sociopatia ou a educação das crianças. Entre várias fases do livro, uma das que mais se destaca é a inicial onde encontramos um retrato honesto de uma mãe que não se sente assim tão próxima do seu filho, uma mãe que de modo franco relata «nasceu-me um filho e nada senti». O melhor do livro é precisamente o estilo honesto com que o faz (e realmente creio que os laços de sangue não são tudo e que os sentimentos de uma mãe para com um filho não são assim tão lineares e inocentes como um amor incondicional), sem também nunca recriminar a mãe pelas suas acções. Ao mesmo tempo que aparenta "demonizar" a criança/adolescente, também permite estabelecer o retrato de algo que hoje em dia já começa também a ser estudado que é o facto de as crianças desde bem tenra idade poderem começar a demonstrar traços de sociopatia. E faz tudo isto sem recriminar a educação, sociedade e afins, estabelecendo uma ligação biológica, mas sem lhe atribuir 100% das culpas.
Pena que o final pareça atabalhoado, começando a criar uma espécie de redenção nas personagens e uma série de explicações excessivas que até então eram apenas subentendidas. Ou seja não conseguiu aguentar até ao fim a coragem com que escrevia, tentando suavizar e justificar para agradar à massa de leitores.
Contudo, é um poderoso livro e um dos mais intensos e perturbadores que já li. Já agora, fica a sugestão da adaptação ao cinema através de um filme homónimo, realizado por Lynne Ramsay e protagonizado por Tilda Swinton e Ezra Miller. Uma adaptação também corajosa, bastante plástica e que altera completamente o formato do livro. Muito bom.

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